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O jeito HBO, o jeito Warner

Stephen King escreveu que a boa ficção começa com “e se…”. Por
exemplo, o seu romance A Hora do Vampiro é a resposta à pergunta: “e se
todos os habitantes de uma cidade se transformassem em vampiros?”. Um
trabalho mais recente, Sob a redoma, trata do tema: “e se uma cidade
fosse aprisionada por um campo de força, do qual ninguém entra e ninguém
sai?”.

Há uma razão para “e se…” ser uma técnica tão boa. “E se…” tenta
evitar cenários óbvios. “E se…” chama a atenção do leitor, que fica
preso ao livro, o que, na minha opinião, deveria ser o objetivo de todo
romancista. “E se…” cria automaticamente um mundo novo, para o qual
podemos escapar como leitores.


A HBO está com uma nova série, O Negócio. A ideia é bastante
interessante: e se um grupo de prostitutas resolvesse profissionalizar o
meio? Criando a sua própria empresa (sem precisar de um cafetão),
bolando um plano de marketing, oferencedo planos de fidelização aos
clientes?

Histórias de prostitutas existem aos montes. Histórias dramáticas, onde
a prostituição era o cúmulo da humilhação e a única maneira de se
sustentar, e histórias politicamente incorretas, onde as meninas fogem
de casa para viverem uma vida de liberdade, gozarem e ainda ganharem
muito dinheiro com isso.

O Negócio oferece uma visão diferente. A série glamouriza a profissão,
ao mesmo tempo em que mostra os anseios de uma das garotas de programa
para casar e sair dessa vida. Fala da prostituta mais experiente e
pragmática, que quer apenas ganhar o máximo de dinheiro possível e da
mais nova, que não tem nem onde morar por ficar pulando de hotel em
hotel.

Vamos combinar, empresa de prostituição com cartão de fidelidade? Você
pode questionar a moral disso, mas há de concordar que é uma grande
ideia de ficção.

Eu só assisti a alguns episódios, e uma coisa me chama a atenção: a
série é muito bem feita. O roteiro é coerente, as interpretações das
atrizes são boas, as cenas de sexo são poucas e não vulgares, os
diálogos são inteligentes.

Um detalhe: O Negócio é uma série brasileira.


Há algum tempo, a HBO estava com outra série brasileira no ar, F.D.P..
De novo: e se fizéssemos uma série de futebol centrada no juiz? Ora,
isso é brilhante. Histórias de futebol todos conhecem, mas como é a
rotina de um juiz? Qual a sua realidade financeira? Como ele encara a
própria profissão? A série acertou o ponto ao tratar dos dilemas morais:
uma das tramas é o juiz, a ponto de perder a guarda do filho, receber
uma proposta de propina para ajudar o time de coração do filho. O que
fazer?

Sem falar no nome, absolutamente sensacional. Fazer uma série de
televisão sobre um juiz de futebol, e ter a sutileza de chamar de um
nome irônico como F.D.P. é bom demais.

Eu vi a primeira temporada toda, com muita satisfação. Era
entretenimento puro, com também excelentes atores e um roteiro bem
construído.


A Warner também está com uma série nova, chamada de Vida de
Estagiário
. Quando você ouve uma série com esse nome, o óbvio pula na
sua frente: deve ser a história de um estagiário sofredor, tratado como
escravo, que sonha em ser efetivado. O que pode ser feito de criativo
com isso?

Nada.

Eu assisti a dois começos de episódio, mas não consegui ver mais que
isso. Vida de Estagiário é uma das produções mais mal feitas que já
vi. É um estilo de humor “besteirol”, onde o público ri dos tombos do
protagonista. As piadas não têm graça nenhuma. As situações são
esdrúxulas. O cenário parece de brinquedo.

E também é uma série brasileira.


Há algum tempo, o governo aprovou uma lei obrigando canais de TV paga a
exibirem conteúdo nacional
. Existem muitos argumentos contra e muitos
a favor, mas não importa. A lei existe e deve ser cumprida.

A HBO, “forçada” a fazer uma série nacional, fez o jeito profissional.
Exibiu duas séries excelentes, provando que os talentos do Brasil na
dramaturgia não são poucos.

A Warner, na mesma situação, criou um programa esdrúxulo, sem graça,
quase que mostrando (na minha visão como espectador) a sua revolta com a
lei.

E eu fico surpreso com o quanto isso se relaciona à nossa vida pessoal.

Muitas vezes, ficamos com dificuldade na vida. Odiamos o nosso emprego,
odiamos o nosso apartamento, odiamos a nossa família. E como reagimos a
isso?

Fazemos do jeito HBO, usando as dificuldades como oportunidade para
melhoria? Se temos um chefe desagradável, descobrimos o que fazer para
conquistá-lo? Se não gostamos da nossa cidade, encontramos aqueles
lugares secretos, que poucas pessoas conhecem, para termos noites mais
agradáveis? Se temos de ler aquele livro chato para a escola,
pesquisamos algum filme baseado em obras do mesmo autor, só para
entender o seu universo? Se alguém bate no nosso carro, será que não
podemos usar isso para reavaliar a necessidade de usar o carro?

Ou fazemos do jeito Warner, abraçando a mediocridade? Já que estamos num
emprego ruim, vamos fazer o possível para ser despedidos e ganhar a
indenização? Se não gostamos da secretária, vamos infernizar a sua vida
ao máximo para ver se ela sai primeiro? Se ficamos doente, vamos
reclamar de tudo, dos médicos mercenários e do sistema de saúde, e da
vida injusta?

Tudo isso é uma escolha nossa. Podemos agir para melhorar ou podemos
sentar e reclamar. Podemos guiar nossa vida pelo jeito HBO ou pelo jeito
Warner.

Quem você quer ser?

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Você não precisa de uma tela Retina

A minha namorada tem um celular Nokia antigo, daqueles de flip ainda
(lembram?). Não tem nenhum recurso a não ser os básicos: telefone,
mensagens, alarmes, uns joguinhos.

Os mais jovens dizem que o fato de ela ter um telefone velho assim “é
paia demais”, ou algo assim, não estou por dentro das gírias novas.
Apesar das críticas, é com esse celular que ela fala quase todo dia com
a mãe dela, a 800 km daqui. É com esse celular que ela se comunica com
os sobrinhos e irmãos que moram longe. É com esse celular que ela troca
mensagens comigo.

Ela não está nem aí para o que está acontecendo no Twitter (e eu,
namorado ruim que sou, continuo checando-o mesmo quando estou com ela).
Ela não ri das fotos com legendas engraçadas no Instagram. Ela consulta
o Facebook com calma, no computador dela. Ela não precisa consultar o
email quando está na fila do mercado.

Ela é formada numa universidade, trabalha, já morou em algumas cidades
diferentes, vai a festas, tem amigos, tem um namorado. Tudo isso sem um
smartphone. E ela diz que só vai comprar um outro celular quando este
estragar. Considerando que estamos falando de um Nokia antigo, isso quer
dizer nunca.

Namorá-la é com certeza a melhor coisa que me aconteceu nesse ano, e,
apesar de naturalmente não ser só por causa disso, ela é um lembrete
ativo do que queremos dizer quando precisamos de algo.

Você é um animal. Você precisa de água e comida. Precisa dormir. Precisa
fazer exercício. Precisa urinar e defecar.

Você também é um ser humano. Precisa ter cultura, sentir-se pertencente
a algo, relacionar-se com alguém (seja esse alguém Deus), integrar-se na
sociedade, estimular-se intelectualmente, descobrir a sua vocação.

O que você não precisa é de uma tela Retina.


Eu me formei em engenharia, então para mim a tecnologia é um meio de
vida. A minha profissão é criar tecnologia, então o leitor pode ter
certeza que não quero dizer que temos que abandonar toda tecnologia. O
que prego é que temos de ter uma atidude racional em relação a ela.

Meu tema de mestrado é a refrigeração, a ciência de produzir frio. Uma
geladeira é necessária? Depende. A humanidade viveu muito mais tempo sem
refrigeradores do que com eles. Mas eles certamente ajudam. Com uma
geladeira você precisa ir menos vezes ao mercado porque os alimentos
duram mais. Você se refresca com a cerveja no verão. Você pode preparar
a comida na véspera da festa para poder aproveitar com seus amigos. Tudo
isso é ótimo. Tempo e dinheiro poupado com a ajuda de uma geladeira
podem ser usados para outras coisas.

Tudo bem, os benefícios de ter um refrigerador são tantos que você
decide que precisa de um. Mas você não precisa de uma geladeira de
inox com duas portas. Você quer uma e pode comprar. Ótimo.

Da mesma forma, a minha namorada, por decisão própria, resolveu que não
precisa de um iPhone ou um Galaxy S4. Ela precisa manter contato com as
pessoas importantes na vida dela (eu humildemente arrisco me incluir
nesse grupo), e o aparelho que ela tem em mãos cumpre essas funções
perfeitamente. A tecnologia, nesse caso, está cumprindo o seu papel, de
resolver um problema real.


Nos últimos tempos, eu ando me cansando do lado mais podre do mundo
Apple. Desde o lançamento dos últimos modelo de iPad, só choveram
resenhas das mais aburdas, de como ele é mágico, de como dá vontade de
chorar de tão leve que ele é, de como ele se integra a sua mão. Não há
um dia que eu não veja um artigo comparando o iPad Mini ao iPad Air. E
podcasters e blogueiros famosos estão dizendo que vão comprar um iPad
Mini porque finalmente ele vai ter tela Retina e, afinal, não dá para
trabalhar sem uma tela Retina.

Eu tenho um MacBook Pro, modelo 2011. Ele não tem tela Retina. O
computador, além de lindo e bem construído, tem mais memória,
processador e armazenamento do que eu preciso, e o sistema operacional é
ótimo, rápido e robusto. E, mesmo sem a tela Retina, eu estou
trabalhando nele todo dia! Eu sou ou não sou o máximo?

E o mais importante de tudo: eu comprei um MacBook não porque eu
precisava dele, mas porque eu queria.


A Luana Oliveira escreveu um ótimo artigo comparando a
tecnologia à religião:

Quando se chega ao ponto de tentar convencer outras pessoas de que o
produto X é melhor, de que os aplicativos ABC são melhores, quando
gera inimizades porque determinada pessoa prefere outra plataforma, o
que isso te lembra? Pra mim isso se assemelha muito à religião.
Normalmente os discípulos ficam cegos para outras possibilidades e só
têm olhos e ouvidos para aquela religião (ou marca, no caso da
tecnologia). Tudo o que não pertence a essa condição é praticamente
demonizado.

Ela está certa. Quando se faz parte do mundo de usuários Apple, e se
quer manter-se informado, é impossível não ser bombardeado com artigos
fanáticos. O mais interessante de tudo é que esse culto se torna tão
arraigado que discutimos apps pelos apps em si, e não pelo que eles
fazem. Estamos rodando testes de velocidade em um iPad sem pensar no que
ele pode ser usado.

Há algum tempo, li um artigo do Michael Shechter que me marcou
profundamente. Ele se referia a um episódio do podcast Enough em que
Patrick Rhone falava que deveríamos pensar nas ações, e não em
apps:

When trying to figure out how to improve the way you work, Patrick is
right. You shouldn’t start with the app. It is indeed about the action
you want to take, but—at least for me—a big part of that process is
taking a step back in order to find the right tool or tactic to help
me to accomplish a necessary actions. Ultimately it’s about creating
processes that ensure those necessary actions happen.

Precisamos urgentemente parar de delirar a cada vez que a Apple (ou
outra empresa) lança um produto novo e começar a consumir tecnologia de
maneira inteligente. O que estamos fazendo com esses aparelhos
excelentes que temos à disposição


Há algum tempo, eu falei que ia fazer mais resenhas de apps. Bem, eu
mudei de ideia.

Eu quero discutir tecnologia, e a nossa relação com ela. Gosto desse
tópico (tanto que, repito, escolhi uma carreira que estuda e desenvolve
tecnologia). Mas quero falar de assuntos relacionados: ciência,
produtividade, criatividade, desenvolvimento pessoal. E quero fazer
artigos longos, opinativos.

Apps são um meio, e podem servir de exemplo para alguma ideia, mas não
quero escrever um testo centrado num aplicativo. Assim, não vai mais
haver resenhas de apps. As que escrevi foram um teste, e foram
interessantes. O que eu não quero é me juntar ao culto Apple; eu sou
apenas um usuário, e não quero converter ninguém. Quero que as pessoas
usem o que for melhor para elas.

Para mim, o ecossistema Apple está funcionando bem. Todos os meus
aparelhos são de dois anos atrás e eles estão ótimos. Eu não preciso
de nada melhor. Eventualmente, eu vou trocar de aparelho. E talvez eu
compre um com tela Retina. Ou talvez não. Talvez eu volte pro Linux.
Talvez eu resolva experimentar um Android.

Eu não quero ser um fanático. Quero apenas fazer o meu trabalho,
continuar escrevendo, continuar me comunicando. E quero passar mais
tempo com minha namorada e menos tempo conferindo o Twitter.

Porque isso é o que importa.

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Simplifique sua vida: ambientes

Esse é mais um texto da série “Simplifique sua vida”, na qual eu
narro minha jornada para eliminar o máximo possível de complicações,
seguindo as ideias do Simple Living Manifesto de Leo Babauta.

Limpar os ambientes tem dois efeitos, na minha experiência:

  1. Você questiona a necessidade de ter tanta coisa e se concentra em
    manter o essencial
  2. Você não se sente distraído com tanta poluição visual

Minha mesa aqui no laboratório onde faço mestrado era extremamente
bagunçada. Eu tinha pilhas de livros e papéis quase literalmente na
frente de mim. Hoje na minha mesa há:

  1. Um computador
  2. Uma pilha de papel para rascunho em cima de alguns poucos livros
    aleatórios
  3. Um porta-canetas
  4. Um violão em miniatura que ganhei da minha namorada

E devo dizer, a sensação de sentar numa mesa tão limpa é muito boa. Eu
posso trabalhar nas minhas simulações, ou escrever trechos da minha
dissertação, sem achar que tem um livro caindo em cima de mim.

Para simplificar nossa vida, é fundamental limpar nossos ambientes. Se
você se sente perdido no meio de tanta bagunça, e têm dificuldades para
encontrar espaço, é por que tem coisas demais. Você ter a coleção
inteira de livros de algum autor é muito bom, mas questione os custos
disso. Ter enfeites é bom, e melhora a qualidade do ambiente, mas
selecione alguns.

No meu quarto, há uma estante onde eu guardava (acredite) caixas de
cabos, teclados antigos, mouses etc. Chegava a ser cansativo acordar e
dar de cara com uma coleção de periféricos jogados numa prateleira. O que eu
fiz? Transferi essas coisas para um armário, que foi feito justamente
para guardar coisas aleatórias, e coloquei alguns livros naquele
ambiente (o que ajudou também a organizar um pouco minha prateleira
principal de livros).

A regra básica que funciona para mim é essa: superfícies abertas e
visíveis não foram feitas para armazenar seus pertences, a não ser que
eles tenham algum efeito decorativo
.

No seu excelente livro Workflow, Kourosh Dini fala em três
aspectos que um objeto deve ter:

  1. Estar disponível (i.e. existir)
  2. Estar acessível quando necessário
  3. Estar invisível quando desnecessário

Um livro em uma prateleira, em vez de em cima de uma mesa, pode estar
perfeitamente acessível, e ausente da nossa visão quando não precisamos
dele. Outro exemplo: as suas chaves num claviculário atrás da porta; não
está jogada em cima da mesa e está à disposição para quando vai precisar
dela, ao sair de casa. Esse é o ideal: alcançar estes três pilares de
organização. Tente aplicar esse conceito a todos os seus pertences.

Lembre-se: ter menos coisas materiais é muito bom. Ninguém vive na mesma
moradia por muito tempo, hoje em dia, então pense na hora de mudança.
Ter menos coisas também permite a você escolher morar num lugar
pequeno e com poucos armários.

Em ação

  1. Limpe suas mesas, prateleiras, estantes, enfim, todas as suas
    superfícies visíveis
  2. Se você tiver certeza de que precisa manter dos objetos que forem
    retirados, transfira-os para armários fechados, mas de forma
    organizada. Ponha papeis em caixas etiquetadas, dedique porções dos
    armários para coisas específicas, tenha uma gaveta para todos seus
    cabos/acessórios.

Eu não sou nenhum especialista em organização, estou justamente narando
a minha jornada para simplificar minha vida. Para dicas mais específicas
(e muito melhores), visite o blog Vida Organizada.

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O Futuro do LaTeX, Parte I – A importância de linguagens de marcação

Esse parágrafo que você está lendo não tem nenhum recurso de formatação
especial. Há uma fonte, de um determinado tamanho, com algumas margens,
espaçamento entre linhas, mas isso é o mínimo para um texto ser
apresentável; são detalhes tão básicos que o leitor quase nem se dá
conta. Na prática, são apenas caracteres, um após o outro, formando a
mensagem que eu, escritor, quero passar a você, leitor.

Este parágrafo têm uma ênfase. Esse recurso imediatamente chama
atenção para uma palavra determinada, e altera a mensagem. Nas minhas
resenhas de livro, eu dizer que um livro é extremamente bom ou
extremamente bom são coisas diferentes, apesar da palavra ser a
mesma. Ou, quando falo de apps, dizer que um app é levemente
caro ou levemente caro provoca sentimentos diferentes por parte de
quem está lendo. Quando eu digo que algo é levemente caro, eu estou
sendo irônico, ou estou apenas dizendo que o produto não é nem caro nem
barato?

A forma da escrita afeta o conteúdo. Ênfase, ênfase ou ênfase são
três formas de escrever a mesma palavra, mas a interpretação do leitor
varia conforme o uso dos recursos.

Outro exemplo: eu poderia simplesmente dizer que Aristóteles falou que o
todo é maior que a soma das partes. Ou poderia escrever:

O todo é maior que a soma das partes – Aristóteles

Aqui, eu não alterei a forma de uma letra, mas sim a apresentação de uma
frase. Observe como eu consigo imediatamente chamar mais a atenção.

Agora, um detalhe: eu poderia configurar este site para exibir este
texto com uma outra fonte, mas eu não precisaria escrever o texto de
novo, em outra fonte. De fato, a fonte na qual eu estou escrevendo o
texto não é a mesma no qual você está lendo. Mais: eu poderia trocar os
negritos por itálicos e não precisaria reescrever essas palavras.
Poderia trocar a forma como a citação acima é exibida. Como isso é
possível?

É possível porque esses recursos são visuais. Eles não fazem parte do
conteúdo, mas se relacionam com ele. Na prática, as informações de forma
e de conteúdo são armazenadas de forma indepedente nos computadores.

O formato mais básico de texto é o chamado texto puro, plain text em
inglês. É o texto que o leitor digita no Bloco de Notas do Windows, por
exemplo, ou no TextEdit no OS X, ou em algum editor básico do Linux. São
apenas caracteres, sem formatação nenhuma. O programa exibe o texto em
alguma fonte padrão, com algum espaçamento.

Esse formato é tão básico que se o leitor escrever algum texto no Bloco
de Notas no Windows e mandar para mim, eu vou conseguir abrir no meu
iPhone. Todos os sistemas modernos conseguem interpretar texto puro.
Além disso, esse formato é extremamente leve. Repito: são apenas letras.

Porém, como já vimos, a formatação é essencial. Eu poderia escrever
todos os meus textos em texto puro e mandar para os leitores, mas isso
está longe de ser ideal. É preciso uma maneira de, usando texto puro (um
formato que o computador consegue entender), marcar o texto,
produzindo um texto rico (um formato que o leitor consegue entender). Em
vez de armazenar as palavras em negrito, armazenam-se comandos para
produzir negrito. E, então, um programa analisa essas instruções e
produz o resultado visual desejado.

Uma linguagem que marque o texto com recursos de formatação é chamada de
linguagem de marcação (markup language).

Uma linguagem de marcação usada todos os dias

O leitor é exposto a uma linguagem de marcação todo dia, sempre que
navega pela internet em um browser. As páginas da Web são escritas em
HTML (HyperText Markup Language); é função dos navegadores interpretar
o HTML e exibir os recursos gráficos na sua tela, convertendo comandos
em pixels.

Por exemplo, este parágrafo tem a seguinte estrutura em HTML:

<p>Por exemplo, este parágrafo tem a seguinte estrutura em HTML:</p>

Repare nos elementos adicionais: <p> e </p>. Repito: um arquivo de
texto num computador é armazenado como uma sequência de caracteres,
incluindo espaços e quebras de linha. O arquivo de texto não sabe o que
é um parágrafo. O que esse comandos fazem então é instruir ao
navegador: “exiba essa sequência de caracteres como se fosse um
parágrafo, isto é, com um espaçamento antes e depois, com uma certa
tabulação etc”. Os detalhes da formatação podem ser alterados com uma
linguagem auxiliar chamada de CSS, sigla para Cascading Style Sheets
(que determinam a fonte, as margens e outros detalhes do estilo).

O parágrafo acima é interessante porque tem vários detalhes
tipográficos. Repare na sua versão em HTML:

<p>Repare nos elementos adicionais: <code><p></code> e <code></p></code>. Repito: um arquivo de texto num computador é armazenado como uma sequência de caracteres, incluindo espaços e quebras de linha. O arquivo de texto não sabe o que é um <em>parágrafo</em>. O que esse comandos fazem então é instruir ao navegador: “exiba essa sequência de caracteres como se fosse um parágrafo, isto é, com um espaçamento antes e depois, com uma certa tabulação etc”. Os detalhes da formatação podem ser alterados com uma linguagem auxiliar chamada de CSS, sigla para <em>Cascading Style Sheets</em> (que determinam a fonte, as margens e outros detalhes do <em>estilo</em>).</p>

Na maioria dos navegadores, é possível ver o código-fonte da página,
para ver como aquele site foi escrito em HTML. Recomendo como um
exercício interessante.

Separação entre produtor e consumidor

Este não é um tutorial de HTML então vamos voltar ao conceito. Uma
linguagem de marcação fundamentalmente separa o produtor do consumidor
de conteúdo. O produtor usa os comandos e os recursos da linguagem
escolhida para criar recursos gráficos.

Mas que tipo de recursos? Basta pensar em tudo que não é texto puro:

  • Margens
  • Tipo de fonte
  • Tamanho de fonte
  • Figuras
  • Tabelas
  • Equações
  • Diagramas
  • Negrito, itálico, sublinhado
  • Alinhamento dos parágrafos
  • Citações

Naturalmente, as boas linguagens permitem aos usuários criarem os seus
recursos adicionais.

Processadores de texto como o Word da Microsoft e o Pages da Apple
também usam uma linguagem de marcação, mas que fica invisível ao
público. Em vez de haver um comando para transformar uma palavra em
negrito, o usuário seleciona um texto e clica num botão. O ato de clicar
num botão efetivamente produz o comando internamente e atualiza a tela
para mostrar uma nova palavra em negrito.

A vantagem principal dessa abordagem é que ela é muito fácil de
aprender. No HTML, é preciso consultar alguma referência que o negrito é
produzido assim: <b>negrito</b>. Nos processadores, basta apertar um
botão.

Uma das “vantagens” alardeadas é que processadores são do tipo WYSIWYG,
what you see is what you get, significando que o que o leitor vê é
aquilo que está acontecendo. Se o usuário do Word está editando um texto
em Arial, o texto impresso vai estar em Arial; quando o arquivo for
mandado para outra pessoa, ele também vai estar em Arial, no mesmo
tamanho. As instruções de formatação estão codificadas internamente no
arquivo (mas independentes do conteúdo, lembre-se). O mesmo arquivo
usado para escrever o texto é usado para visualizá-lo.

Processadores de texto violam a separação entre produtor e consumidor, o
que é na verdade uma desvantagem.

O que um autor de página da Web vê quando escreve uma página em HTML é
bem diferente do que um leitor vê quando usa o Safari, Chrome, Firefox
ou outro navegador. O autor faz testes, mas quando ele está escrevendo,
ele não está preocupado com detalhes como margem e fonte. As (boas)
linguagens de marcação estimulam a boa prática de escrever e marcar o
texto de maneira apropriada, e só depois implementar a formatação. É
importante saber que em determindo lugar há uma ênfase, mas não de que
forma essa ênfase vai aparecer. É importante saber que ali há uma
tabela, mas não qual a espessura da linha.

A linguagem HTML reforça isso ainda mais ao requerer uma segunda
linguagem (o CSS) para definir detalhes de estilo. O código em HTML
define a estrutura: o que é um título, o que é um parágrafo, o que é uma
tabela, e o estilo em CSS define os detalhes: qual fonte o título usa,
qual a margem dos parágrafos, qual o tamanho das células nas tabelas.

Abordagens WYSIWYG distraem. Você está escrevendo e vê um texto poluído
cheio de imagens, e repara que uma não está corretamente alinhada. Você
interrompe a sua linha de raciocínio para arrumar a imagem. Algum tempo
depois, para de novo porque acha que a fonte não está boa. O autor é
praticamente instruído a escrever e formatar o conteúdo ao mesmo tempo,
o que é altamente improdutivo. É preciso ter muita força de vontade para
escrever sem se deixar distrair pelos detalhes.

Para piorar, as linguagens de marcação por trás de processadores
comerciais de texto não são nem um pouco robustas. Quantas vezes o
leitor já abriu um documento do Word para encontrar o trabalho da semana
toda desorganizado? Algum erro interno na hora de salvar e abrir de novo
o documento provocou um desastre.

Para produzir documentos sérios, em que se controla a aparência final
com precisão, é preciso usar uma linguagem de marcação que esteja
explícita, e não que esteja escondida.

E o LaTeX?

Esse texto começou pequeno na minha cabeça e já se tornou grande demais.
Num post futuro, vou falar especificamente do LaTeX e em como ele se
encaixa nesse cenário.

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Resenhas de apps para Mac

1Password 4 para Mac: proteja suas informações

A ideia por trás do 1Password é simples: você possui uma senha
difícil (one password), mas que possa ser lembrada de alguma forma, e
com ela você acessa todas as suas informações sensíveis: suas senhas da
internet, dados do seu cartão de crédito, documentos sigilosos,
configurações do seu email do trabalho, licenças de software, passaporte
etc.

Vamos pensar em um exemplo básico, geralmente usado como a descrição
básica do app: gerenciamente de senhas. Se você não usa algo assim, é
provável que você pertença a um dos seguintes grupos:

  1. você usa a mesma senha para tudo
  2. você nunca lembra das suas senhas

O item 2 é uma incomodação. Você vai fazer compras naquele site que você
não usou por três anos e não lembra da senha. Você clica em “Esqueci
minha senha” e espera pelo email, que às vezes demora, e gera uma nova
senha. Mas algum tempo depois o problema se repete.

O item 1 é realmente perigoso. O problema do uso da mesma senha em todos
os sites ser um procedimento popular é que é um procedimento popular.
Quando alguém rouba sua senha de algum serviço (digamos Gmail) vai
tentar usar a mesma senha no Facebook, Twitter, ou, pior, nos sites de
compra onde seus dados do cartão de crédito estão armazenados. Vez por
outra vemos vazamentos de senhas e é importante isolar as suas, para que
o problema em um serviço não afete outros.

O 1Password para Mac resolve esse problema combinando duas ferramentas:
ele pode gerar senhas grandes compostas de sequências aleatórias de
caracteres, evitando senhas fáceis de adivinhar como seu aniversário ou
variações do seu nome. E como você se lembra dessas senhas difíceis? Com
o segundo recurso fundamental: um banco de dados de todas as suas
senhas, armazenadas de forma segura, e que só pode ser acessado com sua
senha mestra. Você cria uma senha, de dificuldade relativamente grande,
que possa ser memorizada, e com ela acessa todas as suas senhas
aleatórias.

Vamos fazer um exemplo prático. Eu vou até algum site no qual quero
fazer login e clico no ícone da extensão do 1Password (que pode ser
instalado no menu do aplicativo):

1p-login

Eu digito a minha “senha mestre” e a extensão oferece alguns logins que
podem ser usados nesse site:

1p-after-login

A partir daí, o app preenche automaticamente o formulário e faz o login,
com a senha que você guardou para aquele site.

Para salvar uma nova senha, é fácil. Se eu digitar ou colar uma
senha e fizer login (em vez de usar a extensão para inserir uma senha já
salva), o 1Password vai se oferecer para salvar a senha na sua base de
dados (que é salvo no seu computador e pode ser sincronizado
opcionalmente).

Alternativamente, se eu quiser me cadastrar em algum site, posso usar o
gerador de senhas:

Gerador de senhas do 1Password

O gerador pode ser configurado para diferentes sequências de caracteres,
variando-se o número total de caracteres, a proporção entre letras e
números, o fato de ser pronunciável etc.

Esse é o princípio de funcionamento do app. Vamos agora examinar mais a
fundo algumas características.

Usos

Primeiramente o que guardar no app? Qualquer tipo de informação
sensível:

  • Senhas
  • Licenças de software
  • Cópias digitalizadas de documentos do carro e da sua casa
  • Dados da sua conta do banco
  • Dados de contas bancárias para as quais você transfere dinheiro
    regularmente
  • Configurações de servidores de email
  • Cópias de contratos
  • Números de RG, CPF, Passaporte

Por que ter esse tipo de informação guardada num aplicativo?
Primeiramente, é uma cópia de segurança. Se você precisa do seu número
de passaporte com urgência mas não consegue encontrá-lo, tem um acesso
fácil – inclusive, se ele for extraviado, você pode passar todos os
detalhes à polícia. Se seu documento do carro for perdido, você tem à
mão uma cópia digitalizada com o Renavam, número do chassi etc.

Em segundo lugar, é uma conveniência. Com alguns cliques você copia seu
número do cartão de crédito e faz uma compra, sem precisar abrir a
carteira.

1Password é extremamente útil.

3 versões

O 1Password 4 para Mac possui três versões que funcionam de maneira
complementar:

  • a extensão para browser (que a propósito funciona em todos os
    navegadores modernos)
  • o app completo
  • um app que fica na barra de menu, chamado de 1Password Mini

A versão Mini é uma novidade da versão 4 que funciona como uma interface
rápida ao programa. Com o atalho ⌘-⌥-\, você ativa uma versão
virtualmente idêntica ao do browser:

1p-mini-login

De fato, isso merece uma ênfase. Antes da versão 4, com um atalho
parecido (⌘-\) no browser, você ativava a extensão. Agora,
pressionando o mesmo atalho, você ativa o 1Password Mini, que, como
falei, tem funcionalidade idêntica. Em resumo: não sei por que a
extensão ainda está ali. O atalho continua válido, certamente para não
causar estranheza em usuários antigos.

(Sim, eu comecei essa resenha com uma funcionalidade inútil, mas achei
que era a melhor maneira de explicar a ideia do 1Password. Achei que, na
introdução a um app, eu dizer que posso completar o login de um site no
Safari com um app na barra de menu poderia soar mais confuso que já é).

Enfim, vamos firmar: com um atalho (repito, o atalho geral é ⌘⌥-\ ) é
possível acessar o 1Password Mini, e partir dali fazer operações rápidas.
Por exemplo, navegando com as setas do teclado pelo menu de logins e
dando Return em um dos logins salvos, você vai ser levado ao seu
browser padrão no site do login, já com o formulário preenchido. Ou,
dando Return no seu número de cartão de crédito, ele é copiado para o
clipboard, e pode ser inserido em algum documento que você esteja
preenchendo.

No fim, a versão menos usada por mim é o app completo. O princípio é o
mesmo: você desbloqueia o app com a sua senha mestre e navega na sua
base de dados. Por que usar essa versão e não a Mini? Penso em quatro
cenários especiais.

Primeiramente, usamos essa versão para cadastrar muitas informações de
uma só vez. Por exemplo, na primeira vez que usei o app, preenchi meus
dados pessoais, números de cartão de crédito, documentos etc. Eu me dei
a esse trabalho grande inicialmente para poder usufruir das informações
quando necessárias depois. A versão Mini é boa para navegar e copiar
algum dado, mas não é muito prática para inserir informação.

1p-categories

Outro uso é para editar o que o 1Password chama de notas seguras, que
podem guardar textos e arquivos de forma criptografada. Por exemplo, eu
tenho uma nota com o uma versão digital do documento do com carro, para
referência. Tenho outra com os dados para transferência bancária para
minha corretora de valores na Bolsa. É uma forma de você guardar
livremente alguma informação de forma mais segura que simplesmente um
arquivo no seu computador.

Criando nota segura no 1Password

Um terceiro uso para o app completo é uma auditoria de segurança. O
1Password indica senhas duplicadas, ou fracas demais, ou muito antigas,
como uma sugestão de você modificá-las. Um pequeno detalhe bastante
interessante.

Por último, o app permite a você definir favoritos entre os seus itens,
para eles ficarem de mais fácil acesso. Por exemplo, você pode marcar um
dos seus cartões de crédito, os dois ou três sites que você mais
utiliza, e alguma nota que você precisa consultar com frequência.

Segurança

E se alguém se apoderar do computador, consegue ler esses dados? Se ele
adivinhar a sua senha do login do Mac, e a sua senha do 1Password, sim,
mas a probabiliade disso acontecer é muito baixa – sem contar que é
assim que você acessa seus dados.

A base de dados do 1Password fica de fato armazenada no disco, mas ela é
criptografada (detalhes podem ser encontrados no site), significando
que o acesso ao que está armazenado dentro desse arquivo é bastante
difícil. Eu não tenho conhecimento para avaliar a qualidade da
tecnologia usada, mas aqui vai uma reflexão: o negócio da Agile Bits, a
companhia por trás do produto, é vender aplicativos que protegem dados.
Pense no dano gerado por uma denúncia de que a segurança é fraca; você
acha que investir em tecnologias modernas de criptografia não é uma
prioridade da companhia?

Mesmo assim, é interessante cada pessoa fazer uma avaliação sobre que
tipo de informação colocar, e acho que sempre é possível achar um
balanço entre segurança e conveniência. Por exemplo, você pode armazenar
o número do cartão de crédito, mas memorizar a data de vencimento e o
código de segurança, o que permite uma pequena camada de segurança. Pode
armazenar os dados das contas bancárias mas não as senhas.

Naturalmente, se você tem muito dinheiro na sua conta, ou se está em
posse de algum documento bastante sigiloso, talvez esse tipo de
informação não devesse estar de forma alguma digitalizada.

Outras plataformas

Essa é uma resenha do app para OS X, mas existem versões para iOS,
Android e Windows.

A sua base de dados pode ser sincronizada entre todas as versões por
Dropbox, iCloud (para OS X e iOS) e por WiFi. As considerações de
segurança são as mesmas: se alguém tiver acesso a sua senha do Dropbox,
ainda assim ele vai precisar da sua senha mestre. Ainda assim, faça uma
análise para decidir o que vai para a nuvem. Hackers existem.

A sincronização por Dropbox ainda tem uma funcionalidade interessante.
Se você estiver num computador onde não há o 1Password instalado, pode
fazer login no site do Dropbox, navegar até a pasta no aplicativo e
abrir um arquivo html, que é uma versão web, de funcionalidade reduzida
do aplicativo completo. Bom para consultar dados; essa versão (chamada
de 1Password Anywhere) não permite inserir nenhum dado. É apenas uma
maneira de visualizar dados num computador estranho.

A propósito: é bom ter a sua senha do Dropbox anotada em algum outro
lugar (físico, de preferência) para melhor usufruir disso. Se está num
computador sem 1Password, como acessaria a sua conta em primeiro lugar?
Também gosto de manter uma segunda cópia de senha de serviços mais
básicos como minhas contas de email e do iTunes.

Comentários finais

1Password 4 para Mac é um app essencial para mim. Como falei, todas as
minhas informações sensíveis (com algumas exceções de segurança) estão
lá, seja como uma cópia segura seja como uma mera conveniência.

Porém, 1Password é um app premium, ao preço de $50. Eu comprei em uma
promoção por metade desse valor, mas pela quantidade de tempo salvo nas
senhas o preço total já valeria.

Se você está disposto a equipar o seu Mac com apps excelentes, não se
estresse: dentro do seu orçamento, separe um valor mensal para guardar e
comprar apps. Quando juntar o suficiente, compre o 1Password.

Esse conselho é ainda mais válido com o OS X Mavericks, a nova versão do
sistema operacional dos computadores Apple. Essa versão (e o iOS 7)
possui embutida no sistema o iCloud Keychain, que permite a você salvar
e sincronizar senhas, e ainda possui um gerador de senhas simples.
Também funciona com números de cartão de crédito.

Eu não testei propriamente o iCloud Keychain, então recomendo ao leitor
que faça uma pesquisa aprofundada, mas acredito que possa ser uma boa
maneira de começar a usar senhas mais seguras. Repare porém que isso não
subsitui os outros recursos, como as notas seguras e as licenças de
software.

Para usuários de outros sistemas, nos meus tempos de Windows e Linux eu
usava o LastPass, que é muito bom (e também funciona no OS X).
Novamente, ele também não tem uma funcionalidade mais completa.

O mais importate é ser um usuário mais seguro. Evite senhas óbvias,
aprenda um pouco sobre criptografia para guardar seus documentos, tenha
cuidado ao dar o número de cartão de crédito a algum site. A tecnologia
é útil e só precisa de algum cuidado.

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Notas do autor

Sobre resenhas de apps

O leitor já deve ter lido duas resenhas de apps que já fiz: sobre o
Day One, um aplicativo para se manter um diário, e o YNAB, um
gerenciador de finanças com uma metodologia excelente por trás. Eu
escrevi ambas como um teste, e estou disposto a escrever mais, mas antes
deixe-me esclarecer por que faço isso.

Eu acredito muito na utilidade da tecnologia. Acredito também na
importância de se fazer pesquisa pura, como matemática, física avançada.
Porém, produtos que estão no mercado deve ajudar as pessoas de maneira
concreta.

Não vou negar que tenho um interesse particular por software. Acho um
feito incrível da inteligência humana que um grupo de programadores crie
um conjunto de instruções e, pronto, temos algo que obedece a nossos
comandos. Eu não sou programador profissional, mas sempre trabalhei um
pouco com isso, na época de faculdade, no estágio e agora no mestrado, e
quero realmente estudar mais a fundo. Exige uma capacidade muito grande
de se criar um modelo de uma ideia e implementar.

Essa febre por aplicativos pode demandar bastante dinheiro. Muitos
programas bons são baratos, mas eu realmente tenho de me controlar para
não gastar demais. É muito fácil ouvir falar de um app muito cool e ir
correndo lá comprar. Quando você faz isso com uma certa regularidade, e
levando em conta o fato de temos de pagar em dólar na nossa economia em
queda, o extrato do cartão de crédito pode se acumular.

Assim, quando eu compro um aplicativo, eu tenho extrair o máximo de
proveito. Tenho avaliar em como ele está ajudando em alguma tarefa real.
O que ele tem que me atrai? Em como ele é útil?

Eu descobri que uma boa maneira de assegurar para mim que um app
realmente é importante é escrever uma resenha. Uma nota pessoal sobre
como estou usando o programa. E, periodicamente, vou publicar algumas
aqui.

Repito: eu escreve essas resenhas de apps para mim, como um lembrete
pessoal do dinheiro gasto, e publico por achar que pode ser útil para
alguém.

É preciso deixar claro que eu sou usuário de produtos Apple, e minhas
resenhas vão se concentrar no OS X e no iOS. Também, ao contrário do que
fiz com a resenhas anteriores, vou escrever resenhas separadas para apps
que tenhas versões nos dois sistemas – mais ainda, uma resenha de um app
para iPhone vai ser diferente da resenha de um app para iPad. Acredito
que o uso de um app difere totalmente dependendo do dispositivo sendo
usado.

O grande autor de resenhas de apps do ecossistema Apple é Federico
Viticci do MacStories. Eu leio e adoro as suas resenhas, embore ele
seja bastante detalhado e longo. David Sparks e Shawn Blanc são
também ótimos blogueiros quando o assunto é divulgar apps. Recomendo
também a rede Appstorm.

Todos esses autores, porém, escrevem em inglês, e muitas resenhas não se
concentram nos casos de uso (pelo menos é minha impressão, esses autores
escrevem bem mas geralmente focam nos detalhes). Isso é extremamente
importante para mim, leitores: eu não quero divulgar um aplicativo
porque acho que ele é legal ou porque é bonito. Eu pesquiso muito antes
de comprar um (lendo principalmente os autores acima) e penso bastante
antes de comprar. Quando o faço, e quando a compra vale a pena, penso de
que forma esse programa pode ajudar outras pessoas.

Ou seja, minhas resenhas só vão ser publicadas depois de muito tempo de
uso, e com foco na utilidade. É do ponto de vista de um usuário.

Um autor em português que segue essa linha (e que serve de inspiração
para mim) é o Augusto Campos do BR-Mac. Se você é usuário brasileiro
de OS X, deveria segui-lo.

E, claro, vou continuar com outros tipos de textos. Lembrem-se de que
este é um blog sobre tecnologia, ciência e produtividade, de maneira
geral, e não um repositório de resenhas.

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Artigos

O novo Mac Pro é uma obra-prima de engenharia mecânica

Quando interagimos com um computador, usamos softwares, alguns ótimos e
outros nem tanto que melhoram a nossa vida, ajudando-nos em tarefas
reais, ou mesmo por mero entretenimento. O hardware muitas vezes fica
completamente invisível, e nem é notado pela maioria das pessoas.
Pessoas normais estão se lixando para o novo chip do iPhone, só querem
saber quais apps vão poder instalar.

Um programa de computador, escrito por alguém, na verdade apenas passa
instruções aos componentes físicos. “Calcule essa quantidade”, “exiba
esse pixel nessa posição” etc. É preciso algo em que executar esses
programas. Repito: um app é uma interface entre nós e o hardware.

Os componentes elétricos e eletrônicos são portanto o coração de um
computador, e devemos os avanços a grandes engenheiros eletricistas e
eletrônicos. Porém, ninguém quer comprar uma placa com um monte de fios
soldados. É preciso uma estrutura física na qual as placas, discos e
chips são montados, e que tenha de preferência um aspecto agradável. É
aí que entra a engenharia mecânica.

O leitor talvez não saiba, mas eu tenho um diploma de engenharia
mecânica, embora não faça nem dois anos desde que me formei. Estou
fazendo mestrado e ainda não trabalhei em uma indústria, e portanto me
recuso a me considerar um engenheiro. Ainda assim, acho que já posso
apreciar um belo trabalho de engenharia e tentar espalhar o
reconhecimento da nossa profissão.

O novo Mac Pro é espetacular. Eu nunca vou comprá-lo, porque não é o
tipo de computador de que eu preciso. O Pro é direcionado a trabalhos
pesados computacionalmente (edição de música, vídeo e imagens, ou
cálculos bastante complexos) e tem seu nome justificado tanto nas
especificações quanto no seu preço. E é uma obra-prima de engenharia
mecânica por dois motivos principais.

Design e implementação

Você não contrataria um engenheiro civil para desenhar sua casa e nem um
arquiteto para supervisionar a construção. São duas tarefas distintas.
Um arquiteto cria espaços nos quais vivemos, estuda a melhor
configuração de salas e móveis, otimiza a iluminação e o conforto
térmico. Não é fácil.

Um engenheiro implementa o projeto de um arquiteto. OK, cada
apartamento vai ter 2 quartos, mas como sustentar o seu peso? Quão
grandes tem de ser as vigas? Naturalmente, o arquiteto tem noções disso
e um engenheiro tem noções de arquitetura, e idealmente há uma interação
entre esses tipos de profissionais, mas cada um fica responsável
primariamente pela sua área.

Em escala muito menor, é o que acontece com os produtos físicos que
compramos. A muito talentosa equipe de designers da Apple projetou o Mac
Pro, mas como fabricá-lo? Que processos usar? Como garantir a forma
cilíndrica? O material proposto pode ser trabalhado dessa maneira?

Uma das grandes áreas da engenharia mecânica é o estudo da fabricação, e
embora nunca tenha sido a minha área preferida, esse vídeo,
mostrando a criação desse computador, é simplesmente sensacional.
Recomendo a todos os engenheiros mecânicos que assistam, e aconselho às
outras pessoas que também o façam, para apreciar a importância dessa
profissão.

Repare na sequência de operações, no movimento dos braços mecânicos, na
escolha da forma de pintura. Não se trata apenas de materializar um
desenho. É preciso assegurar os detalhes: que o produto não quebre, que
o processo não produza lascas perigosas no produto final, que ele
suporte determinadas cargas, que ao aquecer o computador não vai se
expandir demais etc.

Construir o novo Mac Pro é um trabalho de engenharia.

O grande gargalo para os processadores

Você deve ter notado que o seu laptop esquenta no seu colo,
principalmente depois de usar certos programas. É simples, corrente
elétrica está passando pelos circuitos e gerando calor com isso. Remover
calor é que é o problema. Um computador superaquecido pode simplesmente
parar de funcionar e é perigoso para o usuário.

Está se tornando um consenso entre pesquisadores que o grande gargalo
para a melhoria dos processadores é a refrigeração. Temos tecnologia o
suficiente para produzir chips mais rápidos, mas ainda não temos
tecnologia o suficiente para resfriá-los.

Falando de maneira bem básica, a taxa de remoção de calor depende de
três fatores:

  • a diferença de temperatura entre o sistema que você quer resfriar e
    um segundo sistema, mais frio, para absorver esse calor
  • a área de contato entre o sistema quente e o sistema frio
  • o mecanismo de transferência entre o sistema quente e o sistema
    frio. Aqui entram muitos outros fatores, mas um exemplo prático: ar
    a alta velocidade retira calor mais depressa que ar parado, à mesma
    temperatura (por isso o seu computador tem um ventilador dentro
    dele).

As temperaturas de trabalho são fixas: você tem um computador, que não
pode ter a sua temperatura acima de um limite, e o ar, que está à
temperatura ambiente.

A área disponível em um computador é pequena, e não interessa a ninguém
ter um ventilador gigante dentro de um laptop. Esse é o gargalo.
Resfriar um sistema pequeno, sem recorrer a dispositivos exagerados
(como uma micro-geladeira dentro de um computador), é um magnífico
trabalho de engenharia mecânica.

A melhor solução possível é usar a geometria de forma inteligente. Pense
numa serpentina: ao dobrarmos um tubo, mantemos a mesma área de contato
com o ar e ainda ocupamos bem menos espaço. Pensando de maneira inversa:
num espaço fixo, podemos acomodar bem mais área.

O novo Mac Pro faz isso. A sua geometria interna, circular dividida em
segmentos e afunilando no topo, permite acomodar muitos componentes de maneira
inteligente (novamente, mantendo o máximo de contato) e faz o ar escoar
uniformemente, aumentando a troca de calor. Os engenheiros na prática
criaram um sistema de canais nos quais o ar escoa. É muito diferente de
um ventilador sobre uma placa (como no caso de desktops) e bem mais
inteligente que simplesmente acomodar os componentes na parede de um
tubo (todo o interior do tubo seria desperdiçado).

Não é trivial, não é fácil de fabricar, e provavelmente foram
necessários muitos projetos até chegar a uma versão que tenha um um
custo relativamente baixo e que retire calor suficiente.

Quando eu crescer, quero trabalhar num projeto assim.