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Resenha: Dinheiro: os segredos de quem tem

Há algum tempo, publiquei uma série de textos  sobre um dos meus livros preferidos de finanças pessoais. A releitura de alguns conceitos me incentivou a fazer uma revisão geral da minha organização financeira, incluindo ler algumas outras obras.

O primeiro que li foi o ótimo Dinheiro: os segredos de quem tem (Editora Gente, 2010), do famoso autor de finanças Gustavo Cerbasi. É o seu primeiro livro e um dos menos conhecidos, mas o título provocativo sempre me provocou uma curiosidade em ver o que ele tem a dizer num nível mais fundamental e geral, sem falar de finanças de casais ou aposentadoria, como outros livros mais recentes e mais famosos.

Dinheiro é um livro prático introdutório sobre finanças pessoais, focando em ensinar o leitor na construção de riqueza, aqui definida pelo autor como o estado em que o indivíduo tem uma renda perpétua segura suficiente para cobrir todos os seus gastos. Quando o leitor atinge uma massa crítica de investimentos que renda mensalmente uma quantia suficiente para viver de maneira confortável, pode se aposentar, mas não deve parar de trabalhar (como Cerbasi afirma e eu concordo, trabalhar faz muito bem para a alma). Mas se o faz, é no que quer e porque quer, já que ele não precisa do salário para sobreviver.

Já faz uns cinco anos que me interesso e me aprofundo cada vez mais no assunto de finanças pessoais, então muitos dos conceitos que o autor apresentam não são novos para mim, mas Dinheiro tem dois aspectos que achei muito interessantes:

  • Assim como A Árvore do Dinheiro (revisada na minha série já citada), Dinheiro argumenta que discussões sobre dinheiro devem começar pelo que ele não compra. Como pesquisas e a experiência comum mostram, o prazer que se obtém quando se compra algo novo é bastante efêmero e pode levar a uma vida vazia. Não vamos ser ingênuos: é importante ter dinheiro sim, pela segurança que ele traz, mas escapar do materialismo é uma das melhores maneiras de enriquecer. Quanto menos você precisar para sustentar o seu “padrão de vida”, mais fácil será acumular a massa crítica, e você não terá tantas posses que requerem cada vez mais gastos.
  • Enriquecer demanda conhecimento e tomada de boas decisões, e isto exige fazer cálculos. Pode ser a minha cabeça de engenheiro, mas a ênfase na matemática financeira, mostrando para o leitor como quantificar o efeito dos juros compostos (que é o faz a pessoa enriquecer), das taxas e da inflação, é uma das melhores características do livro. Cálculos cuidadosos ilustram uma das melhores seções de Dinheiro, em que o autor se junta ao debate “o que é melhor, comprar ou alugar?”.

Ao longo do livro, Cerbasi mostra como construir um plano de riqueza, começando pela definição da sua renda desejada (na qual o primeiro aspecto acima é importante), passando pela escolha de investimentos e cálculo de quanto é preciso investir a cada mês, até um plano concreto de investimentos.

A minha principal crítica é que o autor se mostra um pouco incompleto nos exemplos de cálculos de rendimento. No caso de investimentos em renda variável, é difícil prever a taxa de retorno dos investimentos, e acho que o autor poderia dar um pouco de cobertura a essa área (mostrando alguns exemplos). Pode haver a impressão de que qualquer tipo de investimento informa a taxa de juros como uma informação pronta. Além disso, minha mente de engenheiro me leva a questionar se as projeções tão cuidadoas do autor fazem sentido num cenário de incerteza inflacionário como o nosso. Reconheço que eu mesmo devo comparar o rendimento da minha carteira com estes cálculos para poder ter mais certeza sobre isso.

Pessoalmente, recomendo a leitura de Dinheiro. O autor escreve bem e o livro é de leitura fácil. Se você está começando, leia esse em parceria com A Árvore do Dinheiro e veja o que eles têm em comum e de diferente; você terá uma boa base para começar a investir. Se você já tem experiência em investimentos, acho que sempre é bom revisar o básico, porque isso dá uma base muito mais profunda para nos aprofundar no assunto. Enriquecer passa por um ciclo contínuo, de se informar sobre investimentos e, claro, investir sempre em soluções inteligentes.