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Resenhas de livros

Resenha: O Rei do Inverno

Não deve ser fácil ser Bernard Cornwell.

Talvez ele seja o o maior escritor vivo de ficção histórica, mas que acabou (ou planejou?) totalmente focado na história da Grã-Bretanha. Obviamente em algum momento surgiu a necessidade de contar a história de Artur, líder lendário britânico que, na versão de O Rei do Inverno, não é (oficialmente) rei. Mas como acrescentar algo à história que já foi tantas vezes recontada?

A resposta de Cornwell é acabar com todo o romantismo associado às lendas arturianas. Morgana é feia, mal-humorada, e alguém de quem todo mundo quer distância. Guinevere manipula todo mundo. Lancelot é covarde. Merlin só quer o caos. E o próprio Artur é apresentado como o clássico homem “que as mulheres querem e que os outros homens querem imitar” – até que se casa e vira um idiota. E claro, como todo romance cornwelliano, há muita guerra, mutilação, escorregões na lama, confusão, romances que duram 1 dia, crianças que morrem e ninguém está nem aí.

Apesar de essa tentativa de se diferenciar, é o ponto central do cânone Arturiano – o conflito tríplice entre os druidas celtas, os britânicos descendentes de romanos (e que adoram os deuses romanos) e os cristãos – que torna o livro mais interessante. Derfel, o narrador, se apresenta como um monge contando a sua vida – mas, mantendo o clima de subversão, dizendo a seu superior que está escrevendo o Evangelho em saxão. Logo sabemos que ele era um guerreiro pagão sob Artur; por que a conversão de fé? Num dos pontos altos do livro, Derfel têm de ir a um lugar cheio de feitiçaria dos druidas; a feitiçaria existe mesmo naquele lugar ainda não-cristão, ou apenas é um truque? Grande parte dos problemas de Artur, inclusive, decorre da sua tentativa de agradar todo mundo; se ele promete proteger um bispo, e a sua esposa desfaz o trato e derruba a igreja para construir um templo pagão, quem ter a real autoridade ali?

É quando a violência e caos geral se exageram é que a leitura fica mais chata. Na última parte, eu não parava de me perguntar quando a batalha iria terminar; não há suspense em nenhum momento, já que sabemos que o guerreiro chegou à velhice para contar a sua história.

Mas se eu quisesse suspense, eu não leria mais um livro de Bernard Cornwell, e sobre um personagem tão conhecido ainda. Eu leio para me divertir, para mergulhar naquela época tão interessante, na mente desses personagens tão conhecidos, para viajar por aquela geografia (outra parte importante do romance acontece no lugar que ilustra este post).

Só me falta conseguir decorar os nomes celtas e saxões para os próximos capítulos da saga…