Federico Viticci recentemente escreveu sobre sua lista de desejos para
a próxima versão do iOS, o sistema operacional do iPhone, iPod Touch
e iPad, a ser lançada provavelmente em junho. Ele não é o único,
claro. Existem muitos relatos do tipo, de gente sonhando (em vão, na
minha opinião) que a Apple voltará a ser a empresa revolucionária de
antes, lançando produtos geniais que definem o mercado. O próximo iOS
tem de ser muito melhor que o atual, e vai nos permitir muito mais
controle, e vai ter muito mais recursos, e, e, e…
Criamos tantas expectativas, queremos algo tão awesome, que depois
ficamos decepcionados que o novo iPhone (tanto o aparelho quanto seu
sistema) não lê nossos pensamentos. Eu vi isso acontecer no ano passado
e vai acontecer de novo.
O problema dessas listas de desejos é que as pessoas querem que o iPhone
(estou usando o smartphone como símbolo dos dispositivos) se transforme
em duas coisas, simultaneamente:
- Em um computador completo que cabe no bolso
- Em um Android
O iPhone não é o seu computador principal
Eu não preciso que o iPhone se transforme num substituto de um
computador, e duvido que alguém precise. Um smartphone foi projetado
para complementar um computador. Você pode fazer muitas coisas com
algo do tipo: acessar a internet, escutar músicas, processar emails,
organizar o calendário, tirar fotos, jogar games. Mas quando se parte
para uma escala maior, as restrições começam a incomodar mais que a
conveniência supostamente facilita. Eu escrevo muitas coisas no iPhone,
fragmentos de ideias que se transformam em textos maiores; mas eu jamais
escreveria minha dissertação em um celular. Eu tiro (poucas) fotos, mas
não as organizo cuidadosamente. Eu navego por sites aleatórios, mas não
faço uma pesquisa mais cuidadosa, separando e catalogando links. Um
smartphone não foi feito para isso.
E nem deveria ser feito. Quando o sistema começa a ficar muito complexo,
perde-se a conveniência. Deixamos de ter algo pensado para ser portátil
e carregamos num bolso um laptop com a tela menor. A necessidade de
reproduzir todos os features levaria a um dispositivo certamente
horrível de usar. E o iPhone ganhou fama por ser ridiculamente fácil de usar.
Outra crítica muito frequente, de que o iOS é muito fechado, é
completamente absurda. O sistema não permite que os aplicativos se
comuniquem abertamente uns com os outros, e não existe um sistema de
arquivos que seja compartilhado por todos os programas. Isso dificulta a
criação de scripts que automatizam o iOS… Mas é isso mesmo? Queremos
operar um smartphone por linha de comando?
É claro que muitos desses desejos se aplicam ao iPad, que teria muito
mais potencial para susbtituir o computador. A tela é maior, com um bom
teclado (convenhamos, o teclado do iOS é uma bosta) pode se transformar
num editor de textos, e é excelente para ler e anotar PDFs. Mas eu não
quero que ele substitua o meu computador, pelo mesmo motivo: quando isso
acontecer, ele vai ser tão complexo que vai deixar de ser bom de usar.
Eu quero poder não depender de um computador por inteiro, quero poder
usar um tablet em viagens, quero poder usar um tablet por poucos dias
quando o computador estraga, mas é tolice achar que um tablet tem toda a
versatilidade de um notebook.
O iOS não precisa ser um outro Android.
O iPhone não é o melhor smartphone, nem o mais poderoso, nem o mais
barato, nem o mais caro. É o mais conveninente. A interface é simples, a
App Store estimula o desenvolvimento de apps pagos (e os leitores já
sabem o que penso sobre isso) , sincroniza automaticamente com PC,
OS X ou pela web (via iCloud), e como todos os programas são testados e
aprovados pela Apple, o risco de vírus e outros malware é virtualmente
nulo. Sem contar que existe apenas um fabricante, o que padroniza a
solução de problemas.
Quando você paga caro por um iPhone (ou qualquer produto Apple) você
está pagando pelo preço desse controle. Está pagando por poder comprar
algo que precisa de configuração míninma. Uma das grandes qualidades dos
prodtos da marca, para mim, é esse acoplamento hardware-software. Tudo é
otimizado.
Se você quer um sistema mais aberto, com muito mais recursos, mais fácil
de ser modificado, com mais opções de fabricantes (e preços), você quer
um Android.
Eu nunca usei um Android, mas pelo que vejo os outros usarem, ele me
parece excelente. Faz tempo que a competição entre o robô do Google e o
iOS deixou de ser por features e passou a ser por tipos de usuários.
Pessoas que gostam de muitos recursos e boa flexibilidade contra pessoas
que gostam de algo mais fechado e pronto, com um mercado de apps mais
estabelecido (e que, sejamos francos, também gostam de parecer cool,
muitas vezes).
Quem não está satisfeito pode trocar a qualquer momento.
Sim, o iOS precisa de um futuro.
Ele pode ser mais avançado (não vejo nada de errado em um controle para
ligar e desligar rápido o WiFi, ouviu, Apple?), poderia ter uma maneira
de testar apps antes de comprar, poderia ter um mecanismo de busca mais
poderoso (já que nada disso atrapalha a usabilidade). Mas ele não
precisa ser mágico.
Uma resposta em “O iOS precisa de um futuro?”
[…] Atualmente, laptops já estão bem mais poderosos e ainda tem o adicional da portabilidade. E como já falei, não tente usar o seu smartphone para tudo, porque ele existe para complementar o seu computador […]