Categorias
Artigos

Como se lembrar de ideias importantes sem necessariamente decorar

Recentemente, minha esposa e eu conversámos sobre os problemas de um familiar e como ajudar essa pessoa e, à medida que ela falava, minha mente imediatamente se voltou a dois tópicos relacionados:

  1. As reflexões que minha terapeuta proporcionava sobre o impacto de amar e ser amado: se você só se dedica aos outros, sem nunca ter tido a oportunidade de se sentir cuidado(a), você está pronto(a) para ter problemas emocionais;
  2. As ideias das Oficinas de Oração e Vida e de Frei Ignácio Larrañaga sobre o “Deus da Ternura”, de como o caminho para encontrar Deus passa por “deixar-se amar” e abandonar os problemas nas mãos d’Ele

Por que e como minha mente fez esse caminho, juntando dois conceitos claramente similares mas de fontes diversas, e tentou aplicar a teoria a um problema prático?

Tenho refletido sobre esse episódio desde que li sobre o conceito de prática produtiva de Luc Beaudoin em Cognitive Productivity: você deveria treinar ativamente lembrar conceitos importantes, usando flashcards e “provas” que você aplica em si mesmo, mas não para fins acadêmicos e sim para resolver problemas do seu trabalho e da sua vida. O fluxo de trabalho ideal é: você lê, assisti ou ouve a algo valioso de onde pode extrair conhecimento; você toma e armazena notas sobre isso; e regularmente pratica lembrar deles.

Eu sou professor; eu não deveria adorar o conceito de “provas para a vida”? Por que, então, esse conceito não me atrai nenhum um pouco? Como eu consegui lembrar das ideias anteriores sem nunca ter “treinado produtivamente”?

Para mim, a chave está na reflexão – regular, diária, e escrita.

A própria prática de terapia e oração me ensinaram a meditar e refletir sobre assuntos variados. Quando meu filho está brincando na rua, e claramente está entretido observando os pássaros e quer ficar zanzando pelo nosso quintal sem minha interferência, eu aproveito para pensar. Quando tenho de dirigir 2 horas por uma estrada e minha família está dormindo, eu me pego murmurando ideias. Quando estou lavando louça, eu estou refletindo sobre algum tópico.

Frequentemente, ao sair de uma sessão de terapia, eu ia caminhando ou dirigindo até minha casa, pensando sobre o que tínhamos acabado de conversar; é nesses momentos que comecei a pensar sobre todas as pessoas que esquecem completamente o tempo para si, ficam emocionalmente carregadas, e depois descontam nos outros. Após ministrar uma sessão das Oficinas, minha cabeça começava a viajar pensando na visão errada de alguns de que “Deus é castigo”, de que Ele só está preocupado com o pecado e que se divertir é errado.

Além disso, todo dia eu rezo, todo dia eu leio a Bíblia, todo dia eu escrevo reflexões no meu diário.

Eu entendo que isso não é tão produtivo quanto a abordagem de Beaudoin, pois minha memória só surgiu depois de um trabalho diário por muitos anos. Mas não pareceu trabalho; eu simplesmente vivo e reflito sobre o que leio, ouço, converso, experimento.

Eu digo aos meus alunos no primeiro dia de aula: a chave do sucesso nas minhas disciplinas é tomar notas do que eu falo. O ato de escrever uma ideia, de alguma forma, sedimenta-a no seu cérebro. Na próxima aula, você pode revisar essas notas, re-escrever algum parágrafo que pode ser melhorado, complementar com algumas informações novas.

Eu concordo com o supra-citado livro de que não é tão simples dizer “estudantes não deveriam ter de memorizar”, já que o conhecimento vem da memória de alguma forma ou de outro, e algum grau de decoreba geralmente é necessário. Eu já escrevi sobre como eu estudei tanto para ministrar uma disciplina de Máquinas Térmicas que eu ainda me assusto com a quantidade de coisas de que eu consigo me lembrar sem precisar consultar livros – e eu nunca “me testei” em relação a esses conceitos. Só acho que usar Anki não é o melhor caminho.

A minha filosofia não é de hacks, mas do estudo (concentrado, para não tomar muito tempo), da profundidade, da mistura entre Cal Newport e Austin Kleon.

A leitora frequentemente precisa decorar informações? Como faz?

Categorias
Artigos

Playlists nerds do Deezer para trabalhar

O post de ontem sobre vídeos de piano para trabalhar recebeu alguns comentários interessantes, e isso me fez perceber que, apesar de ter postado alguns textos sobre minhas playlists para trabalhar, nenhum é sobre o sistema que uso atualmente, Deezer.

(A propósito, nesse ponto de minha vida, não me importo nem um pouco com recursos e catálogos dessa ou daquela plataforma de streaming; o Deezer está incluído no meu plano de celular e isto basta).

Para deixar esse post mais interessantes, aqui estão algumas playlists de temáticas bem nerds do Deezer que são perfeitos acompanhamento para trabalho profundo:

  1. Lord of the Rings Classics
  2. Star Wars Classics
  3. Fantasy Mode
  4. The Legend of Zelda
  5. Harry Potter Classics
  6. Game of Thrones

Mais uma vez, aceito sugestões de boas playlists para trabalhar!

Categorias
Artigos

Vídeos de piano do YouTube para trabalhar

Se é que é possível, vou juntar nesse post dois grandes interesses meus: piano e produtividade.

Para mim, escutar música é uma excelente estratégia de ensinar meu cérebro a entrar no modo de trabalho profundo. Os leitores talvez não saibam, mas eu tenho estudado teclado e piano desde o final do ano passado, para ter algo para na verdade escapar do trabalho, mas aí há uma retroalimentação: enquanto me concentro, tenho adorado conhecer mais pianistas e obras de piano. Colocar vídeos no YouTube, além de me permitir escutar a música, permite-me visualizar também estes artistas tocando, e nos intervalos do meu trabalho consigo ficar assustado com a velocidade das mãos e sonhando quando eu vou conseguir tocar assim.

Eu sou muito fã no Kourosh Dini, não só como escritor, mas como músico: todo sábado, ele faz um concerto virtual de piano e sintetizadores que são sempre ótimos:

E depois da sua morte, eu comecei a conhecer mais da obra de Nelson Freire; aqui estão dois concertos parecidos mas separados por 35 anos de diferenças:

Como um bônus de produtividade, cada vídeo desses tem uma duração ótima para uma sessão de trabalho realmente profundo.

Aceito mais indicações de pianistas para escutar enquanto trabalho!

Categorias
Artigos

Trabalhando sob pressão

20180531_204523484_iOS.jpeg

Essa semana estou tentando viver uma semana mais contemplativa, mais conectado a Deus. No meio de toda essa agitação, muitas vezes eu só quero estar sozinho com Ele.

Hoje estamos no meio do feriadão de Corpus Christi. Enquanto eu simplesmente observo a paisagem na janela, tudo parece tão anormalmente calmo, tão diferente de outros dias, e isso me fez pensar sobre minha rotina de trabalho.

Exagerando, acredito que existem dois tipos de pessoas: os que só funcionam sob pressão, e os que quebram. Eu definitivamente pertenço ao segundo grupo: prazos não me fazem ir para frente, eles me paralisam.

Eu me conheço e sei que faço o meu melhor trabalho quando estou calmo, quando minha tela de Hoje no Todoist está vazia, quando meu calendário está deserto. Nesses dias, minha mente está livre para mergulhar em algum artigo complicado que preciso entender, ou para criar um caderno Jupyter e fazer alguma análise mais complexa, ou para começar a escrever algo. Eu quero dias calmos não para que eu possa deitar e assistir Netflix, mas para que eu possa realmente trabalhar.

O lado ruim dessa minha personalidade é que sou um trabalhador lento, uma vez que gosto de deenvolver calmamente minhas ideias. Minha própria solução para isso é começar cedo e ser organizado. Eu não gosto de prazo, mas gerencio-os. Eu tento manter 2-3 projetos ativos, e trabalhar neles um pouco a cada dia até completá-los.

Eu ainda tenho de aprender muito; uma das maiores partes do meu doutorado está meses atrasada, e em parte a culpa é minha. Meu maior desafio: aprender a trabalhar com pessoas que precisam de pressão, e de trabalhar eu mesmo sob pressão nos tempos mais críticos (eles não vão durar para sempre).

Categorias
Articles

Can I work only 40 hours as an academic?

Prof. Marco Mello has published (in Portuguese) some advice for people considering entering graduate school including how “graduate school is not a 9-to-5 job”, and that good doctoral students usually work way more than 40 hours a week.

Similar advice was given by Prof. Matt Might:

Ph.D. school is neither school nor work.

Ph.D. school is a monastic experience. And, a jealous hobby.

Solving problems and writing up papers well enough to pass peer review demands contemplative labor on days, nights and weekends.

Reading through all of the related work takes biblical levels of devotion.

Ph.D. school even comes with built-in vows of poverty and obedience.

The end brings an ecclesiastical robe and a clerical hood.

Students that treat Ph.D. school like a 9-5 endeavor are the ones that take 7+ years to finish, or end up ABD.]

Although I still haven’t completed my doctoral studies, and I greatly value advice from people who are more experienced than I am, I tend to disagree with this sort of argument. My views are more aligned with another Professor, Cal Newport; he argues that you should mantain a regular 9-5 schedule, and you can accomplish this by:

  • Dramatically cut back on the number of projects you are working on.
  • Ruthlessly cull inefficient habits from your daily schedule.
  • Risk mildly annoying or upsetting some people in exchange for large gains in time freedom.
  • Stop procrastinating.

From observing all kind of people working around me, I’ve come to the conclusion that working hours mean very little. If someone maintains two-hour lunch breaks, plus one-hour coffee breaks, plus 2-3 meetings per day, plus endless sessions to process email, he might as well have worked 12 hours in a day without producing any value. On the other hand, if I work say 7 hours per day (as is usual for me, and without including the lunch break), but am able to keep two sessions of 2.5 hours each of intense concentration in an important task (like programming, reading and writing papers, studying some topic), haven’t I worked enough?

Additionally, for a graduate student, work is a subtle definition. If I leave the lab somewhat early to go for a run, and in my practice I listen to some podcast that gives me an idea to try at work on the next day, am I working or not?

I may only “work”, sitting down at my desk, for 7-8 hours each day, but I am constantly thinking about work, about how can I better write some section of some paper, about what does that theory mean, about some result I got from a simulation.

And lastly, there are non-work things that help me to work. I spend almost one hour each day praying and reading the Bible; I could work during that time, but doing this instead makes more calm and more focused than if I simply “worked”. Same for exercising on the evenings, or relaxing while watching a movie on the weekends.

Am I wrong?

Categorias
Articles

How to get compliments from someone you admire

(Nota: esse texto está em inglês como parte de um experimento. Por favor, digam-me nos comentários o que acharam)

I had been postponing this task for months. It’s weird, since one of the things I was most excited to do here in Denmark was to be able to talk in person to him, but my shyness was taking control of me, as usual. But I finally sent an email:

Hey, I’ve got some ideas I would like to discuss with you, if you have time.

And he had time. He, in the case, is one of the researchers I admire the most in the world. Since beginning my PhD, I’ve devoured his thesis, I’ve read all his papers, and I even wrote a paper myself largely based on his work. He is one of the definitive references in our field — magnet design for magnetic refrigeration, if you want to know —, and every publication in this area for the last decade cites one or many of his works.

But more important, he is such a nice person.

So here I was, talking to him. I have spent the last two years working on my own magnet design and my own theories. I combined his ideas with concepts from one of his students, plus some other works, and I devised a design methodology that, I believe, has great potential. But I needed his opinion.

He was impressed. Multiple times he said: “I’ve never thought of that” and “Very nice work”. Within minutes we were brainstorming ideas for a joint publication.

I’m a mechanical engineer. Until two years ago I didn’t know anything about magnetism, and now I am talking to an expert in magnet design as equal. How did I get to this point?


The answer, of course, is deep work. Hard, distraction-free work.

One of the greatest insights of my proposed methodology (which needs much testing and is far from finished, I should emphasize) was taken from the thesis of the student of him I talked about. I spent months where I was dedicating whole days to reading it, page after page multiple times, until I could finally understand all concepts. And when I was done, I had to re-teach myself Java, and then spend some other months studying the API from the program we use to do the magnet simulations, so that so I could implement all these ideas. And then I had to test, and fix bugs, and create plots.

Progress was slow, and many times I felt I was actually wasting time. I should be just using other language, or doing the simulations manually, just generating results faster. But if I had done that, I wouldn’t be here, getting compliments from someone I admire.

I’ve said this before, but I’ll repeat: PhD students cannot be afraid of deep diving into theories, even the most fundamental of them. Two years ago I had to buy a (undergraduate level) book on electromagnetism, so that I could understand how currents generate magnetic fields, and how to calculate them — I even did the exercises! Yes, it is a challenge, because we all have meetings, presentations, papers, reports, deadlines. But in the same way as you make time to prepare for a meeting and other time-sensitive things, you have to make time for studying hard things. Study productivity, wake up earlier, stop working with one eye on WhatsApp, live a healthier lifestyle (so that you have the energy to work throughout the day).

Believe me, it’s worth it.