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Sobre anotações no Kindle

Mark O’Connell, escrevendo para The New Yorker:

The Kindle allows for electronic marginalia via the “notes” function, but it feels all wrong: something about having to call up a menu and type a note on the keypad, with its little stud-like plastic buttons, makes the whole process seem forced and contrived. Marginalia are supposed to be spontaneous and fluent.

Eu ganhei um Kindle neste ano, e estou amando o dispositivo. E, embora o teclado seja péssimo, eu adoro fazer anotações. Para mim, o mecanismo de chamar um menu não representa nenhum impedimento à fluidez, e sim uma grande vantagem: como as notas não ocupam espaço físico e nem se mesclam com o texto, é possível escrever notas e pensamentos elaborados, não limitados pelo tamanho da margem.

Além disso, você pode ver todas as notas de uma vez, compatilhá-las, pesquisar dentro delas, e coisas que só podem se fazer no mundo digital.

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O que é tempo? – Parte 1

O que é tempo?


Hoje eu achava que teria um dia muito produtivo. Não tenho aulas, então poderia ficar o dia todo em casa, onde não há interrupções. Já havia separado as sobras da janta de ontem para almoçar rapidamente. E estava animado, pois havia coisas muito interessantes a fazer. Então, um pouco antes do horário de almoço, minha namorada me convidou para almoçar. Com o tempo de trajeto, mais as filas em restaurantes, mais o trânsito, isso significaria perder muito do tempo que eu havia separado para me dedicar a algumas tarefas. Ainda assim, depois de menos de 5 minutos de análise, eu fechei meu trabalho aqui e fui.

Algumas coisas levaram às condições que me permitiram fazer isso:

  • Eu tenho o privilégio de ter o “trabalho” de ser estudante de doutorado, o que significa poucos rendimentos e nenhum benefício trabalhista, mas muitos privilégios de ser estudante e ainda ter uma liberdade de horários incrível
  • Eu comecei o dia com a minha tarefa mais importante, que era um trabalho de Termodinâmica. Sem avançar nesse trabalho, eu não vou ser aprovado na disciplina. Se eu não for aprovado, não vou poder obter o título de doutor. Sem o título de doutor, para que estou fazendo isso mesmo? Então, mesmo depois de “perder” muito tempo almoçando com minha namorada, eu poderia voltar para casa sabendo que, se nada mais der certo, o mais importante já foi cuidado.
  • Eu uso um programa maravilhoso chamado Omnifocus. Se você olhar os preços nessa página, vai achar que eu sou louco (quando comprei a licensa, o programa custava muito menos, mas acho que pagaria o preço atual). Porém, esse complexo aplicativo é o que mantém a minha sanidade e o meu controle das atividades. Nele coloco todas as minhas tarefas, desde uma rotina de limpar a casa, coisas que tenho de organizar (como uma festa junina com meus amigos do tempo de escola) até os meus prazos de trabalhos do doutorado. Se há algo com prazo estourando, o programa me avisa. Antes de tomar a decisão de ir almoçar, eu consultei minha lista de tarefas para hoje, vi que não havia nada de urgente ou extremamente importante, apenas algumas tarefas que poderia ser postergadas para amanhã sem nenhum prejuízo ou que poderia ser feitas assim que eu voltasse do almoço.
  • Eu tenho muitas rotinas e regularmente visito o meu trabalho (um conceito que vem do absolutamente espetacular livro Workflow Mastery, de Kourosh Dini, que pretendo explorar nessa série e ainda resenhar nesse blog). Além do trabalho de Termodinâmica, eu tenho outro trabalho muito importante, da disciplina de Refrigeração. Porém, já havia decidido não trabalhar nele hoje, depois de ter gastado a maior parte do dia de ontem envolvido nele e conseguido avançar bastante (e na semana passado já havia feita alguma coisa a respeito).. Também, assim que acordei, já tinha dado uma arrumação geral muito básica na minha casa, e já tinha ido inclusive à feira. Ou seja, olhando o panorama geral da minha vida, eu sei que não havia nada correndo o risco de explodir, e que está tudo ordem.

Tendo em vista isso, eu fui almoçar com ela. Ela está passando por um tratamento dentário muito chato e realmente queria minha companhia. Fomos em um de nossos lugares preferidos, falamos das novidades e combinamos o nosso fim de semana. Foi uma experiência bastante agradável.

Ou seja, levando em consideração tudo isso que falei, a melhor coisa que eu podia fazer com meu tempo era ir almoçar com minha namorada. Agora eu voltei para minha casa, realmente confirmei que nada está explodindo e estou aqui escrevendo isso.

Olhando em retrospecto, será que eu perdi mesmo tempo? Ou apenas o gastei de uma maneira que não esteja diretamente relacionada com minha fonte de renda, mas que, neste dia e cenário específico, era a maneira mais significativa possível de usar as horas do dia?


Esse é o primeiro post em muito tempo neste blog. Eu deixei de escrever quando comecei a ser atropelado pela falta de tempo: fui morar sozinho, comecei uma série de disciplinas muito trabalhosas no doutorado, além de uma série de compromissos pessoais que não param de chegar. Nesses meses, tive de rever muitas coisas em relação à gestão de tempo e o que isso significa, baseado nas minhas experiências anteriores, nos blogs que acompanho, e em alguns livros (incluindo o de que falei ainda há pouco).

Por isso, para remarcar a volta desse blog (e, de maneira realista, sem previsão de quando será o próximo post), eu vou tratar das minhas reflexões sobre o tempo, o que ele significa, e como pode ser gerenciado. Obviamente, eu tenho muito mais perguntas que respostas, e cada texto é uma maneira de eu mesmo tentar entender, visto que escrever é a melhor forma de pensar, para mim.