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Kindle Unlimited vale a pena? (e outras reflexões sobre ler mais)

Não é chocante para ninguém que eu leio muito:

Minhas estatísticas do Goodreads

(O que aconteceu em 2021? Minha única explicação até o momento é que eu estava tão focado em voltar a dar aulas presenciais, em ser pai e marido, que não tinha cabeça para outras coisas.)

Ler é simplesmente uma prioridade para mim. Eu não acompanho todas as séries, eu leio múltiplos livros por mês. Eu não compro roupas para mim, eu compro livros. Se eu não estou com minha família e não estou trabalhando, eu estou lendo. Não estou tentando evangelizar ninguém; se ler não é importante para você, vá fazer coisas de que você gosta.

Mas se isso é algo que você quer mudar em 2024, então considere o princípio básico de que ler deve ser a sua atividade padrão:

Em termos de quantidade, considere também que a questão dos ebooks está resolvida: leia livros no aplicativo do Kindle no celular que você já tem. Tome muitas notas, realce as suas passagens. Para aqueles que realmente lhe marcaram, compre os livros físicos e releia novamente, dessa vez com muita calma e reflexão.

Nessa linha, uma opção para ter acesso a muitos livros é o programa Kindle Unlimited – por R$19,90 por mês (em janeiro de 2024), você tem acesso a muitos livros para ler a vontade. Vale a pena?

Depende: Kindle Unlimited é uma ferramenta de descoberta, para que quer ler mais, e não para quem já lê bastante e quer mais livros relacionados aos seus livros recentes.

O catálogo é vasto e limitado ao mesmo tempo. Por exemplo, das trilogias de Bernard Cornwell, há geralmente um ou dois livros de cada série, claramente fazendo uma promoção e forçando o leitor a comprar o faltante (vou ter de fazer isso com a sequência de O Rei do Inverno, por exemplo).

Outro grande problema é que a maior parte das ofertas são de ficção popular barata (o mercado de livros eróticos para mulheres está em alta, aparentemente), que obviamente devem ter custado muito pouco para serem licenciados. Todos os livros que aparecem na seção de populares têm a mesma capa, a mesma cara, como se fosse uma produção industrial forçada nos leitores. Eu gosto de ler em quantidade, mas acho que isso é um pouco demais.

Por enquanto, eu pessoalmente vou continuar a assinar. Se compro um livro sobre criatividade, um grande interesse meu, um dia depois o serviço me oferece muitos livros similares – claro, todos de escritores desconhecidos e que parecem auto-publicados, sem edição nenhuma. Mas por R$19,90 (ou o preço de um litro de óleo de girassol), acho que vale a exploração.

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Resenhas de livros

Resenha: O Rei do Inverno

Não deve ser fácil ser Bernard Cornwell.

Talvez ele seja o o maior escritor vivo de ficção histórica, mas que acabou (ou planejou?) totalmente focado na história da Grã-Bretanha. Obviamente em algum momento surgiu a necessidade de contar a história de Artur, líder lendário britânico que, na versão de O Rei do Inverno, não é (oficialmente) rei. Mas como acrescentar algo à história que já foi tantas vezes recontada?

A resposta de Cornwell é acabar com todo o romantismo associado às lendas arturianas. Morgana é feia, mal-humorada, e alguém de quem todo mundo quer distância. Guinevere manipula todo mundo. Lancelot é covarde. Merlin só quer o caos. E o próprio Artur é apresentado como o clássico homem “que as mulheres querem e que os outros homens querem imitar” – até que se casa e vira um idiota. E claro, como todo romance cornwelliano, há muita guerra, mutilação, escorregões na lama, confusão, romances que duram 1 dia, crianças que morrem e ninguém está nem aí.

Apesar de essa tentativa de se diferenciar, é o ponto central do cânone Arturiano – o conflito tríplice entre os druidas celtas, os britânicos descendentes de romanos (e que adoram os deuses romanos) e os cristãos – que torna o livro mais interessante. Derfel, o narrador, se apresenta como um monge contando a sua vida – mas, mantendo o clima de subversão, dizendo a seu superior que está escrevendo o Evangelho em saxão. Logo sabemos que ele era um guerreiro pagão sob Artur; por que a conversão de fé? Num dos pontos altos do livro, Derfel têm de ir a um lugar cheio de feitiçaria dos druidas; a feitiçaria existe mesmo naquele lugar ainda não-cristão, ou apenas é um truque? Grande parte dos problemas de Artur, inclusive, decorre da sua tentativa de agradar todo mundo; se ele promete proteger um bispo, e a sua esposa desfaz o trato e derruba a igreja para construir um templo pagão, quem ter a real autoridade ali?

É quando a violência e caos geral se exageram é que a leitura fica mais chata. Na última parte, eu não parava de me perguntar quando a batalha iria terminar; não há suspense em nenhum momento, já que sabemos que o guerreiro chegou à velhice para contar a sua história.

Mas se eu quisesse suspense, eu não leria mais um livro de Bernard Cornwell, e sobre um personagem tão conhecido ainda. Eu leio para me divertir, para mergulhar naquela época tão interessante, na mente desses personagens tão conhecidos, para viajar por aquela geografia (outra parte importante do romance acontece no lugar que ilustra este post).

Só me falta conseguir decorar os nomes celtas e saxões para os próximos capítulos da saga…

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Resenhas de livros

Resenha: The Information

O que é informação?

Se você precisa dizer um “eu te amo” para a sua cara-metade, e a pessoa está do seu lado, é fácil – aparentemente. Física e biologicamente, o seu cérebro transmite sinais elétricos para as suas cordas vocais, que alteram a pressão do ar que sai dos seus pulmões; essas ondas de pressão se propagam no ambiente à sua volta e chegam ao ouvido da pessoa amada, e o tímpano transforma em sinais elétricos essas vibrações, e o cérebro alheio compreende as suas palavras.

Transmitir mensagens é uma atividade humana desde sempre (de “Perigo!” e “Há comida” a “Vamos no sushi hoje?”), mas há obstáculos. Se o interlocutor está a distância, o estraga-prazeres do atrito não vai deixar a sua voz se propagar por uma distância muito longa. A escrita resolveu parte do problema, mas criou outros: como codificar uma língua inteira em um alfabeto de 26 letras (e mais alguns símbolos, como espaço, pontuação, hífens)? E quando os humanos se acostumam a essa codificação, como transmitir uma mensagem escrita instantaneamente (em caso de guerras ou catástrofes, por exemplo)? E é possível transmitir a voz diretamente – como diabos alguém do outro lado do mar escuta a sua voz? Afinal, o que está sendo transmitido de fato?

É essa a pergunta que James Gleick tenta responder no pesado e excelente The Information (há também uma versão em português) – parte história (dos tambores africanos, da invenção do telégrafo e do telefone, com o clímax natural no início da computação) e parte resumo da Teoria da Informação, como diz o subtítulo. Esse é um livro para aprender, e muito. Você vai conhecer os grandes personagens (inclusive mulheres que deveriam ser mais conhecidos) que contribuíram para a arte de transmitir conhecimento.

A ideia central de The Information é a noção do bit, e as possibilidades do que está sendo transmitido é que determina o número de bits em uma mensagem. Se você precisa armazenar o resultado binário, como uma resposta Sim/Não de uma pergunta, você precisa de 1 bit (1 binary digit). Se você tem até 4 opções, precisa de 2 bits; para 8 opções, 3 bits, e assim por diante. Se você não tem nenhuma escolha, pode economizar bits; uma mensagem (em português) como “apartament” já está completa, já que a única letra a seguir possível é “o”, e você pode economizar pulsos elétricos na hora de transmitir essa última letra.

Uma popular série de brinquedos de heróis de pijama inclui os bonequinhos dos personagens e uma base que funciona com todos eles. Dependendo do personagem que é inserido na base, ela fica de uma cor diferente e emite um som diferente. Como os bonequinhos transmitem a informação para a base? Com um sistema de 3 bits (até 8 bonequinhos são possíveis de diferenciar, portanto), codificados com ressaltos nos pés:

Sistema de 3 bits para codificar a identificação de bonecos em uma base comum (que possui 3 orifícios). Observe que cada personagem tem um padrão diferente, onde cada pino pode estar presente ou não.

Um super jogo de tabuleiro também identifica os cartões com 3 bits:

Obviamente, comecei a prestar mais atenção nessas coisas justamente por estar lendo The Information.

Outro grande ponto alto, e que me deu várias ideias de leituras adicionais (um exemplo de livro centrífugo), é o capítulo sobre biologia e informação. O DNA é um grande código computacional, mas implementado com proteínas. Os meus dois filhos têm olhos claros, coisas que nem eu nem minha esposa temos – porque os nossos corpos só serviram como transmissores dessa informação.

O ponto fraco são os três capítulos finais, que sinceramente parecem mais uma exigência do editor. James Gleick parece forçado a discutir o tal excesso de informação – sendo que já há um excesso de excesso de discussões mais do mesmo. O próprio autor parece pensar que essa discussão não vale a pena.

The Information é um livro que exige bastante conhecimento científico (e gosto que Gleick não tem medo de inserir equações), mas que ensina muita coisa a que está disposto a dedicar as horas.

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Verdades sobre as diferenças entre academia e indústria

Sinto-me um pouco impostor em escrever isso, já que saí da academia sem realmente sair, trabalhando como Engenheiro em um instituto de pesquisa em parceria com empresas. Mas minha rotina atual é muito mais voltada à Engenharia e desenvolvimento (especificamente no meu caso, de software) que a atividades de pesquisa, então acho que posso dar algumas dicas para estudantes (de graduação ou pós-graduação) que estão prestes a enfrentar um pouco da realidade agora.

Verdade #1: o mundo real usa Word e não LaTeX – ou, como se preparar para o mercado

Se você não é estudante de exatas, não vai entender o meu ponto. Mas aqueles que acostumaram a escrever artigos, teses, relatórios etc usando LaTeX, podem se preparar: fora da academia, ninguém sabe o que é isso. Você vai usar Word e passar mais tempo ajustando a posição das figuras que escrevendo texto de fato.

O que leva a um outro ponto, mais profundo: quantas das suas habilidades estão adequadas ao mercado? Como eu sou Engenheiro, minha visão é pragmática: o mercado é a realidade. O mercado não aceita o futuro do pretérito, e não deveria ser de um jeito de outro. O mercado é.

Eu tenho que escrever documentos em Word o tempo todo, e gasto cada segundo desse processo me odiando. O que eu não faço é reclamar e desejar que eu poderia usar LaTeX. Eu tento fazer o serviço bem feito, e aprendendo a me guiar melhor.

Nunca é cedo ou tarde demais para olhar para fora; pesquise vagas de emprego na sua área e veja se você consegue se candidatar para alguma hoje. Se não, o que falta?

Verdade #2: ninguém liga para que linguagem de programação você usa

Se você está terminando a faculdade ou algum curso de pós-graduação hoje, é provável que tenha implementado alguma coisa em alguma linguagem de programação, e talvez esteja orgulhoso das suas habilidades em Python, ou R, ou Matlab. Mas você sabe o que acontece? Gerentes usam Excel e querem ver relatórios e apresentações (voltando ao ponto anterior: você consegue criar uma planilha ou apresentação razoável em algumas horas?), e não sabem o que é Python.

É claro que você deve aprender programação. Mas você deve aprender programação, e não linguagens de programação. Se você precisa analisar dados para um relatório, então o produto a ser produzido é um gráfico, e não o seu programa. Se você consegue fazer o gráfico sozinho em Python, então crie o programa que analise os dados e siga em frente. Mas se a sua equipe já usa R para analisar os dados automatizados de algum sensor, o quão preso você está em Python?

No vídeo abaixo, Chris Lattner, criador de compiladores e linguagens de programação, é bem direto: clientes não ligam para o programa que você criou, eles ligam para o problema que o seu programa resolve.

Chris Lattner falando sobre habilidades de programação e como o que importa é o resultado e não o programa

O meu projeto profissional principal usa Python, mas isso é uma decisão da nossa equipe de desenvolvimento, e não do nosso cliente. Ultimamente tenho pensando muito em passar para uma linguagem compilada e estaticamente tipada para facilitar a documentação, e tenho plena confiança de que nosso cliente não liga. Se o programa produz sempre o mesmo resultado, o que a linguagem de implementação importa?

Para um projeto secundário, estou colaborando com um colega que já fez grande parte do trabalho usando Julia, uma linguagem nova para mim. O que fiz? Estudei um pouco de Julia e fiz o que tinha que fazer. Meu trabalho é resolver problemas de engenharia, não filosofar sobre Python. Mas se no futuro, quisermos passar para outra linguagem não deve ser difícil.

Em outro clipe do podcast do Lex Fridman, Charles Hoskinson fala que a sua companhia usa uma linguagem acadêmica (Haskell) porque é mais voltada para a pesquisa que eles fazem, mas que os programas podem ser portados para outra linguagem mais tarde.

A não ser que você seja da área de programação (onde você vai provavelmente vai ser contratado para uma linguagem específica que já é usada em um time), escrever programas para resolver problemas é uma habilidade que o mercado (ver ponto anterior) procura; programar em Python não é. Se você está procurando vagas em algum projeto de análise de dados, talvez linaguagem X ou Y seja um requerimento (novamente, porque é o que a equipe já usa, não porque alguém liga); o quão difícil é você criar um projeto no GitHub mostrando essa habilidade?

Verdade #3: o mundo real usa unidades feias (e sistemas desatualizados, e planilhas bagunçadas)

Surpresa: fora da academia, ninguém sabe o que é kelvin. Catálogos de tubos estão em polegadas, não em milímetros. Determinadas indústrias usam sistemas de unidade próprios.

O que não é surpresa: não é você quem vai mudar isso.

Acostume-se à bagunça da vida real, onde algumas coisas estão em litros e outras em galões. Você vai receber planilhas onde está tudo misturado (e nada vai estar documentado, é claro).

Ah: e você também vai usar sistemas desatualizados, com softwares que vão fazer você ficar com raiva, já que você sabe que existem versões mais recentes melhores. Novamente, o mercado entre em cena: a sua futura empresa tem muito mais incentivos em manter tudo funcionando do que pagar para atualizar todas as licenças, ou todos os servidores. É você que tem de ser flexível.


Já virou clichê de millenials como eu reclamar da geração que está terminando seus estudos agora. Não vou fugir desse clichê: estou notando sim um idealismo maior nos estudantes universitários de agora do que na época de quando eu estava na faculdade, achando que tudo deveria ser mais fácil.

Isso é perigoso.

O tal mercado que tanto falei não aceita estudantes arrogantes – aceita pessoas que trabalham duro e se adaptam. Quem você vai ser no mercado de trabalho?

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Listas de livros

Bons livros lidos, Verão 2022-2023

Uma estação está acabando, e uma das coisas que gosto de fazer (pra variar, inspirado pelo Austin Kleon) é rever os livros que li nessa estação, para ver se há algum tema.

Apesar de que o ano passado foi supostamente o Ano de Ler e Escrever, a leitura de livros acabou ficando para trás, frente a estudos e escritas de notas. O verão que agora acaba marca uma volta muito profunda aos livros, como forma de entretenimento e como fonte das maiores ideias para seu trabalho, como PH Santos muito bem ilustra nesse excelente vídeo:

Excelente vídeo sobre usar livros para produzir outras coisas

Se o Ano atual é de Simplificar, o Verão foi a Estação de Simplificar as Finanças, e para isso I Will Teach You to be Rich, de Ramit Sethi, foi fundamental. Eu tenho grandes problemas com a criação de jargão artificial nessa obra, como um “Plano de Gastos Conscientes” e o “Método dos Envelopes”, que são apenas técnicas de orçamento (apesar de o autor jurar que você não precisa organizar o seu orçamento). Mas a sua abordagem prática em acumular pontos em cartão de crédito e em como organizar categorias de gastos de uma maneira realista tiveram grande impacto em mim. Esse livro me mostrou que, se eu otimizar os gastos fixos, cuidando da minha família, ao mesmo tempo em que tento investir um mínimo viável e de maneira inteligente, eu posso sim gastar com livros, se isso é realmente importante para mim.

Um livro que comprei desde que adquiri essa mentalidade e que já é um dos meus livros favoritos de toda a vida é Amigos, Amores e Aquela Coisa Terrível, o livro de memórias do Chandler de Friends. A sua maneira livre, honesta e profunda de escrever sobre problemas foi muito importante em algumas semanas particularmente depressivas. Os problemas existem; se você escreve sobre eles, eles não diminuem, mas também não aumentam.

Como inspiração para o trabalho, o duo de livros de Nathan Yau, Visualize This e Data Points (embora esse último seja bem raso e um pouco inútil para quem já sabe um pouco sobre visualização de dados), me ajudou a pensar mais como cientista de dados ao analisar resultados de simulações no meu emprego. Mesmo que eu não tenha aprendido nada de muito nova, ajudou-me a reforçar algumas ideias de organização de dados (lembrando que é sua tarefa fazer isso).

E agora: que livros me esperam no Outono?

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Apps e programas que um pesquisador usa

Inspirado por uma série de episódios anuais do Cortex, aqui está uma lista dos apps e programas que eu, um pesquisador de Engenharia, uso diariamente (para fins de trabalho):

iPhone

  • Drafts – quando você abre o Drafts, ele imediatamente abre uma página em branco, sem eu precisar explicitamente criar uma nova nota. A minha versão de “manter cartões de anotações” o tempo todo comigo conforme recomendado por David Allen e Anne Lamott;
  • Todoist -para consultar minhas tarefas;
  • Outlook – app de email que uso por nenhuma razão específico para usar e nenhuma razão específica para deixar de usar. Meu relacionamento com e-mails é o seguinte: eu abro regularmente, arquivo 90%, mando 5% para o Evernote, respondo os 2% rapidamente no iPhone, e deixo os outros 2% para responder com calma no PC;
  • Kindle – para sempre ter um livro à mão (e leio muito coisa técnica);
  • PCalc – porque eu sou engenheiro, e como todo bom engenheiro, uso com modo RPN;
  • NetNewsWire – sei que a internet diz para não acompanhar notícias, por isso vou consultando ao longo do dia meus blogs favoritos (muitos deles relacionados ao trabalho);
  • Forest – um app que faz crescer uma árvore no seu celular e, se você sai do app para consultar o Instagram, email, WhatsApp etc, a árvore morre. Bom para se concentrar!

Windows

E é assim que eu trabalho.

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Desacelere no trabalho para fazer mais e melhor

Se você quer ficar bom em algo, desacelere.

Kourosh Dini
Kourosh Dini, pianista, escritor e psiquiatra, falando sobre treinar uma música mais devagar. Recomendo fortemente o canal dele para seus vídeos semanais de “recitais” de piano e sintetizador

Sim, eu também faço isso: para cumprir prazos, eu quero fazer as coisas na pressa – e aí demora mais do que se eu tivesse feito as coisas com calma.

Exemplo prático e real no mundo da Engenharia: eu recebi uma demanda de implementar um algoritmo de cálculo estrutural no programa que minha equipe e eu desenvolvemos. Eu sou Engenheiro Mecânico, e gostava bastante da área de Mecânica dos Sólidos na faculdade; mas depois segui carreira acadêmica nas Ciências Térmicas, e meus conhecimentos atrofiaram (infelizmente). Quando eu recebi a tarefa, varri o nosso código (que é bastante extenso, e inclui já uma parte de cálculo estrutural) em busca de fazer uma alteração rápida.

O problema é que eu não estava entendendo nada, e eu precisava desacelerar. Corri então para a biblioteca, li livros e diversos artigos, começando desde a Introdução, e agora posso ficar em paz e dizer: “entendo o que precisa ser feito!”.

Alterações em softwares nunca são filhas únicas. Esse tempo “perdido” lendo livros introdutórios vai ser compensando porque, quando outras alterações forem solicitadas (e vão ser), eu já entendo a teoria (e tenho diversas notas nos meus cadernos para serem consultadas), e posso partir diretamente para a implementação.

Recentemente, promovi uma grande refatoração no nosso programa, mudando nomes de variáveis internas e documentando cada função. Os nossos clientes não ligam absolutamente nada para isso, e esse mês foi aparentemente “desperdiçado” nessa tarefa lenta e árdua sem nenhum resultado concreto – mas novamente, cada nova alteração é facilitada porque o programa está mais fácil de entender.

Obviamente, como tudo na Engenharia, é uma questão de otimização de recursos. Minha personalidade que gosta de estudar tenderia e querer ler vários livros e artigos, e indo nas referências de cada um, até entender com máxima profundidade o assunto. Mas, após me sentir em paz, eu decido que o estudo é suficiente e é hora de implementar.

Fora que, ao fazer as coisas com calma, a probabilidade de fazer correto é maior – e não é isso que importa?

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Como decidir quando é hora de parar de trabalhar em um projeto e partir para o próximo

Vamos imaginar o seguinte cenário comum: você está trabalhando em algo que vai demandar vários dias para completar. Aliás, você tem diversas demandas em paralelo que precisam ser trabalhadas todo dia, por vários dias. O malabarismo é alternar entre as diversas atividades nos intervalos entre reuniões.

Há quem defenda a estratégia de trabalhar com foco e energia total em uma única coisa, o dia inteiro, até acabar com a tarefa #1; depois, passa-se para o mesmo regime na tarefa #2 e assim por diante. Eu não gosto disso porque, além de cansar bastante o hábito de dedicar 8 horas a uma única coisa, eu gosto de trabalhar mais picado para que as ideias de um projeto “vazem” para outro. Se estou implementando um algoritmo para um programa, de repente tenho ideias sobre a documentação e testagem de outro programa, e quero passar para o projeto 2 o mais rápido possível para não perder o pensamento.

Porém, se eu trabalho em várias coisas por dia, como decidir quando está na hora de acabar com uma sessão de trabalho e passar para o outro?

A resposta para mim vem da religião. Como diz Frei Ignácio Larrañaga nas Oficinas de Oração e Vida e em seus livros, o critério mais fácil para se conectar com Deus é a paz; se você está em Paz, você está com Deus, agora, neste exato momento e neste local. Lembra da oração da paz na Missa? “Eu vos deixo a Paz, eu vos dou a Minha Paz”…

Portanto: quando você fica em paz com seu trabalho, quando é capaz de dizer “fiz o suficiente por hoje” sem mentir para si mesmo, é hora de parar de trabalhar. Aliás, é melhor parar de trabalhar agora, antes que você continue na sua tarefa, encontre problemas e perca a sensação de paz…

Isto vale também para o encerramento do dia de trabalho. Eu não quero voltar para casa e preparar a janta para meus filhos enquanto penso no que deu errado; isto requer que eu dedique tempo a “amarrar as pontas soltas”, rever o que falta de cada projeto, deixar tudo anotado, até que eu esteja em paz.

Você está em paz com seu trabalho?

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O melhor curso de programação para engenheiros (e que ninguém conhece)

Eu aprendi a programar na faculdade, e nos semestres finais eu só fazia os trabalhos com cálculos implementados em computador. Ao longo de minha carreira, utilizei diferentes linguagens, técnicas, e métodos, mas a programação sempre fez parte do meu trabalho.

Se você estuda Engenharia, você precisa aprender a programar.

Quando eu comecei no meu emprego atual, eu me deparei com um desafio que eu não tinha enfrentado antes: desenvolver programas não seria apenas um meio para outro objetivo (como escrever teses ou preparar aulas), mas é o trabalho; meu papel aqui é desenvolver, manter, testar e documentar softwares de Engenharia que outros pesquisadores e pesquisadoras usam. Eu precisava subir de nível na minha habilidade.

O caminho que escolhi é o projeto Open Source Society University, que prescreve um “caminho” para cursar Ciências da Computação com apenas cursos online. Eu não tenho essa pretensão, e nem acho que é possível. O meu objetivo é trazer conceitos mais rigorosos, efetivos e eficazes do mundo do desenvolvimento de software para a Engenharia.

E já no primeiro curso, o mais básico, surpreendi-me positivamente, e agora acho que todo estudante de Engenharia deve começar o quanto antes o curso online e gratuito How to Code: Simple Data, que usa o meu novo livro preferido de programação (também online e gratuito) How to Design Programas (2 ed.)

Esse não é um curso sobre uma linguagem específica, tanto que usa uma linguagem não muito popular chamada Racket. É sobre projetar programas, como um projeto qualquer de Engenharia: com requisitos, critérios de sucesso (como você sabe que o programa está correto? Você testa todas as suas partes). É sobre seguir um método, rigoroso e sistemático. Tanto no curso quanto no livros, os autores enfatizam a importância de documentar o que você está fazendo, com muitos exemplos.

Minha dica é essa: siga esse curso, tentando fazer todos os exercícios, e então busque traduzir os conceitos na linguagem que você usa nos seus projetos (provavelmente uma das minhas recomendadas). A qualidade dos programas que eu escrevo e o meu entendimento sobre eles aumentou exponencialmente.

Fora que programas em Racket é divertido.

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3 objetos sem os quais eu não poderia viver

A sugestão de prompt do WordPress hoje é essa:

Quais são os três objetos sem os quais eu não poderia viver?

Sem pensar muito profundamente, olhei para a minha mesa e vi esse arranjo:

e pensei: aí estão 3 objetos singelos que estão sempre comigo e que são realmente fundamentais:

  1. Caderno: já falei aqui sobre a minha prática de manter um caderno. Quando estou me sentindo mal, é ali que desabafo. Em um dia de trabalho, uso para anotar minhas tarefas. Quando estudo, tomo notas – e para isso preciso de :
  2. Caneta: eu tomo notas de tudo. Mesmo em casa, com meu filho mais velho, brinco de desenhar os personagens preferidos dele (geralmente da Patrula Canina). Com a minha esposa, anotamos os gastos da nossa próxima viagem. Eu já fui o tipo de pessoa que sonhava em “viver sem papel”, mas agora eu não consigo viver sem a sensação de escrever com caneta em um pedaço de papel. Também já foi do tipo que comprava canetas caras, mas agora eu tenho mais o que fazer. E quanto escrevo, é bom tomar água ou café em uma…
  3. Caneca: mas poderia ser uma garrafa. Ter água ou café sempre à mão é o que me permite e concentrar no meu trabalho, e o que dá combustível e refrescância para passar com a família nesses dias quentes.

Aí estão: três objetos simples, que representam instantes agradáveis em casa e no trabalho. A vida é melhor com uma boa bebida enquanto registro meus pensamentos.