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Desacelere no trabalho para fazer mais e melhor

Se você quer ficar bom em algo, desacelere.

Kourosh Dini
Kourosh Dini, pianista, escritor e psiquiatra, falando sobre treinar uma música mais devagar. Recomendo fortemente o canal dele para seus vídeos semanais de “recitais” de piano e sintetizador

Sim, eu também faço isso: para cumprir prazos, eu quero fazer as coisas na pressa – e aí demora mais do que se eu tivesse feito as coisas com calma.

Exemplo prático e real no mundo da Engenharia: eu recebi uma demanda de implementar um algoritmo de cálculo estrutural no programa que minha equipe e eu desenvolvemos. Eu sou Engenheiro Mecânico, e gostava bastante da área de Mecânica dos Sólidos na faculdade; mas depois segui carreira acadêmica nas Ciências Térmicas, e meus conhecimentos atrofiaram (infelizmente). Quando eu recebi a tarefa, varri o nosso código (que é bastante extenso, e inclui já uma parte de cálculo estrutural) em busca de fazer uma alteração rápida.

O problema é que eu não estava entendendo nada, e eu precisava desacelerar. Corri então para a biblioteca, li livros e diversos artigos, começando desde a Introdução, e agora posso ficar em paz e dizer: “entendo o que precisa ser feito!”.

Alterações em softwares nunca são filhas únicas. Esse tempo “perdido” lendo livros introdutórios vai ser compensando porque, quando outras alterações forem solicitadas (e vão ser), eu já entendo a teoria (e tenho diversas notas nos meus cadernos para serem consultadas), e posso partir diretamente para a implementação.

Recentemente, promovi uma grande refatoração no nosso programa, mudando nomes de variáveis internas e documentando cada função. Os nossos clientes não ligam absolutamente nada para isso, e esse mês foi aparentemente “desperdiçado” nessa tarefa lenta e árdua sem nenhum resultado concreto – mas novamente, cada nova alteração é facilitada porque o programa está mais fácil de entender.

Obviamente, como tudo na Engenharia, é uma questão de otimização de recursos. Minha personalidade que gosta de estudar tenderia e querer ler vários livros e artigos, e indo nas referências de cada um, até entender com máxima profundidade o assunto. Mas, após me sentir em paz, eu decido que o estudo é suficiente e é hora de implementar.

Fora que, ao fazer as coisas com calma, a probabilidade de fazer correto é maior – e não é isso que importa?

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Como decidir quando é hora de parar de trabalhar em um projeto e partir para o próximo

Vamos imaginar o seguinte cenário comum: você está trabalhando em algo que vai demandar vários dias para completar. Aliás, você tem diversas demandas em paralelo que precisam ser trabalhadas todo dia, por vários dias. O malabarismo é alternar entre as diversas atividades nos intervalos entre reuniões.

Há quem defenda a estratégia de trabalhar com foco e energia total em uma única coisa, o dia inteiro, até acabar com a tarefa #1; depois, passa-se para o mesmo regime na tarefa #2 e assim por diante. Eu não gosto disso porque, além de cansar bastante o hábito de dedicar 8 horas a uma única coisa, eu gosto de trabalhar mais picado para que as ideias de um projeto “vazem” para outro. Se estou implementando um algoritmo para um programa, de repente tenho ideias sobre a documentação e testagem de outro programa, e quero passar para o projeto 2 o mais rápido possível para não perder o pensamento.

Porém, se eu trabalho em várias coisas por dia, como decidir quando está na hora de acabar com uma sessão de trabalho e passar para o outro?

A resposta para mim vem da religião. Como diz Frei Ignácio Larrañaga nas Oficinas de Oração e Vida e em seus livros, o critério mais fácil para se conectar com Deus é a paz; se você está em Paz, você está com Deus, agora, neste exato momento e neste local. Lembra da oração da paz na Missa? “Eu vos deixo a Paz, eu vos dou a Minha Paz”…

Portanto: quando você fica em paz com seu trabalho, quando é capaz de dizer “fiz o suficiente por hoje” sem mentir para si mesmo, é hora de parar de trabalhar. Aliás, é melhor parar de trabalhar agora, antes que você continue na sua tarefa, encontre problemas e perca a sensação de paz…

Isto vale também para o encerramento do dia de trabalho. Eu não quero voltar para casa e preparar a janta para meus filhos enquanto penso no que deu errado; isto requer que eu dedique tempo a “amarrar as pontas soltas”, rever o que falta de cada projeto, deixar tudo anotado, até que eu esteja em paz.

Você está em paz com seu trabalho?

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3 objetos sem os quais eu não poderia viver

A sugestão de prompt do WordPress hoje é essa:

Quais são os três objetos sem os quais eu não poderia viver?

Sem pensar muito profundamente, olhei para a minha mesa e vi esse arranjo:

e pensei: aí estão 3 objetos singelos que estão sempre comigo e que são realmente fundamentais:

  1. Caderno: já falei aqui sobre a minha prática de manter um caderno. Quando estou me sentindo mal, é ali que desabafo. Em um dia de trabalho, uso para anotar minhas tarefas. Quando estudo, tomo notas – e para isso preciso de :
  2. Caneta: eu tomo notas de tudo. Mesmo em casa, com meu filho mais velho, brinco de desenhar os personagens preferidos dele (geralmente da Patrula Canina). Com a minha esposa, anotamos os gastos da nossa próxima viagem. Eu já fui o tipo de pessoa que sonhava em “viver sem papel”, mas agora eu não consigo viver sem a sensação de escrever com caneta em um pedaço de papel. Também já foi do tipo que comprava canetas caras, mas agora eu tenho mais o que fazer. E quanto escrevo, é bom tomar água ou café em uma…
  3. Caneca: mas poderia ser uma garrafa. Ter água ou café sempre à mão é o que me permite e concentrar no meu trabalho, e o que dá combustível e refrescância para passar com a família nesses dias quentes.

Aí estão: três objetos simples, que representam instantes agradáveis em casa e no trabalho. A vida é melhor com uma boa bebida enquanto registro meus pensamentos.

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Para ser mais produtivo (e ter uma vida mais simples), confie na sua intuição

Na tentativa de fazer o meu trabalho da melhor maneira possível, eu estou sempre me debatendo entre dois caminhos:

  1. Seguir rotinas fixas (trabalhar um em programa de manhã, escrever artigos à tarde), ou
  2. Priorizar o que é mais importante a cada dia, mesmo que isso signifique sair da rotina.

Eu tenho seguir o caminho 1, mas hoje foi um dia que segui o caminho 2. Para fechar um excelente mês, eu quis terminar de estudar um livro sobre visualização de dados, e largar todo o resto. Por quê? Porque eu achei que devia ser assim.

Aqui vai uma dica para os que estão iniciando a carreira: quando em dúvida, priorize a sua intuição.

Não lembro onde li, mas sei que foi David Allen quem escreveu – provavelmente na última edição de A Arte de Fazer Acontecer – que uma das melhores maneiras de priorizar uma lista longa de tarefas é se basear na intuição. Na ausência de outros indicadores como prazos ou pressões de chefes, o que você realmente acha que precisa fazer? Se você tem esse sentimento interno forte, provavelmente é porque essa ação em si é de fato importante.

Em O Caminho do Artista, Julia Cameron escreve:

Sempre ouvi fortes apelos internos. Ordens de comando, como costumo chamar.

Sidney Lumet em Making Movies, falando sobre como ele escolhe os projetos quando alguém vai falar com ele sobre alguma ideia ou roteiro, e como ele decide "imprimir" os filmes quando está satisfeito com uma tomada (numa época em que os filmes eram literalmente impressos e revelados):

A primeira decisão, é claro, foi fazer ou não o filme. Eu não sei como outros diretores decidem. Eu decido completamente instintivamente, muita vezes após apenas uma leitura. Isto resultou em filmes muito bons e filmes muito ruins. Mas é a maneira com que sempre fiz, e estou velho demais para mudar agora. […] Mas o que me leva a dizer "Imprimir" é completamente instintivo. Às vezes eu o digo porque eu sinto dentre de mim que foi uma tomada perfeita, que nós nunca vamos melhorar. Às vezes é porque está piorando a cada tomada. Às vezes não é escolha.

(Tradução livre minha, e ênfase minha).

Em How to Take Smart Notes, Sönke Ahrens relata que um experimento mostrou vídeos de paramédicos iniciantes e experientes atendendo a instrutores da profissão. Os instrutores não conseguiram classificar: acharam que os reais iniciantes eram experts e vice-versa. Eles mediram o grau de expertise pelo seguimento das regras que foram ensinadas, o que é mais presente em quem recém começou a trabalhar. Experts desenvolvem a sua intuição e quase não pensam mais no trabalho, mas isso significa quebrar as regras quando a situação exige.

Como estou no Ano de Simplificar, preciso levar em conta que às vezes as rotinas de trabalho, as regras, atrapalham. Em vez de ficar alternando entre todos os meus projetos, hoje eu simplifiquei o meu dia priorizando finalizar um projeto importante (sem deixar de atender quem veio me procurar para dúvidas). Para o próximo mês que se inicia amanhã, sinto-me muito mais preparado, justamente com o tanto que estudei neste mês para projetos importantes.

Para o mês de março de 2023, o que a sua intuição diz que você deve priorizar?

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Por que uso o PyCharm ou: uma história sobre complicar para simplificar

O que vou falar aqui não combina muito com o Ano de Simplificar, mas vale a pena ser dito: às vezes, complicar torna a vida mais simples.

O meu trabalho envolve programar muito em Python, como vários outros pesquisadores do mundo. O editor da moda é o Visual Studio Code, que tem um visual mais minimalista e de fato é muito bom.

O problema é que apenas o editor não é suficiente para meu trabalho: eu preciso de um terminal de linha de comando e de ferramentas de controle de versão. O VS Code têm tudo isso, mas aí a sua simplicidade começa a sumir… E é aí que eu resolvi abraçar a complexidade e usar um editor mais profissional, PyCharm.

PyCharm não é um programa simples ou fácil de usar: há inúmeros painéis, menus, caixas de diálogo, atalhos. Mas agora, tudo que eu preciso está em um só programa – e aos poucos, estou aprendendo a navegar nessa complexidade e me tornando mais produtivo e eficiente no meu trabalho.

E no seu trabalho? Que passo adicional em relação à complexidade a leitora pode adotar que vai tornar a vida mais simples, na verdade? Que software/metodologia/ferramenta o leitor está com medo de abraçar pela complexidade, mas que vai facilitar a vida?

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A Regra dos 3

Essa ideia não é minha, não é revolucionária, mas faz muito parte da minha vida e precisa ser compartilhada:

Faça tudo aos três

Este texto explica em mais detalhes, mas foca muito na escrita e em apresentações: quando for fazer uma apresentação, concentre-se na três ideias principais; ou quando for escrever, estruture em introdução, desenvolvimento e conclusão.

Mas há mais exemplos da Regra dos 3:

  1. Toda semana, escolha 3 metas e todo dia, escolha 3 tarefas mais importantes (MIT); se o dia/semana for caótico e você conseguir cumprir as 3 MITs, o dia foi um sucesso (para mergulhar mais nisso, leia Getting Results the Agile Way
  2. Quando você ouvir falar de uma tecnologia/livro/filme pela terceira vez, é sinal de que não apenas um hype e vale a pena ir atrás (eu vi essa dica em algum lugar, mas não consigo de jeito nenhum achar a fonte
  3. Quando for sentar para fazer um lote de atividades mundanas de uma lista enorme, faça 3 itens e deixe o resto para outro dia (3 voltas em um sábado de manhã, 3 contas a agendar o pagamento, 3 emails a mandar).

Experimente a Regra dos 3 e me diga aqui em baixo se isso não mudou a sua vida.

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Forçando-me a seguir objetivos com Todoist

Eu falei recentemente que nesse mês eu tenho tentado ser mais intencional com meus objetivos para tentar vencer o estresse. Quero ter noção clara de que estou avançando no que quero avançar.

Em junho, eu me coloquei três objetivos:

  1. Submeter um paper que estava pendente da minha tese e vem sendo trabalhado há mais de um ano – para manter pelo menos a taxa de artigo publicado por ano (é muito pouco, mas é o mínimo, e vem sendo cumprido desde a minha defesa)
  2. Finalizar uma seção de um curso de Machine Learning da Udemy que tenho feito – porque esse é o assunto que mais me anima intelectualmente, e onde eu acho que pode estar a minha próxima fronteira de pesquisa (não são muitos engenheiros mecânicos falando disso)
  3. Finalizar os estudos e documentos para um Concurso para Professor Efetivo

E isso é além das minhas atividades rotineiras de professor (preparar aulas, corrigir trabalhos, planejar atividades, atender alunos etc).

Para me forçar a seguir esses objetivos, nada como as boas e velhas tarefas recorrentes no Todoist:

Não estranham a mistura de inglês com português

Eu tenho uma tarefa de aula para fazer – e isso é inadiável. Mas eu preciso escrever e pesquisar materiais para o Projeto Acadêmico para o Concurso, e preciso assistir um vídeo do curso. Mas eu “preciso” mesmo fazer essas duas coisas? Não – se eu não fizer, o mundo não vai acabar, e por isso elas não deveriam estar na minha lista de tarefas de hoje segundo o GTD, pois há o risco de eu me sobrecarregar.

Eu sei que não se deve fazer, mas eu prefiro me forçar, estimular-me a encarar essas tarefas prioritárias, e constantemente refletir – se não der tempo, paciência; eu marco as tarefas de aulas com as etiquetas de cada aula para saber o que é crítico.

Resultado? No dia 8 desse mês já cumpri dois dos objetivos acima, e posso me concentrar no concurso, sabendo que já avancei em objetivos de curto e médio prazo. Agora é evitar de querer colocar mais e mais objetivos no meu Todoist…

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Apps e equipamentos para ajudar a manter o foco no meio da loucura

O mês de março foi uma pequena loucura.

Tudo estava indo razoavelmente bem, depois de várias reflexões sobre foco – mas no final do mês, uma combinação de doenças (leves, mas que requisitaram cuidados), eventos grandes familiares, e recomeço do semestre letivo (e tudo acontecendo ao mesmo tempo agora) quase me tirou do eixo; eu senti que não estava dando conta. Felizmente, tudo voltou a uma rotina razoavelmente tranquila.

Para continuar seguindo os dias fazendo o essencial, eu resolvi experimentar o app Sunsama, por recomedação do canal Keep Productive.

Este app puxa tarefas do Todoist (e outros serviços) e eventos das suas diversas contas de calendário) e permite a você reordenar, priorizar, e distribuir ao longo do dia. O Sunsama tem um modo de planejamento que estimula você a pensar, entre as milhares de tarefas do Todoist, quais são realmente importantes; você também pode estimar quanto tempo cada tarefa leva, e depois conferir com o tempo real (há um timer que você pode acionar quando começa a trabalhar em algo). Ainda estou refletindo se vale o preço, depois de testar por um período grátis.

Além de ter um aplicativo mais poderoso para ajudar a planejar o dia, também tenho tentado seguir com minhas rotinas básicas: meditação, escrever no diário, fazer um pouco de exercício todo dia.

Parte da loucura e da angústia era também por causa do meu laptop, um MacBook Pro 2017 de 13 polegadas, que está começando a dar sinais de velhice e cuja bateria falhou de vez. Como vou fazer para dar aulas, agora presenciais? Desde o começo do ano estou perdendo o sono, pensando se compro outro MacBook, se compro outro computador mais barato, ou se mando consertar a bateria. Em março, eu finalmente levei para fazer um orçamento para troca da bateria – e o preço era duas vezes mais absurdo que o absurdo original que eu estava esperando. Foi a gota d’água; nessa inflação, eu me recuso a gastar esse dinheiro com apenas a bateria. Pelo mesmo preço, eu comprei um computador novo em folha, mais poderoso que o meu antigo:

Shocking news: um laptop cinza-preto de plástico

Este é um Samsung Book i7, 8GB de RAM, 256 GB de SSD. Está me servindo perfeitamente. Para alguém que estava usando exclusivamente macOS há 2 anos (e que antes disso estava usando Macs e PCs de maneira paralela por uns 3 anos), voltar a usar Windows, mas agora numa versão (11) que nunca tinha usado, foi uma variação interessante.

Uma cara muito macOS em um notebook Windows

Sinceramente, um dos motivos que me levou a querer voltar para Windows foi justamente a questão do foco. Com esse jeitão meio corporativo, o laptop me convida a sentar e preparar aulas e é isso. Com macOS, eu percebia que às vezes estava mais interessado em automatizar a preparação de aulas, e acabava esquecendo o objetivo final. Talvez seja o efeito psicológico de que, durante todo o meu doutorado e pós-doutorado, eu estava usando Windows para “atividades acadêmicas”, então o meu “cérebro acadêmico” automaticamente se sente em casa no Windows.

E claro, não vamos nos esquecer das portas:

Repararam no hub USB-C pendurado ali e que agora tenho que tirar da mesa?

O verdadeiro teste vai ver como essa máquina se comporta de maneira portátil, indo da minha sala para as salas de aula e de volta, e se vou aguentar transportar os 1,6 kg todo dia por aí – no final de abril volto a reportar. Com o perdão da analogia barata, comprar um notebook poderoso e pesado assim me tirou um peso emocional – o problema de ter um laptop funcional para começar um novo semestre, e com aulas presenciais, está resolvido. Em uma aula de Transferência de Calor, usei justamente um vídeo que assisti quando estava pesquisando para comprar o laptop como exemplo do problema de resfriamento de componentes eletrônicos.

O grande desafio de abril será justamente esse – será que sei dar aulas numa sala de aula ainda? Como vou balancear usar um laptop com escrever e desenhar livremente num quadro-negro? Para os meus leitores e leitoras que ainda têm ou dão aula – o que vocês preferem, slides ou “cuspe-e-giz”? Vamos conversar aqui nos comentários!

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Praticando a procrastinação produtiva

Hoje de manhã, eu postei duas versões da minha lista de tarefas: uma que eu deveria fazer e que está de acordo com meu foco para a semana e para o planejamento semanal, e uma que eu gostaria de fazer:

Eu já falei aqui do meu eterno conflito entre foco e exploração e como tenho “perdido tempo” fazendo algo produtivo. Acontece que isso é algo trabalhado pelo meu ídolo Austin Kleon em Roube como um Artista: a procrastinação produtiva: você deixa de trabalhar na sua lista de tarefas não para ver vídeos do YouTube, mas para trabalhar no que você realmente quer trabalhar, seguindo a sua intuição.

No fim das contas, eu segui a lista da direita na foto acima. Em vez de montar cronogramas no Excel, eu fui estudar um dos livros mais complexos e maravilhosos da Engenharia, o Advanced Engineering Thermodynamics do Bejan – e apanhei um pouco, mas terminei a tarde com mais ideias de aulas e com maior entendimento desse assunto fundamental. Também fui levar meu filho no médico, e, em vez de voltar para casa e trabalhar em algo útil como estudar um outro livro que quero usar nas minhas aulas, levei-o no parquinho e fiquei ruminando ideias sobre um livro-texto que eu quero escrever.

Novamente: eu deveria ter montado cronogramas no Excel?

Antes de terminar a semana amanhã, dá de fazer algo divertido e ao mesmo tempo útil?

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Minha jornada em aprender R (ou: o conflito entre foco e exploração)

Eu me sinto em um conflito intelectual enorme entre dois aspectos de trabalho, simbolizados por duas grandes influências minhas: Cal Newport (foco e prioridade é tudo que importa) e Austin Kleon (como deve se expor ao máximo de influências e roubar delas para fazer a sua arte).

Exceto que este conflito não existe. Cal Newport lê no mínimo 5 livros por mês, sobre assuntos variados, e Austin Kleon fala da importância de desligar suas notificações e ter uma boa estação de trabalho onde se concentrar. O trabalho consiste em ciclos de se aprofundar e explorar.

O que me leva a um objetivo vago na minha vida profissional, que é aprender a linguagem de programação R, uma ferramenta bastante focada em estatística e ciência de dados.

Eu não consigo me lembrar como comecei a me interessar por isso, mas se fosse apostar, diria que foi quando Dr. Drang linkou algum post de Kieran Healy, um professor de Sociologia da Duke University que posta sobre como criar gráficos muito interessantes e ricos usando R . Isso deve fazer uns 5 anos, por volta de 2017.

Em 2019, quando comecei a utilizar bastante os conceitos de ciência de dados e quis aprender mais, comprei os livros da foto acima, mas nunca mergulhei de fato.

Nesse ano de 2022, decidi que era de mergulhar nisso. Mas aí está o problema: como vou priorizar isso dentro do meu problema de foco? Eu não preciso estudar R, e não vou ter proveito imediato.

Porém , foi numa tarde onde tirei uns 90 minutos para começar a ler o livro R for Data Science que me deparei com um exemplo do livro sobre dados experimentais de motores – uma biblioteca de R tem uma tabela já pronta. Por que essa minha empolgação? Porque eu ministro duas disciplinas sobre motores, e já consigo pensar em muitas maneiras de explorar esses dados na sala de aula. Sem essa perda de tempo brincando de estudar, eu talvez nunca teria chegado nesse exemplo.

Brincando com RStudio

Brincando em mais algumas sessões de trabalho, o resultado é saber produzir um gráfico como esse:

Aqui nós temos dados de alguns motores catalogados pela Agência de Proteção Ambiental dos EUA entre 1999 e 2008. Há uma tendência geral de queda da eficiência: motores maiores consomem mais combustível. Mas! Há outros fatores em jogo: a linha de tendência mais inferior mostra apenas veículos de tração nas 4 rodas, que são consistentemente menos eficientes que veículos de tração em 2 rodas (o leitor sabia disso?). Analisando por classes, vemos que na faixa de cilindradas maiores há exemplos de carros que são mais eficientes que outros: 2seaters, ou carros esportivos de 2 lugares. Esse veículos usam motores potentes, mas consomem menos que um SUV de mesmo tamanho, porque são mais leves, com menos perdas no sistema de transmissão; eu acredito também que o sistema de exaustão desses veículos esportivos faça diferença, com conversores catalíticos de parede metálica, mais fina, que têm menos perdas de potências (à custa de mais emissões).

Essa discussão de um parágrafo acima é muito útil para ser levada para a sala de aula. Eu perdi tempo estudando R?

Agora estou nessa situação; tirando algumas sessões de trabalho a cada mês para avançar na leitura desses livros, encaixando no meu planejamento semanal. Tenho sonhado em finalmente escrever apostilas de notas de aulas usando bookdown, de maneira que o código para resolver exercícios seja parte do texto, e divulgar essas notas de aula para o Brasil todo. O ecossistema de R põe muita ênfase na publicação e compartilhamento de dados – algo que não vejo em Python, por exemplo, daí o meu interesse em uma ferramenta nova (já que tenho usado Python para meus projetos científicos há mais de 1o anos).

Como a leitora faz para balancear entre o foco e a exploração? O leitor consegue achar tempo no meio da semana para simplesmente explorar algum assunto e “ver no que vai dar”?