Se eu algum dia tiver de fazer um discurso em alguma formatura para (supostamente meus) estudantes, eis algo que falaria: não se esqueçam das habiliades que vocês aprenderam durante a faculade e não pensem que elas só se aplicam ao seu “emprego”.
Eu sou um engenheiro mecânico. Nunca trabalhei como um per se (por toda a minha curta vida profissional trabalhei em universidades, ainda que em parcerias com empresas), mas sim, eu me considero um engenheiro. Não é meu trabalho ou minha ocupação, mas é uma parte integral da minha personalidade. Quando me deparo com algum objeto novo, não consigo evitar pensar em como ele foi fabricado (isso que as disciplinas de fabricação foram as de que eu menos gostei). Quando eu ponho água para ferver, naturalmente eu filosofo por alguns momentos no que está acontecendo, termodinamicamente, à água. E me dói a cabeça ver um ar condicionado na parte inferior de uma parede (é raro mas acontece, acreditem).
Eu tenho pensando muito sobre isso desde que me formei. E ainda assim, muitas vezes me esquecia de uma importante lição de engenheria e fazia muitas coisas erradas em relação a uma das atividades que mais me traz prazer: cozinhar.
Não faz muito tempo, eu assisti a Julie & Julia, um filme absolutamente maravilhoso sobre culinária (não vou dar nenhum detalhe sobre o roteiro, então apenas logue no Netflix e assista), que me lembrou de algo que eu vinha negligenciano: cozinhar demanda esforço. É uma forma de expressão de ciência que requer amor e cuidado. O maior objetivo de alguém que cozinha deveria ser reunir pessoas queridas e aproveitar boa comida. E é aí que entra a lição esquecida: precisão.
Eu muitas vezes tenho a pretensão de me considerar um bom cozinheiro. E minha escola de pensamento vai nas linhas de “esqueça as medidas e o trabalho duro, vamos simplificar coisas e comer uma comida boa”. Vamos apenas jogar essa pizza no forno por alguns minutos, ou deixar esse molho ferver, e quem se importa com contar o tempo. Mais frequentemente que eu gostaria de admitir, minha comida estava levemente queimada, ou com excesso de algum ingrediente, ou apenas sem gosto nenhum.
Precisão e o poder das medidas são pilares de engenheria. Lord Kelvin (lembra das aulas de Física e da escala aboluta de temperatura?) dizia que medir é necessário para conhecer. Eu venho treinando para ser um cientista e uma grande parte disso é estudar estatística para melhor quantificar a precisão (embora, tecnicamente falando, precisão não é um termo técnico) de um resultado. O que não é medido não pode ser melhorado. E da mesma maneira que as dimensões e formas dos nossos objetos cotidianos são o resultado de muitos testes, também as quantidades dos ingredientes e os tempos de cozimento não são aleatórios.
É claro que, com o tempo, você pega o feeling da coisa e passa a ter uma noção melhor das proporções, mesmo sem olhar a receita e medir cuidadosamente. Mas a culinária é ciência, e a ciência requer pelo menos que pensemos.