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O Bolsa-Família e as calças

Um assunto que fervilhou no Facebook na semana passada foi a mulher que
reclamou que o Bolsa-Família não era suficiente para comprar uma calça
para a filha de 16 anos. Logo choveram comentários inflamados de meninas
que também queriam ganhar bolsa para poder comprar as calças, que isso
só prova que o Bolsa-Família é um desperdício do nosso dinheiro e que
nós estamos de babá dos mais pobres.

Veja o vídeo.

Primeiramente, vamos deixar de lado o assunto em si. A argumentação das
pessoas furiosas simplesmente não é válida. É muito fácil sair na rua
com uma câmera e entrevistar dezenas ou centenas ou milhares de pessoas.
De repente, uma delas diz que não acredita em Deus e você conclui que
todos os brasileiros são ateus. Você dizer que todos os beneficiários
são sugadores de dinheiro baseado no depoimento de uma mulher (ou de mil
indivíduos, que seja, o número total ainda vai ser bem maior) é bastante
generalista e perigoso. Isso sem contar o fato de que muitas das pessoas
que adoram fazer ativismo de Facebook não tem nenhum contato com alguém
que dependa do Bolsa-Família (eu não tenho, se querem saber, e por isso
eu tomo cuidado no que eu falo).

Outro tipo de comentário bastante assustador diz que o simples fato de
uma beneficiária do Bolsa-Família querer as calças é um absurdo, ou que
é absurdo o fato de existir uma calça a esse preço. Ora, isso é pura
ingenuidade. No nosso mercado, o vendedor coloca uma calça a 300 reais
não porque ela custou isso, mas porque ele acha que ela vale isso, e
acredita que um número suficiente de pessoas vai comprar a esse preço. E
as lojas que conseguem vender a esse preço também têm dinheiro fazer
propaganda, atingindo as revistas de adolescentes e os intervalos das
novelas. Em resumo: garotas de 16 anos, sejam elas da favela ou de
Jurerê Internacional, querem calças de 300 reais. Milhares de
brasileiros, adultos, gastam mais do que ganham e se endividam no cheque
especial ou no cartão de crédito; como esperar que uma pessoa de 16 anos
tenha mais consciência do valor do dinheiro? Essas meninas simplesmente
vêem a calça vestindo alguma famosa e querem ser como elas; elas não tem
capacidade de perceber que não cabe no orçamento, ou que esse preço é
alto, ou que a mãe precisa comprar comida antes

Para ser bem sincero, por um lado tenho minhas restrições ao
Bolsa-Família, e não fico confortável com a ideia do Estado subsidiando
as pessoas por muito tempo. Por outro, sou homem, branco, estudante de
escola particular, engenheiro, filho de engenheiros, neto de um médico e
um economista, em processo de ter título de mestre. No espectro da
sociedade brasileira, eu estou no lado oposto ao das pessoas que
precisam do Bolsa-Família; para mim, é muito fácil “ser contra o
Bolsa-Família”, ou ser contra as cotas, ou ser contra muitas coisas, já
que eu não preciso delas. O que eu sei, baseado na mais pura observação,
é que existem pessoas pobres, e existem pessoas extremamente pobres, que
precisam de uma vida decente. Elas precisam de um emprego; porém, se
basta apenas “ter vontade de trabalhar”, por que existem tantos
recém-formados em universidades federais sem emprego? Elas precisam de
educação, e os jovens precisam entrar na faculdade, e não adianta
esperar “até que a educação básica seja melhorada”. Vamos ser realistas:
um adolescente que concluiu o ensino médio numa escola pública, em
geral, não tem condições de passar nos nossos vestibulares, altamente
voltado a aqueles que sabem os macetes e as “decorebas” (levante a mão
quem aprendeu as fórmulas da Física com músicas de quinta categoria).
Ele está agora, aqui, sem condições de ter nível superior, e não pode
esperar até que o governo tenha boa vontade de melhorar o sistema
público de educação.

As cotas são a solução? O Bolsa-Família é a solução? Sinceramente, não
sei, e confesso que não tenho a disposição de estudar alternativas (para
isso existem cientistas sociais, ouviram, engenheiros?). É claro que
esses programas sociais precisam de melhorias. Especificamente, o
governo poderia ter uma política mais eficaz de dar emprego para os
beneficiários do Bolsa-Família (já que eles não conseguem achar por
conta própria), e de evitar que as pessoas dependam a vida inteira do
governo. Ao mesmo tempo, embora o vídeo não mostre que todos os
beneficiários estão gastando mal os recursos, mostra que existem
alguns que provavelmente estão ganhando mais do que deveriam, o que
exige um controle mais rigoroso. Isso é um tipo de discussão prática,
e não os comentários raivosos que usualmente se vêem por aí.

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A necessidade de estudar produtividade

Gastar mais tempo para gastar menos tempo

Estudar produtividade pessoal (o conjunto de técnicas que nos permite
nos organizar melhor) pode parecer contra-intuitivo. É como gastar tempo
estudando como gastar menos tempo. De fato, se você não for cuidadoso, a
balança pode pender para o lado errado: gasta-se tanto tempo se
organizando que não sobra tempo para fazer algo que realmente importa.

Esse tipo de pensamento é perigoso porque pode ser extendido até se
chegar a conclusão de que não vale a pena estudar. Por que estudar
engenharia, quando se pode apenas colocar tijolo sobre tijolo? Por que
estudar medicina, quando se pode apenas experimentar todos os chás até
parar a dor? Por que estudar o Português, quando todo mundo se entende?

Há muito tempo, uma pessoa construi uma casa, e essa casa caiu. Outra
pessoa construiu uma casa e ela ficou em pé. A partir daí, começou-se a
observar que existem determinados métodos que resultam em casas que caem
e outros que resultam em casas que ficam em pé. Vieram os gregos com a
sua geometria e ficou mais fácil projetar uma casa confiável. Veio
Newton e sua descrição das forças e do Cálculo e ficou mais fácil criar
modelos de casas que ficam em pé. Vieram os estudiosos dos materiais.
Vieram os engenheiros que estudam as próprias técnicas de construção.
Graças a essas pessoas, vivemos em prédios robustos, que podem ser
projetados para suportar até terremotos. Ninguém concordaria em dizer
que essas pessoas “perderam tempo”; ao contrário, elas criaram tempo.
Hoje construímos prédios melhores em menos tempo.

Elas perderam um tempo inicial que valeu a pena anos depois. E esse é o
conceito chave da necessidade de se estudar produtividade: o tempo gasto
pode ajudar a poupar um tempo proporcionalmente muito maior.

A organização pessoal não é um campo tão sofisticado como a engenharia
ou a medicina, mas isso não significa que não se possam aprender
técnicas apropriadas. Para mim, o estudo da produtividade pessoal é
necessário porque nosso tempo na Terra é finito. Não morremos depois de
atingirmos nossas metas; morremos depois de certo tempo ou quando
alcançamos uma condição de saúde crítica. Assim, quanto menos tempo
gastamos em cada atividade, mais atividades podemos fazer e mais
objetivos na vida podemos cumprir.

Um exemplo de como aplicar técnicas de produtividade

De maneira muito simplificada, vamos supor que você tenha uma tarefa:
levar todos os carros da sua família para a revisão.

Com dois carros não há muito o que fazer. Você liga para a primeira
concessionária, leva e busca o carro, e um tempo depois repete o
processo para o segundo o carro. A tarefa é simples, então você guarda
os detalhes na memória. Em uma semana está tudo feito.

Com cinco carros (você é uma pessoa boa e vai ajudar o avô, a tia e a
irmã), a coisa se complica. Depois de completar o terceiro carro,
acontece alguma coisa no seu trabalho e você se esquece disso, com o
cérebro ocupado com outras coisas. Vai se aproximado a data limite e seu
avô liga brigando. Entre atrasos e esquecimentos demora um mês para
completar tudo, somado com o estresse pessoal e brigas familiares.

No ano seguinte, você resolve “gastar tempo” lendo sobre produtividade,
e aprende três princípios básicos:

  1. Anotar suas tarefas
  2. Realizar tarefas em lotes
  3. Marcar compromissos no calendário

Assim, quando seu pai lhe pede para cuidar disso, você dedica um minuto
para anotar isso em algum lugar visível. Quanto tem um tempo, liga para
todos os proprietários em busca de horários em que ele possa levar o
carro. Depois, liga para todas as concessionárias e marca as
revisões, com sorte em dias consecutivos. Por último, marca tudo no
calendário. Assim, em 30 minutos você já tem esquematizado todo seu
plano de ação.

Você pode seguir com seu trabalho. No horário marcado, você leva o
carro, e depois o busca. Não há estresse emocional de ficar o dia
inteiro pensando “não posso me esquecer de marcar a revisão”, porque
você sabe que o compromisso está no seu calendário e você programou
algum alarme para o avisar com certa antecedência. Você dedicou seu
tempo para se organizar e já está com tudo planejado. Pode dedicar-se
agora a fazer. Talvez em duas semanas esteja tudo resolvido.

Ou seja, o tempo de estudar um pouco, mais o tempo de realizar as
atividades de maneira otimizada, é menor que o tempo de realizar as
tarefas de maneira desorganizada. Essa é a mágica da produtividade
pessoal.

E o melhor de tudo é que, mesmo que você gaste tempo para otimizar uma
tarefa, você pode geralmente aplicar os mesmos princípios para outras
tarefas. Você tem apenas uma revisão, mas tem de ir ao dentista e ir
buscar uma encomenda. Sente na frente do telefone e dedique cinco
minutos para fazer todas as ligações e agendar todos os compromissos.

Ao final de um pequeno período gasto “apenas” se organizando, você está
com suas pendências registradas, sem necessidade de gastar mais tempo
tentando se lembrar. E isso é produtividade.

É só senso comum, mas as pessoas não conhecem o senso comum

Perceba que não existe nada de extraordinário nas três dicas de
produtividade que passei (e não se preocupe, o estudo sério da
produtividade vai muito além disso). De fato, qualquer pessoa poderia
ter chegado a esse modelo. Porém, algumas poucas pessoas o fizeram,
escreveram livros e se tornaram famosas. Parece tão óbvio, mas às vezes
o mais óbvio nos escapa. Diferentes pessoas têm diferentes percepções e
por isso algumas conseguiram sistematizar todo esse processo. Criar
uma lista de tarefas e colocar um post-it no monitor é fácil; criar um
sistema integrado, que permita você se alternar entre “organizar sua
lista de tarefas” e “executar suas tarefas” com naturalidade e que
acompanhe você quando você está longe do monitor é que exige alguma
pesquisa e reflexão.

Produtividade pessoal, ou os métodos de nos organizarmos melhor, é um
grande interesse meu e o leitor pode esperar mais textos do gênero em
FabioFortkamp.com. Esse post é apenas uma justificativa (para mim e
para os leitores) do porquê de eu achar que vale a pena falar sobre o
assunto.

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Por que ando de ônibus mesmo tendo um carro

As pessoas não acreditam, mas eu ando de ônibus. Sim, eu tenho um carro,
e sim, eu sei dirigir. What?

Existem tantas razões que eu não sei nem por onde começar. Por isso vou
do básico: eu não gosto de dirigir. Dirigir em um meio urbano é uma
atividade de risco, que exige dedicação total de minha parte por muito
tempo. Quando eu vou de carro da minha casa até a Universidade, isso
significa que tenho de passar meia hora com as mãos presas ao volante,
tendo de prestar atenção a tudo que acontece à minha volta, cuidando
para ver as motos (antes de me chamar de preconceituoso, observe que
motos são muito menores que os carros e passam por entre as filas, sendo
muito mais difíceis de enxergar), dando passagem para o SUV colado atrás
de mim, ficar puto com o imbecil que deu uma de esperto e saiu da
Beira-Mar furando fila lá na frente, e tendo que aguentar o engraçadinho
que me ultrapassa para ficar parado uma posição na frente quando eu ando
devagar em um sinal vermelho. E aí, quando eu finalmente chego na
Universidade, tenho de procurar vaga nos estacionamentos pessimamente
iluminados, onde as pessoas param de qualquer jeito (ocupando mais de
uma vaga, na maioria das vezes), e onde a poeira se instala sobre o
carro. Sério que você gosta de fazer isso?

Quando eu vou de ônibus, eu pego minha mochila, ponho um fone de ouvido,
ando 5 minutos da minha casa até o ponto, entro no ônibus, saio do
ônibus, e ando 2 minutos do ponto até o prédio onde fico o dia inteiro.
Durante o trajeto, eu leio, eu escrevo ideias para
FabioFortkamp.com, eu escuto música (podendo prestar atenção à
letra) e podcasts, eu encontro conhecidos (ou até desconhecidos; um
carro é um meio de se isolar por natureza). Atenção necessária: ver o
ônibus chegando.

Eu não vou negar, esse tipo de pensamento se instalou em mim no tempo
que passei na europa. Tive a sorte de morar em duas cidades (Porto e
Karlsruhe) que têm cobertura muito boa de transporte público (e lá isso
não é só sinônimo de ônibus). Nesses lugares, e em outras cidades que
visitei, é muito fácil se locomover. Os principais pontos se referenciam
pela estação mais próxima. Os horários das linhas são bem
documentados, você paga uma taxa mensal que não chega a ser barata mas
que permite você andar livremente (isto é, se você anda uma, duas ou
vinte vezes por dia o preço é o mesmo), o sistema é seguro (pelo menos
na minha experiência) e você pode ir realmente a qualquer lugar. Já
diria Steve Jobs, it just works.

É claro que a experiência de andar de ônibus em Florianópolis (não tenho
capacidade de comentar a experiência em outras cidades brasileiras) é
muito diferente da de andar de S-Bahn em Karlsruhe. O preço é alto, os
horários são imprevisíveis, os ônibus são antiquados, a rotatividade é
baixa (uma linha como a UFSC-Semidireto, que transporta alunos do centro
à Universidade, deveria sair a cada 5 minutos pelo menos), as greves
dominam, assaltos e ataques acontecem. Ainda assim, eu não concordo que
“andar de ônibus é uma merda”. O preço é alto, mas andar de carro é uma
atividade de luxo (você tem ideia de quanto se paga apenas para manter o
carro na garagem, entre impostos e seguros?), e o preço da gasolina está
muito alto de qualquer jeito. Os horários são imprevesíveis, mas com
planejamento é possível achar um intervalo mais ou menos confiável em
que os ônibus passam no ponto. De qualquer modo, como falei, andar de
carro não é uma experiência muito agradável, em comparação.

Algumas pessoas falam que por eu ser engenheiro mecânico eu deveria
idolatrar o carro. Realmente, o carro como um todo realmente é um feito
de engenharia. O processo de fabricação de todas as peças complexas, a
dinâmica veicular, a otimização aerodinâmica, a integração entre partes
mecânicas e eletrônicas, tudo isso são coisas admiráveis. Já o motor de
combustão interna, um dos símbolos da engenharia mecânica, também é um
símbolo do nosso fracasso como engenheiros e de como a Segunda Lei da
Termodinâmica faz pouco caso de nós. Um rendimento alto para motores a
combustão interna é de 30%. Pense no mundo em vivemos, de tantos
avanços; não parece absurdo que ainda não tenhamos inventado em jeito de
evitar jogar fora 70% do nosso dinheiro quando abastecemos? (Aos meus
colegas engenheiros que estão trabalhando nisso, precisamos de vocês
para reverter essa situação).

Um motor de ônibus não possui rendimento muito mais alto, mas se
levarmos em conta o número de passageiros transportados, o “rendimento
per capita” se torna muito maior.

Um último grande motivo para eu andar de ônibus no meu cotidiano é meu
senso de coletividade. Eu moro em sociedade, e tento melhorá-la. Virou
moda “nas elites” de Florianópolis falar que a mobilidade urbana está
mal, e que isso é um absurdo. O que é absurdo, para mim, é que essas
mesmas pessoas andam de carro, sozinhas, e em geral falam que as
ciclovias estão atrapalhando o trânsito. E quem se importa com o meio
ambiente, se vamos todos estar mortos quando a próxima geração tiver de
lidar com isso?.

A mobilidade urbana em Florianópolis realmente é péssima. Quando você
vai de carro sozinho para o trabalho ou para a faculdade, você não está
contribuindo em nada para isso. É mais fácil acreditar que você acha que
engarrafamento é lindo.

Eu não pretendo abandonar o carro. Nas situações certas, ele ajuda. Dar
carona aos amigos, andar de noite ou aos fins de semana, ir em lugares
onde a viagem de ônibus é muito longa. Mas no meu dia a dia, não existe
motivo para não colocar um carro a menos na rua.

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O iOS precisa de um futuro?

Federico Viticci recentemente escreveu sobre sua lista de desejos para
a próxima versão do iOS
, o sistema operacional do iPhone, iPod Touch
e iPad, a ser lançada provavelmente em junho. Ele não é o único,
claro. Existem muitos relatos do tipo, de gente sonhando (em vão, na
minha opinião) que a Apple voltará a ser a empresa revolucionária de
antes, lançando produtos geniais que definem o mercado. O próximo iOS
tem de ser muito melhor que o atual, e vai nos permitir muito mais
controle, e vai ter muito mais recursos, e, e, e…

Criamos tantas expectativas, queremos algo tão awesome, que depois
ficamos decepcionados que o novo iPhone (tanto o aparelho quanto seu
sistema) não lê nossos pensamentos. Eu vi isso acontecer no ano passado
e vai acontecer de novo.

O problema dessas listas de desejos é que as pessoas querem que o iPhone
(estou usando o smartphone como símbolo dos dispositivos) se transforme
em duas coisas, simultaneamente:

  1. Em um computador completo que cabe no bolso
  2. Em um Android

O iPhone não é o seu computador principal

Eu não preciso que o iPhone se transforme num substituto de um
computador, e duvido que alguém precise. Um smartphone foi projetado
para complementar um computador. Você pode fazer muitas coisas com
algo do tipo: acessar a internet, escutar músicas, processar emails,
organizar o calendário, tirar fotos, jogar games. Mas quando se parte
para uma escala maior, as restrições começam a incomodar mais que a
conveniência supostamente facilita. Eu escrevo muitas coisas no iPhone,
fragmentos de ideias que se transformam em textos maiores; mas eu jamais
escreveria minha dissertação em um celular. Eu tiro (poucas) fotos, mas
não as organizo cuidadosamente. Eu navego por sites aleatórios, mas não
faço uma pesquisa mais cuidadosa, separando e catalogando links. Um
smartphone não foi feito para isso.

E nem deveria ser feito. Quando o sistema começa a ficar muito complexo,
perde-se a conveniência. Deixamos de ter algo pensado para ser portátil
e carregamos num bolso um laptop com a tela menor. A necessidade de
reproduzir todos os features levaria a um dispositivo certamente
horrível de usar. E o iPhone ganhou fama por ser ridiculamente fácil de usar.

Outra crítica muito frequente, de que o iOS é muito fechado, é
completamente absurda. O sistema não permite que os aplicativos se
comuniquem abertamente uns com os outros, e não existe um sistema de
arquivos que seja compartilhado por todos os programas. Isso dificulta a
criação de scripts que automatizam o iOS… Mas é isso mesmo? Queremos
operar um smartphone por linha de comando?

É claro que muitos desses desejos se aplicam ao iPad, que teria muito
mais potencial para susbtituir o computador. A tela é maior, com um bom
teclado (convenhamos, o teclado do iOS é uma bosta) pode se transformar
num editor de textos, e é excelente para ler e anotar PDFs. Mas eu não
quero que ele substitua o meu computador, pelo mesmo motivo: quando isso
acontecer, ele vai ser tão complexo que vai deixar de ser bom de usar.
Eu quero poder não depender de um computador por inteiro, quero poder
usar um tablet em viagens, quero poder usar um tablet por poucos dias
quando o computador estraga, mas é tolice achar que um tablet tem toda a
versatilidade de um notebook.

O iOS não precisa ser um outro Android.

O iPhone não é o melhor smartphone, nem o mais poderoso, nem o mais
barato, nem o mais caro. É o mais conveninente. A interface é simples, a
App Store estimula o desenvolvimento de apps pagos (e os leitores já
sabem o que penso sobre isso) , sincroniza automaticamente com PC,
OS X ou pela web (via iCloud), e como todos os programas são testados e
aprovados pela Apple, o risco de vírus e outros malware é virtualmente
nulo. Sem contar que existe apenas um fabricante, o que padroniza a
solução de problemas.

Quando você paga caro por um iPhone (ou qualquer produto Apple) você
está pagando pelo preço desse controle. Está pagando por poder comprar
algo que precisa de configuração míninma. Uma das grandes qualidades dos
prodtos da marca, para mim, é esse acoplamento hardware-software. Tudo é
otimizado.

Se você quer um sistema mais aberto, com muito mais recursos, mais fácil
de ser modificado, com mais opções de fabricantes (e preços), você quer
um Android.

Eu nunca usei um Android, mas pelo que vejo os outros usarem, ele me
parece excelente. Faz tempo que a competição entre o robô do Google e o
iOS deixou de ser por features e passou a ser por tipos de usuários.
Pessoas que gostam de muitos recursos e boa flexibilidade contra pessoas
que gostam de algo mais fechado e pronto, com um mercado de apps mais
estabelecido (e que, sejamos francos, também gostam de parecer cool,
muitas vezes).

Quem não está satisfeito pode trocar a qualquer momento.

Sim, o iOS precisa de um futuro.

Ele pode ser mais avançado (não vejo nada de errado em um controle para
ligar e desligar rápido o WiFi, ouviu, Apple?), poderia ter uma maneira
de testar apps antes de comprar, poderia ter um mecanismo de busca mais
poderoso (já que nada disso atrapalha a usabilidade). Mas ele não
precisa ser mágico.

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Uma internet melhor

Paul Miller escreveu uma matéria maravilhosa no The Verge sobre o
ano em passou completamente desconectado. Um ano em que ele queria usar
o tempo para fazer outras coisas, ser mais produtivo, interagir mais com
os amigos, sem se preocupar em acompanhar a linha do tempo do Twitter.

Um ano horrível, nas suas próprias palavras.

O relato de Paul, junto com sua outra análise e com a entrevista
para a Folha de São Paulo
, reforça aquilo que muitos sabem: o
problema não é a internet, mas sim como a usamos. Nós é que tornamos a
internet como ela é
.

Não é preciso muito para acessar a internet. Um roteador, um computador
com placa de rede e uma conta em algum provedor (junto com muita
paciência, se for no Brasil). Com apenas isso, você pode passar a manhã
no 9Gag, ver vídeos de pegadinhas no YouTube, pesquisar sobre a próxima
viagem, comprar um livro (ou qualquer coisa útil), ver pornografia ou
fundar uma startup. É a sua escolha.

Não estamos mais online apenas para “surfar na internet” (quem inventou
essa xpressão horrível?). Estar online não é algo trivial. O Facebook,
por exemplo, é das ferramentas mais complexas já criadas. É tudo
onipresente. Você simplesmente parte do pressuposto que a outra pessoa
também está lá, quando quer adicionar alguém. Além disso, o Facebook
está te espionando, mostrando anúncions baseado no que você curte (e
visita fora do próprio site), e ainda assim ninguém quer parar de
usá-lo. Novamente, tudo se resume a uma questão de fazer escolhas. Você
pode manter contato com os amigos que conheceu na Europa, rir da Clarice
Lispector, curtir as fotos no Instagram #love #happy #nofilter,
divulgar o seu blog (e ouvir muitos comentários positivos e alguns
negativos), procurar fotos de biquíni daquela garota ou conversar com
aquela, outra, bem mais interessante (que também pode ter fotos de
biquíni, por que não?).

Todos gostamos de ver fotos engraçadas ou vídeos divertidos, mas quanto
tempo você está gastando com isso? E o que o Twitter, com seu fluxo de
notícias sem nexo e pensamentos absolutamente inúteis, está
acrescentando? E aquela lista imensa de blogs nos seus favoritos ou em
RSS, você está lendo apenas para se manter atualizado ou está absorvendo
alguma coisa de útil?

Vou além: se você tem algo a dizer ou mostrar, faça-o. É possível criar
um blog de graça (embora você já saiba o que penso da qualidade de
produtos grátis
). Até uma página no Facebook pode servir para seus
propósitos (apenas leve em conta que, assim como já passamos pela febre
de MySpace e Orkut, o Facebook também vai acabar nessa década. Quanto
você está pagando para sustentar o Facebook, mesmo?). Coloque seu foto
no Flickr, seu vídeo no Vimeo, … Consuma menos e crie mais.

Se nós estamos destruindo a internet, é hora de tentar melhorá-la.

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Notas do autor

Um mês de FabioFortkamp.com

Faz um mês que dei um pequeno passo rumo a um desejo meu e lancei
FabioFortkamp.com. O que quero com isso? Primeiramente, é claro que
quero ter bagagem suficiente para ser chamado de escritor, mas ainda
acho que é um pouco cedo para isso. No momento, quero apenas ser lido
pelos amigos, e se puder atingir outras pessoas, melhor ainda.

Escrevi lá no primeiro post que este blog é uma maneira de
descarregar minhas ideias. Meu problema nunca foi de bloqueio criativo
(ainda), mas do problema contrário, de ter excesso de ideias (bem como
outro escritor que leio muito) e como desenvolvê-las e organizá-las;
este site é a minha mais nova ferramenta nesse processo.

Quando estava pesquisando para criar FabioFortkamp.com, percebi que
uma regra de ouro no professional blogging era criar um site bem
específico, com palavras-chaves definidas para otimizar a busca pelo
Google, um nome cuidadosamente moldado, títulos dos posts provenientes
de livros de marketing e uma agenda de postagem bastante regular.
Felizmente, percebi a tempo que isso jamais funcionaria comigo. O que eu
queria não era escrever um blog sobre tecnologia, ou sobre música, ou
sobre política, ou sobre qualquer assunto. A minha cabeça é caótica, e
não tenho necessidade de me restringir. Eu quero o “site do Fábio”, onde
eu publico quando eu achar que meus textos estejam numa forma decente
(embora eu escreva todo dia pelo menos um pouco), e não apenas para
cumprir agenda.

Defendo muitas coisas, e o leitor já pode ter observado isso. Defendi o
fim do preconceito contra determinadas profissões, a
valorização do mundo acadêmico, e o consumo mais racional de
software no Brasil
. Também escapei por vezes dessa forma de ensaio,
onde defendo alguma ideia central e construo os argumentos; já escrevi
uma resenha de livro, já mostrei em vídeos o que acho da melhor
banda do mundo
e já dei dicas sobre morar fora do país.

Gosto do jeito que esse site acabou se formando e pretendo continuar
assim, escrevendo tipos de textos diferentes e sobre assuntos
diferentes. Num futuro não muito distante quero fazer algumas
modificações na estrutura do site, como uma opção para o leitor receber
os textos por email ou RSS e uma forma dos leitores acharem tipos ou
assuntos específicos de posts. Estou estudando e com certeza esse site
vai evoluir aos poucos. No momento, porém, a minha prioridade é
escrever.


Nunca me preocupei em acompanhar as estatísticas do site, porque não
quero ficar muito ansioso. Porém, hoje, por ser o aniversário de um mês
de FabioFortkamp.com, resolvi arriscar.

É inacreditável. Este humilde site teve 347 visitantes únicos desde o
dia 13 de abril de 2013, o que siginifica que praticamente 347 pessoas
diferentes já leram meu blog (o número não é exato por o sistema toma
como identificadores os cookies dos browsers). Além disso, no total,
foram 1006 visualizações, 33 por dia. A coisa fica ainda mais
interessante quando vejo as estatísticas de cada texto. O meu texto
sobre a Europa
foi lido 114 vezes
(o campeão), e o meu preferido, sobre o amor, 78 vezes. Isso é
insano.

Muito, muito obrigado a todos vocês.

E se vocês têm alguma sugestão ou reclamação, podem me contactar, como
sempre, por email.

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Como Morar na Europa

Morei em Porto, Portugal, de agosto de 2009 a julho de 2010 e em
Karlsruhe, Alemanha, de agosto de 2011 a fevereiro de 2012. São dois
paises muito diferentes entre si e muito diferentes do Brasil. Estas
foram, com certeza, as experiências mais marcantes na minha vida, e por
isso acho importante compartilhar com meus amigos leitores algumas
observações, dicas e regras.

O programa Ciência Sem Fronteiras está a todo vapor e, embora com alguns
pontos questionáveis (como a suposta maquiagem de números e a prioridade
excessiva de alunos de graduação), não podemos negar que está dando
oportunidades incríveis a muitos jovens, somado a outros programas.
Recomendo expressamente a todos que tiverem oportunidade de o fazer que
o façam.

Nunca viajei para outro continente que não a Europa, por isso não sei se
cada ponto se aplica a outros destinos, particularmente os Estados
Unidos. Em todo caso, aqui vai minha lista de regras para se morar na
Europa:

  1. Você é o estrangeiro. Você está fora do seu país, vivendo nas regras
    dos outros. Os alemães não são muito fechados, você é que é muito
    alegre e abraça todo mundo. Os franceses não são pouco higiênicos,
    você é que desperdiça água tomando muito banho. E pela amor de Deus,
    os portugueses não falam de maneira engraçada, você é que deturpou o
    idioma deles.

  2. O Brasil tem regulamentada por lei a furação de fila (a única
    explicação possível dada a sua frequência e banalização), junto com
    o primo desse hábito, o “guardar lugar”. Você até vai ver europeus
    furando fila, mas não seja o brasileiro que contribui com esse
    hábito que eles realmente odeiam.

  3. Os Estados Unidos ganharam a guerra, mas não significa que todos os
    habitantes do planeta devam falar inglês (queridos historiadores,
    perdoem o meu simplismo em favor da brevidade. Um abraço, F.). Sim,
    o atendente da loja sabe falar inglês, ele apenas não quer fazê-lo.
    E isso é normal. Você aprender a língua nativa do país é o maior
    sinal de respeito que você pode passar, e lhe dá uma oportunidade
    única de poder ler todos os avisos, pedir (e dar) informações na
    rua, não ser enganado com preços de turistas e dar bom dia ao caixa
    do supermercado.

  4. O transporte público é um monumento europeu. Cidades de 200 mil
    habitantes têm cobertura ampla de redes interligadas de trem, ônibus
    e metrô. Decore as principais estações, atente-se aos horários de
    funcionamento, e aproveite. Apenas não se esqueça de comprar a
    passagem, mesmo que não haja catracas. Novamente, mesmo que você
    veja europeus andando sem passagem, não seja o brasileiro que
    contribui para isso.

  5. Descubra as regras de pontualidade do seu país. Em alguns países,
    13h47 é 13h47 e não 13h45 e nem 13h50.

  6. Leia jornais e tente entender o que está acontecendo no seu país.

  7. McDonald’s é uma comida barata (lá na Europa) para quem está
    viajando e com pressa. No cotidiano, aproveite a comida local, coma
    nos restaurantes populares e aprenda a fazer alguns pratos.

  8. Prove cada cerveja, destilado e drink que você tiver oportunidade.

  9. Quando perguntado, explique a vida no Brasil de maneira sincera. Não
    diga que nós somos o melhor país do mundo nem que somos os mais
    atrasados.

  10. Quando perguntado, fale sobre o que não gosta e gosta no seu país,
    mas saiba que isso pode estragar suas amizades. Quando em dúvida,
    use o bom senso.

  11. Faça amigos do maior número de nacionalidades possível.

  12. Bata fotos de tudo, mas não gaste mais tempo nisso do que
    aproveitando os lugares.

  13. Irrite-se quando alguém falar mal do Brasil, mas responda com
    civilidade.

  14. Se você está indo em um programa de estudos, vá em mais festas do
    que você normalmente iria no Brasil mas em menos festas do que o
    suficiente para você ir mal na faculdade.

  15. Não tenha medo de se apaixonar, apenas se atente aos percalços de
    namorar a distância.

  16. Quer fazer sucesso? Aprenda a fazer caipirinha.

  17. No Brasil chamamos todo mundo pelo primeiro nome (e.g. Presidente
    Dilma). No Brasil.

  18. Os europeus vivenciaram as duas guerras. Pense nisso antes de fazer
    piadas ou julgamentos.

  19. Respeite as regras de trânsito e pague as multas.

  20. No Brasil é perfeitamente normal uma pessoas beijar outras dez numa
    mesma noite, e uma festa onde ninguém se pega é uma festa ruim. No
    Brasil.

  21. Saiba as regras do seu país quando à intimidade de casais em
    ambientes públicos.

  22. Viaje o tanto quanto puder.

  23. Viva.

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Por que as músicas dos Beatles fazem tanto sucesso?

Ontem, por acaso, descobri que estava passando na tevê um dos meus
filmes favoritos, Across The Universe. É daquelas ideias que eu
queria ter: um musical só com canções dos Beatles, com a história da
época dos Beatles (então espere muita droga e Vietnã). Os personagens
têm nomes famosos no cânone beatlelógico (Jude, Lucy, Prudence, …), e o
melhor de tudo é ver como as músicas realmente ajudam a contar uma
história absolutamente maravilhosa.

Eu já devo ter visto o filme 5 ou 6 vezes, e sempre noto alguma
referência nova. O que mais me chama a atenção, no entanto, é a maneira
como hoje escutamos e reverenciamos um grupo que, surpreendendo muito
gente, só ficou na ativa por onze anos. Let It Be, o último álbum, foi
lançado em 1970. Faz mais de 40 anos e eles ainda são os reis da música
atual. Bandas que estão se formando hoje escutam os Beatles, em busca de
inspiração. Existem grupos de fãs de Pink Floyd, Queen, Led Zeppelin,
U2, Guns N’Roses, mas são poucos os que não reconhecem uma canção dos
Beatles.

Cada vez que eu ouço uma música deles, seja na sua própria versão, seja
um cover, seja num show do Paul McCartney (sim, eu estou me gabando de,
aos 24 anos, ter ido a dois shows dele no Brasil), eu tento entender por
que eles fazem tanto sucesso. Porque eles são, realmente, muito bons.
Então aqui vai a minha lista dos motivos que, na minha opinião, fazem
os Beatles fazerem tanto sucesso. Enfatizo o lado pessoal porque optei
intencionalmente em não procurar nenhuma lista parecida, nem pesquisar
em livros e sites especializados. Também ignorei toda a parte de
marketing, de como eles eram tão profissionais do entretenimento que
montaram a própria gravadora, e cultivavam os mitos em torno da sua
imagem etc.

Quero saber porque as músicas são boas.

As músicas dos Beatles são fáceis de ouvir

Uma vez ouvi um professor de música dizer que as músicas simples fazem
sucesso porque as pessoas gostam de saber o que vem a seguir. Você
escuta um acorde e instintivamente sabe qual o próximo e como deve
cantar, porque a música tem poucos acordes e você já percebeu que eles
se repetem.

É por isso que todos cantamos Ai, Se Eu Te Pego e Tô Nem Aí, e que a
Bossa Nova e o Jazz, com seus acordes maiores com a quinta aumentada e
inversões harmônicas não são e nunca serão um sucesso comercial (o que
não quer dizer que esses estilos não sejam de qualidade). As lendas do
rock nacional como Legião Urbana, Skank, Barão Vermelho usam sempre
dois, três ou quatro acordes. Experimente tocar numa festa para ver se
todo mundo não vai cantar junto.

As músicas dos Beatles contém acordes simples, no compasso 4/4 (o mais
popular no rock – escute Help, contando 1, 2, 3, 4, 1, 2, 3, 4, … e
veja como se encaixa), com exceções também conhecidas como o compasso
2/4 (o compasso do samba) de I’ve Just Seen a Face e o 6/8 de You’ve
Got to Hide Your Love Away
. Compare isso com o compasso 7/11 de
Money, do Pink Floyd (basicamente, isso significa que você não
consegue dividir um verso de Money em 2, 3, ou 4 partes, como na
maioria das músicas pop, mas sim em 7 partes. Escute a linha de baixo do
começo, que tem 8 notas cíclicas, sendo que a segunda e a terceira são
mais rápidas, sendo subdivisões de um tempo – 7 tempos no total. Se é
difícil explicar, imagine compor.).

Os Beatles faziam música pop no estilo mais puro. As músicas são
gostosas de ouvir, fáceis de tocar – e as letras não desafiam nossa
inteligência.

Escute isso e veja se não dá vontade de cantar junto depois dos
primeiros 10 segundos:

Os Beatles evoluíram

Os Beatles atuaram de 1960 a 1970. Foram disso:

a isso:

Os Beatles não falavam só de amor

Pegue uma música do Roberto Carlos, qualquer uma que vier à cabeça.
Deixe-me adivinhar: ela fala de amor, certo? Pegue também uma música
qualquer na sua playlist de sertanejo universitário e me diga se mais da
70% das músicas não falam de amor.

Numa época em que isso era regra absoluta, os Beatles falavam sobre ser
um escritor (Paperback Writer), descreveram o enterro de uma mulher
que catava arroz depois de casamentos (Eleanor Rigby), debocharam da
revolução (Revolution), declaram sua paixão pela maconha (Got to Get
You Into My Life
), musicaram uma notícia de jornal (A Day in the
Life
), chamaram atenção para conflitos raciais (Blackbird),
homenagearam um lugar de infância (Penny Lane).

Quantos grupos conseguem falar sobre tantas coisas?

Mas quando falavam de amor, eles eram mestres

George Harrison começa falando do jeito que a mulher anda, logo de cara
querendo seduzir. Lá no meio, ele diz, “Você me pergunta se meu amor vai
crescer. Eu não sei!”, e você pensa, que cafajeste, como ele pode não
ter certeza de que o amor vai crescer? Ao que ele desafia, “fique
comigo, e isso pode aparecer”. Gênio.

E depois eles dizem mais ou menos isso: “pois é, eu a amo, e ela não
entende e aparentemente nem você. Mas se você apenas a visse… quero ver
não amá-la”.

Até quando parece que não, eles estão falando de amor. O que dizer de
uma canção em que o rapaz pergunta se a mulher vai cuidar dele quando os
dois estiverem velhinhos?

Os Beatles sabiam esconder mensagens

Isso dá um ar de mistério. Como citei, Got to Get You Into My Life,
disfarçada de canção de amor, já foi dita por Paul que é uma canção
sobre a maconha. Ainda hoje, estamos tentando entender qual o
significado de Lucy in the Sky with Diamonds. E o que diabos é
Ob-la-di Ob-la-da? E por acaso existem submarinos amarelos?

O que isso significa? Significa, além de fazer músicas fáceis de cantar,
escrever letras trabalhadas. Eles não despejam palavras pela rima. Dá
para ver que eles pararam e pensaram, nem que seja pensar em nos fazer
de tolos. E na hora da gravação ainda faziam mais brincadeiras.

Quer dizer, as canções já são boas. E você ainda pode conversar, “viu
que no final de All You Need is Love o John canta yes, he is
dead
?
”.


Para conhecer mais, recomendo:

The Beatles – A Biografia

The Beatles – A História Por Trás de Todas as Canções

Além, é claro, de ouvir muito Beatles.


Ah! Querem ouvir minha música preferida?