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Resenha: Music: A Subversive History

O que a imagem acima, de um porto em atividade, tem a ver com a resenha de um livro de música? É esse justamente o ponto de Music: A Subversive History, de Ted Gioia.

Eu cheguei a essa obra por conta da excelente newsletter de Gioia e de uma entrevista com ele, que menciona o livro. Ted Gioia é um músico de jazz que, tendo de abandonar o piano por conta de problemas na mão, tornou-se um crítico de música excepcional, ao apontar grandes álbuns que nenhum algoritmo recomendaria (como ele fala repetidamente na sua newsletter – sério, vão lá assinar) e falar de detalhes que parecem adjacentes às músicas, mas que são fundamentais (a sua formação em filosofia provavelmente ajuda).

Liverpool é a terra dos Beatles, obviamente, e New Orleans o berço do jazz. Separadas por milhares de quilômetros de distância, e de culturas bem diferentes, estas cidades pobres e na periferia do poder são também cidades portuárias com um grande vaivém de pessoas, cada uma com sua tradição musical.

É isto que Music quer mostrar: que o desenvolvimento musical não vem de salas de concerto elitizadas, mas dos marginalizados. O que hoje associamos ao poder nasceu revolucionário. Hoje falamos de Mozart como um gênio que ninguém mais ouve, mas no seu tempo ele era uma celebridade que escrevia cartas (para seu pai) reclamando de seu apetite sexual voraz – alguma coincidência com nossa obsessão em acompanhar a vida amorosa dos músicos de hoje?

Gioia põe muita ênfase nos aspectos rituais da música. Como católico, eu posso confirmar com facilidade que a música na Missa faz parte do ritual, e não é um mero acessório (ainda que, para voltar ao mesmo tema, música na igreja era considerada subversiva até pouco tempo atrás). Os rituais das religões antigas envolviam muita percussão e sacrifícios (literais) – e Gioia fecha o livro se perguntando se o comportamento errático de músicos de rock não é também uma forma de auto-sacrifício, de entregar a própria vida pela música.

Acho que deu para entender que o livro é muito interessante. Porém… é longo demais. É muito fácil se cansar na leitura, e dá para perceber que o autor se perdeu no meio de tanta pesquisa e teve dificuldades em cortar detalhes e anedotas, sendo que em vários capítulos o ponto já estava estabelecido.

Assim, por mais que seja um deleite ver um mestre da escrita como esse escrevendo sobre temas verdadeiramente fascinantes, não posso recomendar a leitura do livro a não ser que você esteja realmente preparado, quase para estudar o livro.

Mais uma vez: assine a newsletter, e veja se você quer mergulhar fundos nos tópicos que ele traz.

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Resenha: A história do mundo para quem tem pressa

Não vou negar: eu comecei a ler A história do mundo para quem tem pressa não porque eu tinha pressa de fato, mas porque estava lendo dois outros livros (resenha em breve) muito pesados, e queria uma leitura mais leve. Consegui.

Dividindo em seis capítulos, a obra cobre desde as civilizações da Mesopotâmia até a independência da Nova Zelândia. Se a leitora está surpresa, como eu, em relação a escolher este ponto de finalização, minha hipótese é que a autora Emma Marriott falhou no próprio objetivo: prometeu um livro que vai além dos relatos típicos euro-centristas, mas não conseguiu se desvenchilhar do fato de escolher “o fim da colonização europeia na Oceania” quase como “o fim da história”, como se a Europa não tivesse mais para onde ir. Não nos enganemos: esse livro é totalmente contado do ponto de vista da Europa.

Além dessa falha de querer ser mais diverso que realmente é, acho que o livro assume que o leitor tem pressa demais. O subtítulo, Mais de 5 mil anos de história resumidos em 200 páginas, poderia ser corrigido para …em 250 páginas… e o livro teria muito mais impacto e profundidade.

Sendo raso assim, não há nenhuma grande tese ou argumento ensinado, mas não deixei de esclarecer algumas coisas, principalmente em relação a cronologia. Aprendi, por exemplo, que os astecas são muito posteriores aos maias (minha lembrança escolar das civilizações pré-colombianas fundiu-as em uma massa só, como se fossem todas contemporâneas), e que a habitação da Nova Zelândia pelos seus povos nativos é muito mais recente que a habitação da Austrália (em alguns milhares de anos).

Portanto: não espere de fato aprender muito sobre a história do mundo. No máximo, o leitor pode selecionar alguns tópicos e aprender mais sobre eles. Ou simplesmente encarar como uma leitura de entretenimento superior às redes sociais – o que de fato é.