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Um calendário para minha namorada

Aqui vai uma pequena dica de produtividade que comecei a testar recentemente e tem dado muitos bons resultados. Muitos programas de calendário, em especial o Google Calendar e o calendário do iCloud (o serviço que iPhones, iPads e Macs usam) permitem definir múltiplos calendários. Muitas pessoas recomendam então criar calendários baseado nas suas atividades, como um calendário para seus compromissos pessoais e outros para os de trabalho; a Bia Kunze inclusive recomendou isso num episódio recente (e excelente) do seu podcast.

Para mim isso não faz sentido. Eu tenho múltiplas áreas de responsabilidade, mas sou uma pessoa só. Se tenho uma consulta médica e uma reunião no mesmo horário, de que adianta marcar em dois calendários diferentes? Pode ser por eu não ter um “emprego” propriamente dito, mas não consigo me adaptar a esse raciocício. Durante uma semana eu tenho alguns compromissos, alguns são de família, outros são relacionados ao meu mestrado, outros são meus, mas tenho de atender a todos (caso contrário eles não estariam na minha agenda). Por isso, a ideia de múltiplos calendários nunca fez sentido. Até agora.

Recentemente passei por um quase problema. A minha namorada está envolvida em uma atividade profissional que envolve viagens a outra cidade em alguns dias específicos. Fui marcar com o meu orientador a data da minha defesa de mestrado, olhei no meu calendário e não havia nada no dia sugerido por ele; depois, porém, ao conversar com minha namorada, descobri que é um dia em que ela estará viajando. Como para mim é muito importante que ela esteja na minha defesa, existe uma falha na minha organização; se ela precisa estar presente em algum evento meu, eu preciso saber em que dias ela está livre, e não apenas eu. A tecnologia está dando uma informação falsa pra mim, e isto é inadmissível.

A solução foi definir um calendário para a minha namorada. Naturalmente que não marco todos os compromissos dela (isso seria assustador), mas marco os eventos importantes, como estas viagens. Nesses dias, embora eu esteja livre para os meus compromissos (consultas médicas, reuniões, levar o carro na oficina), não posso assumir compromissos que envolvam ela, como a dita defesa, ou festas, ou jantares. E é aí que o conceito de múltiplos calendários faz sentido.

Fantastical 2 multiple calendars

Viu? Os pontos em azul mostram o meu calendário (que é o padrão), e os em laranja os compromissos dela. Quando preciso marcar algo, tenho uma visão muito mais completa.

Um exemplo muito prático da tecnologia servindo a mim e não o contrário.

A propósito, o screenshot acima é do excelente Fantastical 2.

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Foco e Ergonomia

Tem havido uma grande quantidade de textos falando do iPad como ferramenta de trabalho, incluindo um livro. O assunto aparece em podcasts também: Alexandre Costa recentemente falou de com usa o apenas o iPad para fazer seus podcasts, o que é um feito considerável.

Um iPad é mais leve, mais portátil, mais barato e quase tão capaz quanto um computador tradicional, mas o ponto principal desse tipo de análise é geralmente o foco. Com uma tela pequena, você só pode se concentrar em um programa por vez, forçando-o a fazer escolhas. Você não pode acomodar do lado da sua janela principal uma janela para o Twitter, ou chat, ou Facebook. Distraction-free é a expressão da moda.

Apesar de não ser sobre o iPad, Matt Gemmell publicou um texto excelente na mesma linha, dizendo que o seu MacBook Air é uma ferramente muito melhor de trabalhar que seu iMac. O segredo é usar a sua tela pequena da maneira certa, criando um arranjo eficiente de janelas e usando bem o teclado (confira também esse texto seu sobre atalhos de teclado no Mac).

Para o meu tipo de uso do computador, porém, foco não quer dizer muita coisa. Como Dr. Drang falou:

Which brings us to the type of writing being done. I don’t write fiction, but I can imagine that a lot of fiction writing can be done without any reference materials whatsoever. Similarly, a lot of editorials and opinion pieces are remarkably fact-free; these also can spring directly from the writer’s head. But the type of writing I typically do—mostly for work, but also here—is loaded with facts. I am constantly referring to photographs, drawings, experimental test results, calculations, reports written by others, textbooks, journal articles, and so on. These are not distractions; they are essential to the writing process.

Meu setup atual

Meu setup atual (lembrando que trabalho em casa) é um MacBook Pro 13”, sobre um suporte, conectado a um monitor de 24”. É muito espaço de tela, mas não é um convite para distração. Edito minha dissertação com um artigo do lado, para que eu possa fazer uma citação. Escrevo algum programa com uma janela do Safari ao lado para eu consultar alguma documentação. No monitor auxiliar, do próprio MacBook, eu mantenho uma janela do Rdio, para poder controlar minhas músicas, e às vezes uma janela do Finder para eu fazer alguma manipulação de arquivos. O espaço extra que eu tenho tem utilidade. Veja como está minha tela agora mesmo, com esse texto do lado esquerdo (escrito em Markdown) e uma visualização do lado direito:

byword-marked

Para pessoas como eu, um iPad não pode ser uma ferramenta de trabalho. A restrição de um programa por janela é claramente uma desvantagem, uma restição, e não um “convite ao foco”.

Mas não é sobre foco que eu quero falar, e sim sobre dor na coluna.


Durante muito tempo, eu usei meu MacBook exclusivamente puro, sem monitor externo. Há muito o que gostar: a tela é de alta qualidade, o teclado é excelente (tirando que você tem de se acostumar com o padrão americano), já tem câmera e microfone embutido.

O problema é isso:

ergonomics-notebook

(Você também pode ver como um engenheiro desenha e porque precisamos de arquitetos e designers.)

Como resultado do conjunto disso e de anos de má postura em geral, eu estou tendo de fazer Reeducação Postural Global. E por isso que hoje eu não abro mão de ter um monitor grande. Eu cheguei a trabalhar com o notebook sobre um suporte apenas; você não precisa manter o pescoço tão inclinado, mas esse setup não é ideal porque uma tela de 13” meio que é feita para você ver de perto.

Quando tenho de levar o MacBook para algum lugar, para algum trabalho temporário, ele é portável. Eu consigo trabalhar por algumas poucas horas na sua tela pequena. Mas no dia-a-dia, trabalhando efetivamente, eu não posso me dar ao luxo de ficar com o pescoço torto o dia inteiro.
Eu ainda uso meu iPad ocasionalmente, para ler os blogs que acompanho, para fazer anotações na minha dissertação, para fazer alguma pesquisa rápida, ou alguma anotação no meu diário, especialmente quando meu computador está desligado, mas são períodos curtos.

Eu fico me perguntando se daqui a alguns anos vamos ter uma nova epidemia de problemas na coluna, em virtude de todas essas pessoas que trabalham com um iPad. Depois de anos de pesquisa, conseguimos criar o setup ideal, e estamos ignorando tudo que aprendemos.

Eu tenho uma obrigação com o meu futuro eu, com a minha saúde, de estar olhando para uma tela grande — e não para perder o foco, mas para ganhar ergonomia.

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Resenhas de livros

Resenha: The Information Diet

Esse é mais um texto da série “Simplifique sua vida”, na qual eu narro minha jornada para eliminar o máximo possível de complicações, seguindo as ideias do Simple Living Manifesto de Leo Babauta.

Eu já falei aqui de simplificar nosso consumo de informação, mas reconhecidamente fui bastante superficial. Sete meses depois de publicar aquele texto, eu me sinto bombardeado de novo pela quantidade de coisas a ler, ver, escutar e processar. Gosto de ler blogs, escutar a podcasts, ler romances, ler livros de não-ficção. Como achar tempo para tudo isso, e mais importante, para fazer outras coisas além disso?

Foi no blog da Luana Oliveira que notei pela primeira vez o termo dieta da informação, e fiquei bastante interessado. À época, eu já estava sentindo dificuldades de acompanhar tudo, e claro, eu achava que tinha de estar por dentro de tudo. Comecei a simplificar um pouco, lendo menos blogs, abrindo menos o site do jornal, e já não me preocupava mais com esse problema de primeiro mundo.

Mas isso é um vício. Eu leio um artigo em um blog, ele cita outro autor e de repente eu quero ler todos os artigos desse outro blog — e é mais uma coisa a acompanhar. Ou eu quero seguir todo mundo no Twitter, porque vai que alguém diz alguma coisa interessante e eu perdi? E aquela pausa de 5 minutos para ver as notícias, que se transformam em meia hora para saber tudo de um assunto.

Eu não quero isso. Não quero checar o Twitter a cada vez que volto do banheiro. Quero poder sentar com calma e ler todos os meus blogueiros favoritos, pensando sobre o que eles escreveram. Quero voltar a ler romances, um prazer que sempre esteve presente na minha vida e que andava esquecido.

Depois de pensar e pesquisar sobre essa saturação de informação, descobri um livro apropriadamente chamado The Information Diet, de Clay A. Johnson (que, relendo o texto da Luana, vi que ela também mencionou) e, através do O’Reilly Reader Review Program, resolvi lê-lo e ver se aprendo alguma coisa. Um primeiro passo, para criar um plano e gerenciar melhor a informação que consumo

Um aviso: essa resenha se baseia na versão em inglês, mas existe uma tradução em português.

Obesidade de informação

A tese central do livro é uma analogia entre consumo de informação e consumo de comida. Pelo menos nas sociedades “desenvolvidas” (sejá lá o que isso signifique), a obesidade é um problema maior que a fome, principalmente porque existe comida farta de má qualidade: gordura e açúcar, alimentos que evolutivamente aprendemos a gostar, são muito baratos de fabricar e entopem grande parte da comida industrialzada.

Da mesma forma, consumimos informação recheada de publicidade, sensacionalismo e sem checagem básica de fatos, que se tornou barata de produzir e não tem valor algum.

O autor trabalhou durante muito tempo com política americana, e criou a empresa que organizou a bem-sucedida campanha de Barack Obama em 2008. Seu trabalho sempre envolveu os conceitos de transparência e transmissão de informação. E percebeu que, mesmo com todo esse esforço, muitas pessoas não tinham ideia do que falavam. Queriam que o governo “tirasse as mãos” de um programa que é governamental; elas não tinham pouca informação, pois conheciam o programa, mas estavam informadas da maneira errada. Sofriam de obesidade de informação.

A noção de que seu trabalho estava sendo inútil fez com o autor pesquisasse mais sobre o assunto. Por onde os dados sobre um programa criado e mantido pelo governo se desviavam até formar na cabeça de pessoas cultas a opinião de o governo não deveria se meter no tal programa, como se ele tivesse chegado depois e estragado tudo?

A experiência política do autor se faz presente em todo o texto, e isso é o grande problema do livro.

Um dos conceitos que o autor apresenta é de agnotologia (a melhor tradução que encontrei para agnotology, embora existam poucos resultados relevantes no Google), ou o “estudo da dúvida induzida culturamente”. O autor usa como exemplo os “estudos” patrocinados por empresas petrolíferas pondo em dúvida o aquecimento global. É um ótimo assunto, terreno de muito debate científico — mas logo em seguida, Johnson apresenta as porcentagens de Republicanos e Democratas que acreditam em cada lado. O que isso acrescenta ao texto?

Fala também dos filtros que as empresas como Google e Facebook incorporam nos seus serviços, alegando que isso só faz que com acompanhemos pessoas e páginas “com as mesmas crenças políticas”. Para mim, filtrar a News Feed por critérios políticos é o menor dos problemas do Facebook.

Estar mal informado sobre política é um grande problema, com certeza, e uma dieta de informação saudável envolve acompanhar o que acontece na sua cidade de maneira imparcial — mas não é o único problema. Como falei no início do texto, eu consumo informação de diversas fontes (e acho que não sou o único), e esperava que o livro fosse mais geral. Por exemplo, parece que “ver TV” se resume basicamente a “ver programas de notícias”. Twitter e email são apenas brevemente mencionados, como se nem fizessem parte do problema de consumo de informação.

O que eu gostei

No geral o livro me decepcionou por falar demais em política, mas não significa que não aprendi nada. The Information Diet tem três partes; a segunda, homônima ao livro, é a que apresenta um plano para um consumo de informação. Algumas ideias me chamaram a atenção:

  • Se você quer saber mais sobre algum assunto, aprenda a pesquisar. Aquilo que você vê no Jornal Nacional é apenas uma parte, uma visão. E só porque todo mundo compartilhou uma notícia no Facebook não significa que ela é verdadeira.
  • Precisamos exercitar a atenção, treinar nossa mente a focar no que importa. Escrever aquele trabalho vendo televisão não é fisicamente possível.
  • Precisamos ser mais ativos e menos reativos. Isso significa principalmente parar de usar notificações dos smartphones.
  • Vamos tentar evitar ao máximo as fontes que contém propagandas, pois elas poluem visualmente as páginas e geralmente contaminam o que o autor quer dizer (ninguém vai dar sua opinião sincera sobre uma marca que patrocina o seu trabalho)
  • O autor dá a sugestão (que eu já vinha experimentando) de criar uma “agenda” para consumo de informação, como um horário delimitado para ver TV, outro para ler email etc.

Eu vou reler essa segunda parte, e tentar adaptar essas ideias à minha realidade. E provavelmente, pesquisar mais sobre o assunto. Aguardem.

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Por que trabalhar em casa

Matt Gemmell escreveu um texto bastante interessante sobre o assunto cada vez mais discutido de “trabalhar em casa”, falando dos cuidados que se tem de ter, dicas para um melhor rendimento etc.

Eu não vou aqui fazer um texto semelhante porque enfim, ele disse muito bem o que penso. O meu objetivo é discutir por quê eu gosto de trabalhar em casa.

Vamos primeiro começar com a natureza do meu “trabalho”. Quem segue esse site deve saber, mas para os outros, no momento sou estudante de mestrado, agora em fase de conclusão. Minha tarefa primária é escrever a minha dissertação, o que envolve não apenas digitar mas todo o processo por trás — fazer figuras, rever artigos e livros para colocar a referência certa, consultar as normas para rever a formatação, ler e reler à procura de erros. Também estou criando programas de computador para fazer os cálculos de que preciso para reforçar as minhas conclusões.

Para a grande parte dessas atividades eu preciso apenas de um computador. Meu trabalho envolve uma parte experimental, de laboratório, mas isto felizmente já foi concluído. Eu também dependo de poucos pessoas, e não faço parte de nenhuma “equipe”, pelo menos não no sentido corporativo. Troco emails com meu orientador e com alguns colegas.

Meu ponto principal é que posso trabalhar em casa. Também poderia levar o meu computador para a universidade, ou usar o de lá. Vamos analisar por que prefiro a primeira opção.

  • Trabalhar em casa é economizar dinheiro. Primeiro, há o custo de ônibus ou da gasolina; depois, a alimentação. O restaurante universitário da UFSC não está funcionando (além da comida ser péssima), e os preços praticados pelos restaurantes da região são muito altos — apesar de serem muito mais baratos que em outras regiões. Estou cada vez mais convencido de que, a não ser que você tenha um bom vale-alimentação, comer fora virou atividade de luxo. Para piorar, o laboratório onde trabalho tem uma política de não permitir que as pessoas levem almoço — temos muito a aprender com a Europa em alguns aspectos.
  • Ficando em casa, eu não preciso pegar trânsito. Já se tornou rotina demorar uma hora e meia num trecho em que há dois anos demoraria 20 minutos. Já passei da idade de discutir política, e não vou aqui fazer um longo discurso sobre carros e transporte público. O trânsito é ruim; não precisar encarar isso todo dia é uma economia de tempo e um alívio mental.
  • Eu me considero uma pessoa bastante disciplinada. Eu não sofro tentanções em tirar uma soneca ou ver Friends só porque não tem ninguém olhando (por isso não vejo razão para seguir as dicas de Matt Gemmell e instalar programas que bloqueiam diversos sites). Se é para trabalhar, vamos trabalhar. Ainda mais porque meu trabalho só interessa a mim; se eu ficar deitado o dia todo, eu não vou ser demitido, mas vou perder o prazo e não ser aprovado.
  • Um ambiente de trabalho é um ambiente social, e como tal as pessoas querem socializar. Eu adoro conversar com meus colegas, e muitas vezes nessas conversas aprendo mais que lendo um livro. Entretanto, eu não tenho uma sala só para mim (nem gostaria de ter), e ao longo de um dia temos inúmeras distrações de pessoas entrando e saindo, mais o telefone tocando, mais aquele colega que quer fazer uma fofoca. Como uma pessoa naturalmente introvertida, poucas coisas matam mais a minha produtividade que essas pequenas distrações. Em casa geralmente há poucas pessoas, o que signifca menos distrações. E continuo tendo os fins de semana e WhatsApp para socializar.
  • Pequenas liberdades. Como falei, sou uma pessoa disciplinada, e consigo render trabalhando em casa. Isso me dá direito a certas liberdades; por exemplo, depois do almoço, posso querer ler uns capítulos de um livro que estou lendo. Eu sei que já rendi de manhã e que vou conseguir cumprimir minhas metas de tarde, então me dou esse luxo. Tiro uma hora e meia de almoço e não apenas uma hora.

Trabalhar em casa tem sido uma experiência ótima, e pretendo explorar ao máximo isso no meu futuro, sempre que possível.

Um último recado, porêm, para reforçar um ponto do Matt. Se você resolver experimentar ficar em casa, vista-se. Você está trabalhando, e você não trabalharia de pijamas e nem de bermuda de praia. Eu sou tão paranóico que às vezes entro no espírito e fico até de sapatos (para espanto da minha mãe), tamanho é o impacto psicológico.

E você leitor, trabalha em casa? Gostaria de poder fazer isso? Compartilhe nos comentários.

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Simplifique suas compras

Esse é mais um texto da série “Simplifique sua vida”, na qual eu narro minha jornada para eliminar o máximo possível de complicações, seguindo as ideias do Simple Living Manifesto de Leo Babauta.

Eu sei que parece ridículo um estudante que mora com os pais falar de compras e finanças, mas preste atenção.

Quer você ganhe uma bolsa de R$ 500 ou um salário de R$ 20 000, o seu dinheiro ainda assim é finito. Você pode fazer o possível para viver dentro dos R$ 500, e conseguir, ou pode gastar mais que os seus R$ 20 000 e viver cheio de dívidas. Dinheiro precisa ser administrado.

Baseado nas pessoas que conheço, um dos comportamentos humanos mais previsíveis é que as pessoas sempre querem ganhar mais. Quem está satisfeito com o que ganha? Assim, quando você vê algo que quer comprar, mas não pode, surgem problemas. Você se torna infeliz no trabalho, porque ele não está lhe permitindo comprar o que você deseja. Você se torna invejoso das pessoas que ganham mais e podem (na sua cabeça) comprar tudo o que querem. Essa angústia atrapalha a sua vida, e não lhe permite viver suas prioridades; por exemplo, se você quer passar mais tempo mais com sua família, talvez não possa trabalhar tanto, mas com isso não vai ter tanto dinheiro para comprar tudo que quer. O que é mais importante para você?

Por outro lado, se você tiver dinheiro sobrando e comprar tudo que quiser, você cria outros problemas. Você não consegue mais manter seus ambientes limpos, porque precisa de lugar para guardar suas coisas. Também precisa de tempo para cuidar da manutenção de tudo, o que tira tempo das coisas que importa.

Assim, quando queremos comprar e gastar demais, nossa vida fica complicada.

A solução de Leo Babauta para isso é escapar do materialismo:

This message to continually buy, buy, buy … and that it will somehow make us happier … is drilled into our heads from the days of Happy Meals and cartoons until the day we die. It’s inescapable.

Well, almost. You could go and live in a cabin in the woods (and that actually sounds nice), or you could still live in our modern society, but find ways to escape materialism.

Não se trata aqui se fazer pregações contra o capitalismo ou algo do tipo. Como Leo diz, a solução não é ir morar na floresta, mas saber frear o nosso desejo de consumo.

Evite propagandas

O primeiro passo para gastar menos é querer gastar menos, ou melhor ainda, não querer gastar mais.

A propaganda tem um objetivo: fazer você querer comprar. Não vamos ser ingênuos e dizer que a propaganda é “a raiz de todo o mal”, e os publicitários são criaturas malvadas que querem que você gaste todo seu dinheiro por sadismo. É apenas um trabalho: alguém fabrica um produto, quer que as pessoas conheçam esse produto, e contrata outro para fazer propaganda.

E propaganda nem sempre é ruim. Se você precisa comprar uma geladeira, e abre uma revista e vê uma propaganda de algum modelo novo de geladeira, pode ficar interessado e resolver seu problema. Ou você está procurando um presente para sua mãe e vê um anúncio de promoção da sua loja preferida de cosméticos.

O problema é você criar o desejo de comprar baseado na publicidade que vê. Um produto repentinamente vai resolver um problema que você nem sabia que tinha.

É pior ainda quando você tem fraqueza por algum tipo de item e fica constatemente em contato com propagandas. Se você tem compulsão por sapatos, não deve se arriscar olhar um catálogo de sapatos, porque você vai querer comprar todos, e não vai ter dinheiro, e vai se frustrar…

Eu me considero uma pessoa de gostos simples. Não tenho fetiche por roupas, não gosto de “baladas”, gosto do meu carro simples e econômico. Como já devo ter falado algumas vezes aqui, minha fraqueza são apps (e a tecnologia em geral). Se eu não tomar cuidado, todo dinheiro que sobra vai para comprar algum aplicativo novo que saiu, e que de repente vai me ajudar a ser megaprodutivo.

Quando você se interessa por esse mundo tech, é usual seguir minhas pessoas no Twitter e muitos blogs e podcasts que vivem falando justamente dos apps e gadgets novos que saíram e mudaram a vida de “toda a gente” (saudades de Portugal).

A minha solução então foi parar de seguir essas pessoas. Se alguma pessoa só usava o Twitter para dizer “look how cool is this app“, o que basicamente inclui todos os blogueiros do mundo Apple, ela saia da minha timeline. Se um blog ou podcast é só uma longa conversa sobre apps e mais apps, eu tiro ele da minha lista.

Eu continuo gostando do assunto, mas eu não me exponho a essa propaganda frequente. Eu continuo lendo alguns blogs e acompanho o mínimo de lançamento de apps, pesquisando com calma se algum me interessa. Não quero ninguém me obrigando a comprar nada, nem me dizendo que eu preciso de uma tela Retina.

Assim, se você acha que está gastanto demais com algum item, simplesmente se afaste. Não visite aquele site de viagens que vive fazendo propaganda de mochilas, nem leia aquele revista de moda com “dicas irresistíveis”. Sempre haverá alguém dizendo que você tem de comprar. Apenas diga não.

Mantenha uma lista de desejos

As compras por impulso são as grandes inimigas, como deve ter ficado claro. E existe uma solução que também funciona surpreendemente bem, tanto que aparece em praticamente todos os livros e blogs sobre finanças pessoais.

Basicamente, você deve manter uma lista de desejos, anotando tudo que você quer comprar.

Quando você vê algo que deseja (e claro, não é um item de necessidade primária como comida), pare e anote. Dê a si mesmo um tempo para pensar naquela compra (pelo menos um mês). Se ao final desse período você concluir que tem dinheiro para comprar, e acha que o produto vai ser bom, compre. Mas pode ser que você simplesmente desista, e perceba que foi só um pensamento passageiro. Você conseguiu vencer o impulso.

Vou dizer como eu faço. Eu uso o Evernote (recomendo visitar o site do Vladimir Campos, Embaixador de Viagens do Evernote), e mantenho um caderno com tudo que quero comprar. O principal para mim, claro, são apps. Mas também marco os livros que quero comprar, até alguma roupa, algum restaurante que quero ir. Uma vez por mês, quando dou uma organizada geral nas minhas finanças, eu olho esse lista e vejo o que está há mais de um mês lá. E compro o que quero — sem impulso.

Também recomendo definir categorias para seus gastos, de onde você tire fundos para os itens da sua lista de desejos. Se algo não cabe no seu orçamento mensal, guarde um pouco por mês. Mas não crie dívidas desnecessariamente. Já falei que gosto do YNAB para gerenciar minhas finanças.

Eu sou nerd e gosto de usar essas coisas tech ( que já admiti que são uma tentação para mim) , mas você pode começar com um caderno de papel e anotar tudo que quer comprar, e criar uma planilha bem simples para seus gastos (o Gustavo Cerbasi tem um modelo que eu gostava bastante antes de usar o YNAB — procure nessa página por “Orçamento Familiar Mensal”).

Invente programas que não envolvam dinheiro

Por fim, uma pequena dica que pode ter um impacto grande. Tente se divertir sem gastar muito. Và à praia, dê uma caminhada, faça um piquenique. Veja a programação da cidade. Muitas vezes existem eventos culturais de graça, ou uma promoção de cinema. Ou simplesmente fique em casa, veja um filme, pratique suas habilidades de cozinha.

É claro que é bom sair, ir jantar num restaurante, especialmente se você está num relacionamento. Mas valorize esses momentos, escolhendo lugares bons, e aproveitando os outros momentos. Você quer a companhia da sua namorada ou apenas impressioná-la com seu dinheiro?

Conclusões

Aí está, o que fiz para escapar um pouco do materialismo. Funciona para mim, “apenas um estudante que mora com os pais”, mas como falei, não vejo como isso não é universal. Você só não pode deixar que comprar e gastar se torne uma atividade importante demais na sua vida. Simplificar é poupar nosso tempo e nossa atenção para o que realmente importa.