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Revisão do meu Ano da Diversão

Há algumas horas, eu digitei o restante das notas pendentes dos trabalhos de 2021 dos meus alunos. Antes disso, eu estava na praia com meu filho. Hoje é o penúltimo dia do ano, e este dia, tal como este ano, foi um misto entrelaçado de trabalho e lazer. Do trabalho não há como escapar, e é justamente por isso, principalmente para alguém ansioso como eu, que é bem fácil esquecer de relaxar e de aproveitar a vida. Por isso, o meu tema do ano de 2021 foi diversão.

O Ano da Diversão para mim é simbolizado pelo piano. Em 2021, mesmo ministrando 5 disciplinas, mesmo tendo um filho e uma esposa, mesmo tendo uma casa para cuidar, eu voltei a tocar piano. Eu pratico o número de horas necessárias para me tornar bom? Certamente não, mas isso não importa para mim. Eu não quero ser bom, eu quero me divertir. Já renovei meu plano da MusicDot para 2022.

Outro ponto forte de 2021 foram os finais de semana. O longínquo Ano do Nosso Senhor de 2020, para mim, foi o Ano Sem Finais de Semana, tentando conciliar trabalho e paternidade. No começo deste ano atual, eu determinei que eu não trabalharia aos finais de semana. Não consegui eliminar totalmente o trabalho ocasional, mas também foi porque tive uma rotina mais leve durante a semana. Eu não me importo de estudar um pouco aos sábados, se isso me permite ir correr ou mesmo tocar teclado no meio de uma terça-feira. O mais importante para mim, e isso sim eu cumpri, foi priorizar minha família; eu nunca deixei de levar meu filho ao parquinho ou tomar um café com minha esposa para trabalhar; eu tentava encaixar na volta do passeio

O meu tema do ano estava anotado no meu Bullet Journal e no meu Evernote, e revisitado constantemente em busca de ideias. Eu preciso revisar uma aula difícil; é possível colocar uma música legal e me divertir enquanto faço isso? Eu ganhei um dinheiro inesperado no meio do ano; a compra de uma cafeteira vai tornar o meu escritório mais agradável, e minha vida mais prazerosa? Eu sei que deveria adiantar mais aulas e trabalhos dessa semana, mas o que eu realmente quero fazer nesta noite é pedir uma pizza e assistir La Casa de Papel com minha esposa – é possível?

Novamente: o trabalho nunca acaba e férias acontecem só uma vez por ano e dificilmente são de verdadeiro descanso integral. Minhas férias começam em janeiro, mas há um concurso para professor efetivo no meio de ano, então adivinhem quando tenho tempo para me preparar de fato? O meu Ano da Diversão me preparou para este desafio: a cada dia, eu vou brincar com meu filho, vou sentar com ele na rede e ler um livro, e vou estudar tomando um café espresso. Vou sair com ele de manhã e escrever artigos e projetos de tarde, enquanto toca uma boa música clássica (que eu adoro) em um dos meus presentes de Natal; vou então fazer uma pausa, descansar um pouco com minha família, e quando ele for dormir vou pegar os meus livros preferidos de Termodinâmica e devorar. Em algumas noites, vou ficar lendo; em outras, vou ver um filme com minha esposa. De qualquer maneira, vou tentar me divertir, e vou escolher alguns dias para de fato focar na diversão; eu moro em Joinville e não conheço nenhuma praia da região!


Um adendo para mostrar como minha mente funciona: no que eu escrevo estas palavras, minha ansiedade quer me classificar como preguiçoso e quer me empurrar a estudar e trabalhar cada vez mais. Por isso, fui perguntar a minha esposa se ela acha que eu me diverti mais neste ano; ao final de dois minutos embaraçosos, ela me respondeu: “talvez, mas com certeza você também trabalhou bastante, mais que 2020”.

Ser nerd e ter um sistema de temas para melhorar minha vida é muito importante.


Como foi o ano de 2021 de vocês?

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Como se lembrar de ideias importantes sem necessariamente decorar

Recentemente, minha esposa e eu conversámos sobre os problemas de um familiar e como ajudar essa pessoa e, à medida que ela falava, minha mente imediatamente se voltou a dois tópicos relacionados:

  1. As reflexões que minha terapeuta proporcionava sobre o impacto de amar e ser amado: se você só se dedica aos outros, sem nunca ter tido a oportunidade de se sentir cuidado(a), você está pronto(a) para ter problemas emocionais;
  2. As ideias das Oficinas de Oração e Vida e de Frei Ignácio Larrañaga sobre o “Deus da Ternura”, de como o caminho para encontrar Deus passa por “deixar-se amar” e abandonar os problemas nas mãos d’Ele

Por que e como minha mente fez esse caminho, juntando dois conceitos claramente similares mas de fontes diversas, e tentou aplicar a teoria a um problema prático?

Tenho refletido sobre esse episódio desde que li sobre o conceito de prática produtiva de Luc Beaudoin em Cognitive Productivity: você deveria treinar ativamente lembrar conceitos importantes, usando flashcards e “provas” que você aplica em si mesmo, mas não para fins acadêmicos e sim para resolver problemas do seu trabalho e da sua vida. O fluxo de trabalho ideal é: você lê, assisti ou ouve a algo valioso de onde pode extrair conhecimento; você toma e armazena notas sobre isso; e regularmente pratica lembrar deles.

Eu sou professor; eu não deveria adorar o conceito de “provas para a vida”? Por que, então, esse conceito não me atrai nenhum um pouco? Como eu consegui lembrar das ideias anteriores sem nunca ter “treinado produtivamente”?

Para mim, a chave está na reflexão – regular, diária, e escrita.

A própria prática de terapia e oração me ensinaram a meditar e refletir sobre assuntos variados. Quando meu filho está brincando na rua, e claramente está entretido observando os pássaros e quer ficar zanzando pelo nosso quintal sem minha interferência, eu aproveito para pensar. Quando tenho de dirigir 2 horas por uma estrada e minha família está dormindo, eu me pego murmurando ideias. Quando estou lavando louça, eu estou refletindo sobre algum tópico.

Frequentemente, ao sair de uma sessão de terapia, eu ia caminhando ou dirigindo até minha casa, pensando sobre o que tínhamos acabado de conversar; é nesses momentos que comecei a pensar sobre todas as pessoas que esquecem completamente o tempo para si, ficam emocionalmente carregadas, e depois descontam nos outros. Após ministrar uma sessão das Oficinas, minha cabeça começava a viajar pensando na visão errada de alguns de que “Deus é castigo”, de que Ele só está preocupado com o pecado e que se divertir é errado.

Além disso, todo dia eu rezo, todo dia eu leio a Bíblia, todo dia eu escrevo reflexões no meu diário.

Eu entendo que isso não é tão produtivo quanto a abordagem de Beaudoin, pois minha memória só surgiu depois de um trabalho diário por muitos anos. Mas não pareceu trabalho; eu simplesmente vivo e reflito sobre o que leio, ouço, converso, experimento.

Eu digo aos meus alunos no primeiro dia de aula: a chave do sucesso nas minhas disciplinas é tomar notas do que eu falo. O ato de escrever uma ideia, de alguma forma, sedimenta-a no seu cérebro. Na próxima aula, você pode revisar essas notas, re-escrever algum parágrafo que pode ser melhorado, complementar com algumas informações novas.

Eu concordo com o supra-citado livro de que não é tão simples dizer “estudantes não deveriam ter de memorizar”, já que o conhecimento vem da memória de alguma forma ou de outro, e algum grau de decoreba geralmente é necessário. Eu já escrevi sobre como eu estudei tanto para ministrar uma disciplina de Máquinas Térmicas que eu ainda me assusto com a quantidade de coisas de que eu consigo me lembrar sem precisar consultar livros – e eu nunca “me testei” em relação a esses conceitos. Só acho que usar Anki não é o melhor caminho.

A minha filosofia não é de hacks, mas do estudo (concentrado, para não tomar muito tempo), da profundidade, da mistura entre Cal Newport e Austin Kleon.

A leitora frequentemente precisa decorar informações? Como faz?