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No último episódio do Posdemfio, Bia Kunze e Glauco Damas discutiram o mercado de ebooks. Como leitor assíduo (de livros físicos e alguns poucos eletrônicos) há muito tempo, gostaria de dar minha opinião sobre o assunto.

Antes, por favor, escute o episódio. Aproveite e assine o podcast de uma vez porque ele é ótimo.

Ferramentas

Um pouco de contexto primeiro. Eu não tenho nenhum leitor eletrônico dedicado. Penso em comprar um Kindle, mas é para depois. O dispositivo que uso para ler livros digitais é um iPad 2; nele tenho o app do Kindle, leio alguns livros no formato do iBooks e alguns PDFs. Assim, minha discussão se baseia nesse conjunto de ferramentas.

Fetiche

O primeiro ponto que muitas pessoas discutem é sobre o tal “fetiche” por livros de papel, o cheiro de livro novo, o toque das páginas. Isso não se aplica a mim; quanto à questão da sensação física de se ler um livro, não tenho nenhum interesse no aspecto de sentir o papel em minhas mãos; acho que a principal diferença para mim é o conforto de ler.

Eu gosto muito de ler na cama, e a iluminação do iPad, mesmo no nível de brilho mais baixo, incomoda bastante (e eu sempre tive problemas de sono). Porém, como falei, não tenho um e-reader, e dizem que as telas desses gadgets é muito melhor, mas custo a acreditar que seria tão confortável quanto o papel — no máximo, muito melhor que o iPad (embora a tela Retina faça diferença). Tive pouco contato com Kindles de outras pessoas, então não posso falar se a tal tela que “foi feita para ler” não causa absolutamente nenhum cansaço.

Outra coisa ainda impossível de se fazer num ebook é segurar uma página enquanto se olha outra, para recuperar um conceito ou uma figura. Mas isso pode ser detalhista da minha parte.

Formatação

O segundo grande ponto em relação a livros eletrônicos é quanto à formatação.

Os livros de programação que comprei no formato Kindle são praticamente inutilizáveis, com muitos códigos mal formatados, alinhamento que dificulta a leitura do código, além de figuras mal posicionadas. Livros de programação geralmente utilizam fontes diferentes para texto e para o código, tarefa que, creio, o formato Kindle (eu sei, o formato do arquivo tem outro nome, mas vou me referir como Kindle por simplicidade) não facilita. Para piorar, com muitas figuras, as diagramações ficam muito esquisitas.

Hoje acredito que, para livros técnicos, com elementos estáticos (já vou falar disso), o único formato aceitável é PDF.

Para livros que se constituem de muito texto, porém, os livros em Kindle e ePub que li são bons — permitem ajustar por exemplo o tamanho da fonte e a cor da página (para não ficar aquele branco brilhante). Alguns livros que resenhei depois de ler no app Kindle do iPad e ter ficado satisfeito com a leitura são Platform e The Information Diet.

Recursos

É aqui que os ebooks brilham.

Pegue um livro de David Sparks (como o ótimo Paperless, o maior autor de ebooks interativos do mundo, ou de Vladimir Campos com o ótimo Planejando Viagens no Evernote, a maior expoente do gênero aqui no Brasil.

(Aos dois: vocês são meus ídolos.)

Eles sabem aproveitar as vantagens que a mídia digital proporciona. Seus livros tem muitos vídeos, fotos que os leitores podem ampliar e visualizar de muitas formas, links para sites e outros aplicativos, e são extremamente bem formatados. Nesse caso, com esses elementos dinâmicos, têm uma clara vantagem sobre PDF (ver seção anterior).

E o que falar da habilidade de poder procurar quaisquer expressões em um livro eletrônico? É o único momento em que às vezes me dá raiva de usar um livro de papel (principalmente quando índice de assuntos é mal feito, para os livros mais técnicos).

Autopublicação

Por último, vamos falar do tema principal do podcast que mencionei, a autopublicação, onde os autores publicam seus livros sem necessidade de editora.

Sempre dei sorte com livros autopublicados. Além dos livros dos autores que mencionei na outra seção, posso citar os livros do Kourosh Dini sobre Omnifocus. Porém, sinceramente, eu tenho algumas reservas em relação à autopublicação. Ao contrário de alguns setores, que talvez só se aproveitam de um monopólio, eu considero as editoras grandes participantes no mercado de livros, que prestam um serviço muito bom aos leitores. Por exemplo, eu posso ter quase 100% de certeza que um livro da O’Reilly vai ser bom, porque passou pelo processo de edição, foi revisado, com a parte técnica muito bem analisada. A editora nesse caso não se atravessa no caso do autor, ela faz um pouco do trabalho com uma equipe especializada.

Coisa semelhante ocorre com livros de ficção. É claro que muitas pessoas podem ter a capacidade de escrever, dar para algumas pessoas revisarem, e publicar, e o livro vai ser ótimo. Mas acho que isso funciona melhor para autores experientes. Eu sempre sonho em escrever e publicar livros, mas não sei se teria coragem de autopublicar meu eventual primeiro romance.

Conclusões

Na minha opinião, ebooks têm um futuro bom, mas acho que vai demorar para eles serem uma “revolução”. Ainda estamos na fase de um mercado fragmentado, com leitores de uma empresa incompatíveis com as obras de outras lojas (e sem motivação para fazer um leitor universal). O preço também conta; o Kindle, o mais famoso (e que permite acessar o catálogo gigantesco da Amazon), é mais caro que o a maioria das pessoas gasta em livros por ano (mas não vamos entrar no mérito de se o brasileiro lê pouco ou não).

Esses detalhes tendem a ser menos relevante com o tempo; a competição tende as grandes lojas de livros a terem catálogo equivalente, com o adicional de diminuir o preço dos aparelhos. Como bônus, a qualidade tende a aumentar (tanto do hardware quanto do software) e muitas reclamações que eu fiz aqui tendem a desaparecer.

Ainda precisamos aproveitar mais o e do que o book. Eu faço muitas anotações enquanto leio; no app do Kindle ou do iBooks, mesmo para livros mais simples, ainda não sei um jeito fácil de exportar todas as minhas notas num único arquivo, coisa que muito me ajudaria para organizar minhas notas e formatar minhas resenhas.

Para os livros mais técnicos, quem sabe um dia vamos poder digitar um código em um livro de programação e vê-lo ser executado. Ou visualizar um gráfico quando alguma função matemática é mencionada em um livro de engenharia, talvez com a ajuda do Wolfram Alpha. Convém sonhar.

Por Fábio Fortkamp

Pai do João Pedro, Marido da Maria Elisa, Professor do Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade do Estado de Santa Catarina, católico devoto, nerd

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