O que é informação?
Se você precisa dizer um “eu te amo” para a sua cara-metade, e a pessoa está do seu lado, é fácil – aparentemente. Física e biologicamente, o seu cérebro transmite sinais elétricos para as suas cordas vocais, que alteram a pressão do ar que sai dos seus pulmões; essas ondas de pressão se propagam no ambiente à sua volta e chegam ao ouvido da pessoa amada, e o tímpano transforma em sinais elétricos essas vibrações, e o cérebro alheio compreende as suas palavras.
Transmitir mensagens é uma atividade humana desde sempre (de “Perigo!” e “Há comida” a “Vamos no sushi hoje?”), mas há obstáculos. Se o interlocutor está a distância, o estraga-prazeres do atrito não vai deixar a sua voz se propagar por uma distância muito longa. A escrita resolveu parte do problema, mas criou outros: como codificar uma língua inteira em um alfabeto de 26 letras (e mais alguns símbolos, como espaço, pontuação, hífens)? E quando os humanos se acostumam a essa codificação, como transmitir uma mensagem escrita instantaneamente (em caso de guerras ou catástrofes, por exemplo)? E é possível transmitir a voz diretamente – como diabos alguém do outro lado do mar escuta a sua voz? Afinal, o que está sendo transmitido de fato?
É essa a pergunta que James Gleick tenta responder no pesado e excelente The Information (há também uma versão em português) – parte história (dos tambores africanos, da invenção do telégrafo e do telefone, com o clímax natural no início da computação) e parte resumo da Teoria da Informação, como diz o subtítulo. Esse é um livro para aprender, e muito. Você vai conhecer os grandes personagens (inclusive mulheres que deveriam ser mais conhecidos) que contribuíram para a arte de transmitir conhecimento.
A ideia central de The Information é a noção do bit, e as possibilidades do que está sendo transmitido é que determina o número de bits em uma mensagem. Se você precisa armazenar o resultado binário, como uma resposta Sim/Não de uma pergunta, você precisa de 1 bit (1 binary digit). Se você tem até 4 opções, precisa de 2 bits; para 8 opções, 3 bits, e assim por diante. Se você não tem nenhuma escolha, pode economizar bits; uma mensagem (em português) como “apartament” já está completa, já que a única letra a seguir possível é “o”, e você pode economizar pulsos elétricos na hora de transmitir essa última letra.
Uma popular série de brinquedos de heróis de pijama inclui os bonequinhos dos personagens e uma base que funciona com todos eles. Dependendo do personagem que é inserido na base, ela fica de uma cor diferente e emite um som diferente. Como os bonequinhos transmitem a informação para a base? Com um sistema de 3 bits (até 8 bonequinhos são possíveis de diferenciar, portanto), codificados com ressaltos nos pés:
Um super jogo de tabuleiro também identifica os cartões com 3 bits:
Obviamente, comecei a prestar mais atenção nessas coisas justamente por estar lendo The Information.
Outro grande ponto alto, e que me deu várias ideias de leituras adicionais (um exemplo de livro centrífugo), é o capítulo sobre biologia e informação. O DNA é um grande código computacional, mas implementado com proteínas. Os meus dois filhos têm olhos claros, coisas que nem eu nem minha esposa temos – porque os nossos corpos só serviram como transmissores dessa informação.
O ponto fraco são os três capítulos finais, que sinceramente parecem mais uma exigência do editor. James Gleick parece forçado a discutir o tal excesso de informação – sendo que já há um excesso de excesso de discussões mais do mesmo. O próprio autor parece pensar que essa discussão não vale a pena.
The Information é um livro que exige bastante conhecimento científico (e gosto que Gleick não tem medo de inserir equações), mas que ensina muita coisa a que está disposto a dedicar as horas.