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Tirando férias em um período sem férias

A minha esposa espalha por aí que eu sou uma pessoa estressada (brincando apenas em parte, como infelizmente tenho de admitir), mas até ela há de concordar que esse mês de outubro têm sido transformador.

Não é difícil saber o que ajuda a conter o estresse, e eu sigo todas as receitas conhecidas: meditação, oração, terapia, prática de exercícios – e, ultimamente, uma menos conhecida: “mini-férias”. Esse conceito foi aparentemente popularizado por Tim Ferriss, em que ele propõe parar de viver um ciclo de períodos longos de trabalho com períodos médios de férias, e aumentar a frequência desse ciclo: trabalhar algumas semanas, viajar outras, voltar a trabalhar, viajar mais um pouco (esse vídeo explica bem). Variações dessa ideia: a Thais Godinho recomenda fazer do dia a dia suas férias, e a Laura Vanderkam recomenda planejar mini-aventuras fora da rotina para tornar a vida mais memorável.

Nessa primeira quinzena de outubro, eu e minha família aproveitamos essa ideia de mini-férias na praia. O prefixo é necessário: apesar de alguns dias sem aulas devido a uma semana de palestras na minha universidade, eu não estava de férias de fato. Porém, mesmo nos dias onde havia aulas e outros compromissos eu tirei o pé do acelerador.

Fazia tempo que eu não me sentia tão genuinamente feliz, relaxado.

Eis o que eu experimentei nessas semanas:

  • Muitas corridas na praia
  • Café com minha irmã
  • Sorvete com um grande amigo meu dos tempos de escola
  • Ir num Sebo (!) e comprar livros por R$ 15
  • Tomar açaí em um dos meus locais favoritos de Florianópolis
  • Aniversário do meu avô (93 anos!)
  • Visita ao meu compadre, onde o meu filho se diverte muito brincando com o filho dele

Seguindo outra recomendação da Laura Vanderkam, de refletir mais e usar o celular menos, eu escrevi muito no meu caderno. Tenho tentado registrar tudo: minhas impressões, minhas meditações da Bíblia, o que fiz, meus sentimentos. E minhas tarefas, o que foi essencial para realmente aproveitar esse período.

Não é fácil para uma pessoa ansiosa conseguir relaxar de fato, e eu só consegui fazer isso sabendo que tudo estava em ordem: preparei com cuidado as aulas necessárias, atendi alunos, respondi emails. Aproveitei os cafés da manhã não para re-assistir The Big Bang Theory, mas para estudar artigos para uma revisão bibliográfica que estou preparando. Após voltar de cada passeio, dediquei meia hora a revisar algum assunto para a aula do dia seguinte.

Eu sei que esse período foi finito, então tentei aproveitar ao máximo. Logo mais vou voltar à minha rotina normal – mas que já é preenchida de mini-férias, de qualquer jeito. Eu ministro 5 disciplinas de Engenharia e estou tentando voltar a fazer pesquisa, mas não abro mão de passeios matinais com meu filho e almoços em família. O LinkedIn me mostra vários colegas de faculdade com muito mais realizações profissionais que eu – mas eles não tem um bebê que grita “papai” e abre um sorriso quando os vê. E é para o meu filho que eu quero ser melhor e menos estressado.

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Metodologias Ativas em Ensino de Engenharia – O Plano

A frase sobre metodologias ativas para copiar e colar em textos sobre metodologias ativas é “colocar o aluno como protagonista da aprendizagem” [1], geralmente seguida por “o aluno deve fazer mais e o professor falar menos”. Como qualquer aluno meu pode atestar, eu estou precisando falar menos.

Há algumas semanas, eu descrevi aqui uma série de planos para melhorar as minhas disciplinas (1,2,3,4,5). São bons planos, todos centrados em “guiar melhor os alunos em explorar Engenharia”, mas agora que o semestre começou, eu percebo como é difícil mudar a minha maneira verborrágica de dar aula e como é preciso corrigir o curso desde já.

Aqui está o plano.

Escolhendo a sua avaliação

Nós só aprendemos de fato fazendo, preferencialmente experimentado a partir de problemas relevantes para nós [1]. É por isso que estou incluindo entre as avaliações da maioria das disciplinas um componente de “você escolhe o problema”. Você aprendeu sobre transferência de calor – e agora, que problema relevante na sua vida você quer resolver com esse conhecimento? (curiosamente, enquanto escrevo este texto, a ventoinha de meu laptop movimenta-se furiosa e audivelmente – não existe maneira melhor de remover o calor do processador?).

Ferramentas tecnológicas

Há alguns dias, eu encontrei um grande amigo meu, namorado de uma professora universitária. Como é praxe nas minhas conversas, eu reclamo de dar aulas online, e como é praxe dele, ele questiona as minhas reclamações. Com tantas ferramentas digitais, não é possível dar uma aula excepcional pela internet?

Certamente dá, mas eu ainda estou aprendendo a fazer isso.

Quando eu penso na minha experiência como engenheiro, observando os melhores profissionais com quem tive o privilégio de trabalhar, eu vejo duas características em comum:

  1. Elas dominam o básico muito bem dominado – e isso só é alcançado com uma rotina de estudos, preferencialmente de livros bem escritos e que têm reputação entre engenheiros
  2. Elas sabem fazer experimentos – físicos ou computacionais – rapidamente para comprovar alguma ideia.

As minhas disciplinas se agrupam sob o manto das “Ciências Térmicas”, e a atividade básica a todas elas é calcular propriedades termofísicas (energia, entalpia, volume). É por isso que venho enfatizando o uso de Python nas minhas aulas, especialmente com a biblioteca CoolProp. Quando eu era estudante de graduação, eu não tinha smartphones e nem a essas bibliotecas; eu tinha uma calculadora HP-50 e tabelas impressas. Hoje isso mudou, e eu não posso dar aulas como eu tinha. Hoje é possível gerar dados muito rapidamente e aprender com eles – e eu acredito fielmente que essa é uma habilidade essencial do engenheiro que está se formando.

Principalmente nas minhas disciplinas de 3 horas-aula seguidas, tenho tentado dividir as aulas em duas partes: uma parte síncrona de discussões inicias e exploração dessas ferramentas, e outra parte de confiar nos alunos e deixá-los explorar. O que vai sair dessas explorações? Eu não sei; o ensino não é sobre mim, é sobre os alunos.

Um começo de sala de aula invertida

Eu criei um canal no YouTube. Se a leitora visitá-lo, vai ver que o que há não são aulas longas, e sim algumas exposições básicas: o que eu, com um pouco mais de experiência que meus alunos, julgo ser importante considerar e estudar. A ideia é montar essa biblioteca de assuntos básicos e transformar os espaços síncronos em espaços de discussão, deixando os alunos mostrarem suas dúvidas e, utilizando as ferramentas acima, explorar junto com os alunos – mas sem um formato de palestra.

Após mais algumas semanas, eu volto aqui e relato como tem sido.

Referências

[1] Bacich, Lilian; Moran, José (org.). Metodologias ativas para uma educação inovadora: uma abordagem teórico-prática. Porto Alegre: Penso, 2018.

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Um professor ainda precisa estudar?

Eu sou incrivelmente privilegiado por ter 3 diplomas de ensino superior armazenados em uma pasta em meu escritório, cada um de um nível diferente (Graduação, Mestrado, Doutorado), todos em Engenharia Mecânica. De acordo com os conceitos populares, eu deveria saber tudo sobre carros, mas de acordo com a minha realidade, eu sou comecei a estudá-los de fato quando fui contratado para ensinar disciplinas de Máquinas Térmicas, há quase dois anos. Hoje consigo responder a perguntas dos meus alunos que a minha versão anterior jamais conseguiria responder.

Mesmo assim, foi só na semana passada que eu realmente entendi por ainda se usam motores de 2 tempos, já que eles são menos eficientes e emitem mais poluentes – eles são simplesmente mais potentes que um motor de 4 tempos de mesma cilindrada e na mesma rotação. Você tinha se ligado disso? Um motor de 2 tempos precisa de apenas dois movimentos do pistão (um para subir, outro para descer) para completar o ciclo, enquanto que a versão mais comum de 4 tempos precisa de mais dois movimentos, e portanto demora mais para completar a sequência de processos, e portanto tem menor potência (energia por unidade de tempo).

Se você quer saber mais, o vídeo abaixo tem mais explicações sobre as diferenças (como eu gostaria que esse canal não usassem tantos palavrões, mesmo mutados):

É por isso que ainda a essa altura eu dedico tempo regular ao estudo. Nesse semestre, eu estou mergulhando no Internal Combustion Engine Fundamentals do Heywood. A edição que tenho é de 1988, mas já apresenta os desafios que aparecem nas propagandas e reportagens em 2021: produzir motores automotivos que sejam eficientes, potentes e que emitam cada vez menos poluentes, tendências que geralmente são opostas: é possível aumentar a potência (até certo ponto) adicionando cada vez mais combustível por injeção, mas isso também aumenta a quantidade de gases tóxicos lançados na atmosfera.

Eu adoro a minha rotina de estudos. Eu sento com um livro e meu caderno, ponho alguma música de concentração, e sinto-me como um aluno (o que nunca vou deixar de ser).

Eu acho impossível estudar sem escrever o que me chama atenção em um caderno

Isso não é perda de tempo? Depende de como você avalia o seu uso do tempo. Eu poderia estar partindo direto para escrever notas de aulas e artigos, tendo livros do lado para consulta, mas eu prefiro dedicar uma quantidade ridícula de horas a estudar livros antigos em profundidade. Mas isso é tempo bem gasto.

Primeiro, como falei, eu extraio prazer dessa atividade. Segundo, como dizem Cal Newport e Scott Young no seu curso Top Performer, a chave de uma carreira de sucesso é imitar carreiras de sucesso; quando eu penso em carreiras acadêmicas de sucesso, eu logo penso em dois amigos que admiro, e a minha memória de quanto trabalhava com eles era que os dois estudavam o dia todo e não participavam de reuniões. Hoje os dois são professores de universidades federais. Curioso.

Na minha carreira, sempre eu venci um senso de urgência (interno ou externo) e me dediquei a estudar um assunto sem pressa, os dividendos foram altos. Eu passei boa parte do ano de 2016 estudando uma Tese de Doutorado bastante complexa. Em 2021, eu ainda uso as notas que tomei como base para escrever artigos – o que seria impossível se eu não tivesse dedicado o tempo para ler, escrever, ler mais um pouco, escrever mais um pouco.

Na profissão da leitora, existe algo que pode ser facilitado ou melhorando simplesmente sentando e estudando?

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Notas do autor

Anunciando meu canal no YouTube

Eu costumo correr escutando podcasts, geralmente o Deep Questions do Cal Newport. Em um dos episódios que escutei recentemente, ele fala de como teve de aprender com criticismo que inevitavelmente vem com um trabalho público (e não quero dizer governamental aqui). Se você quer divulgar suas ideias amplamente, o autor adverte, você precisa estar preparado para lidar com uma legião crescente de haters. Para alguém que já teve que lidar com depressão ativada principalmente por confronto com outros e criticismo, esse assunto é muito importante para mim, e assim parece absurdo o título desse post.

Sim, deixando o meu lado fã de Austin Kleon falar mais alto, eu finalmente criei um canal do YouTube para divulgar o meu trabalho como professor, pesquisador e nerd em geral.

Por que isso? Como eu gosto de listas de três itens, aqui vão 3 parágrafos super informativos:

Primeiro, eu quero treinar minhas habilidades de produzir e publicar conteúdo em vídeos, uma habilidade que sempre é útil para tornar qualquer tipo de comunicação mais atraente. No período de recesso entre semestres, eu até investi em um curso de Screenflow. Mas não se enganem: nessa altura do campeonato, a edição dos vídeos é bem básica.

Segundo, quero divulgar o meu trabalho de professor, tentar construir uma audiência, e levar um pouco de conhecimento de Engenharia Mecânica a todos.

Terceiro, e bastante conectado com os outros, quero melhorar como “apresentador de ideias”. Colocar video-aulas no canal me força a pensar na qualidade e forma de apresentação, bem como me ajuda a coletar feedback de pessoas de fora do meu curso.

O foco inicial é em colocar vídeos didáticos, mas o YouTube não é um Ambiente Virtual de Aprendizagem, e sim um site de hospedagem de vídeos. O meu trabalho real como professor envolve mais que isso: contato com estudantes, espaço para dúvidas, avaliações, exercícios, textos; isso continua sendo feito nas plataformas institucionais da universidade onde leciono. E, não custa dizer, eu tenho autorização do meu chefe para publicar esses vídeos.

Enfim, fica aqui o pedido padrão: compartilhem, e se inscrevam no canal.

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Meu planejamento do mês de outubro de 2021 – ou, como planejo me estressar menos com planejamentos

Na passagem de janeiro para fevereiro deste ano, eu publiquei um post de revisão e planejamento, mostrando como fora o meu primeiro mês desse ano e como planejava passar o segundo. O plano era repetir esses textos todos os meses; mas então o semestre letivo começou, e todos os planos lindamente concebidos à base de água de coco na beira da praia foram esquecidos em um tempo curto demais.

Reler textos antigos deste blog sempre me assustam pela repetição aparentemente eterna dos mesmos problemas. Há 9 meses eu constatava como minha relação com minha esposa, geralmente maravilhosa, ficava estremecida quando eu deixava o estresse de não cumprir metas se sobressair sobre coisas positivas da minha vida; isso ainda é verdade. Em fevereiro, eu reclamava de como não conseguia conciliar ambição e paternidade; isso ainda é muito verdade.

Mas enfim, a primavera chegou, a Thais Godinho continua me inspirando, a Laura Vanderkam fica me lembrando de que ainda dá tempo de fazer o ano render, e aqui vai uma nova tentativa de refletir sobre a passagem dos meses. Talvez não por acaso, estou escrevendo isso novamente numa casa de praia.

Após alguns meses de abandono dessa prática, voltei a fazer um planejamento básico no Bullet Journal

Neste mês, justamente para evitar estresse de colocar metas demais, eu tentei pôr os pés no chão e listar o que realmente precisa ser feito:

  • há uma série de avaliações a preparar, e não há o que fazer; eu preciso testar os meus alunos para verificar a sua aprendizagem, e tenho como princípio básico evitar ao máximo repetir avaliações para valorizar o meu trabalho e o esforço dos estudantes;
  • há feriados e dias não-letivos, então há aulas e atividades assíncronas que precisam ser distribuídas;
  • há alguns assuntos que eu simplesmente não domino o suficiente para ministrar em um curso de alta qualidade (como é o meu caso privilegiado como professor), e novamente, como princípio, eu valorizo estar muito bem preparado; esses assuntos precisam ser revisados e estudados.

Se eu chegar ao fim de outubro e perceber que eu dei o meu melhor na minha função de professor, e melhorei as minhas aulas um pouco em relação ao semestre passado; estarei satisfeito (ou assim me iludo por enquanto).

Ao examinar com calma o calendário do mês, eu percebi que semanas onde as aulas previstas são todas bem dominadas e que vão exigir menos trabalho. São nesses dias em que eu pretendo atacar os projetos extras listados no meu caderno acima: produzir uma Revisão Bibliográfica para um paper que estou escrevendo; voltar a estudar para concursos de professor efetivo e usar este blog como espaço de prática; e resolver algumas pendências financeiras.

Vocês podem me fazer um favor e torcer para eu conseguir cumprir isso sem me estressar muito?