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Simplifique suas compras

Esse é mais um texto da série “Simplifique sua vida”, na qual eu narro minha jornada para eliminar o máximo possível de complicações, seguindo as ideias do Simple Living Manifesto de Leo Babauta.

Eu sei que parece ridículo um estudante que mora com os pais falar de compras e finanças, mas preste atenção.

Quer você ganhe uma bolsa de R$ 500 ou um salário de R$ 20 000, o seu dinheiro ainda assim é finito. Você pode fazer o possível para viver dentro dos R$ 500, e conseguir, ou pode gastar mais que os seus R$ 20 000 e viver cheio de dívidas. Dinheiro precisa ser administrado.

Baseado nas pessoas que conheço, um dos comportamentos humanos mais previsíveis é que as pessoas sempre querem ganhar mais. Quem está satisfeito com o que ganha? Assim, quando você vê algo que quer comprar, mas não pode, surgem problemas. Você se torna infeliz no trabalho, porque ele não está lhe permitindo comprar o que você deseja. Você se torna invejoso das pessoas que ganham mais e podem (na sua cabeça) comprar tudo o que querem. Essa angústia atrapalha a sua vida, e não lhe permite viver suas prioridades; por exemplo, se você quer passar mais tempo mais com sua família, talvez não possa trabalhar tanto, mas com isso não vai ter tanto dinheiro para comprar tudo que quer. O que é mais importante para você?

Por outro lado, se você tiver dinheiro sobrando e comprar tudo que quiser, você cria outros problemas. Você não consegue mais manter seus ambientes limpos, porque precisa de lugar para guardar suas coisas. Também precisa de tempo para cuidar da manutenção de tudo, o que tira tempo das coisas que importa.

Assim, quando queremos comprar e gastar demais, nossa vida fica complicada.

A solução de Leo Babauta para isso é escapar do materialismo:

This message to continually buy, buy, buy … and that it will somehow make us happier … is drilled into our heads from the days of Happy Meals and cartoons until the day we die. It’s inescapable.

Well, almost. You could go and live in a cabin in the woods (and that actually sounds nice), or you could still live in our modern society, but find ways to escape materialism.

Não se trata aqui se fazer pregações contra o capitalismo ou algo do tipo. Como Leo diz, a solução não é ir morar na floresta, mas saber frear o nosso desejo de consumo.

Evite propagandas

O primeiro passo para gastar menos é querer gastar menos, ou melhor ainda, não querer gastar mais.

A propaganda tem um objetivo: fazer você querer comprar. Não vamos ser ingênuos e dizer que a propaganda é “a raiz de todo o mal”, e os publicitários são criaturas malvadas que querem que você gaste todo seu dinheiro por sadismo. É apenas um trabalho: alguém fabrica um produto, quer que as pessoas conheçam esse produto, e contrata outro para fazer propaganda.

E propaganda nem sempre é ruim. Se você precisa comprar uma geladeira, e abre uma revista e vê uma propaganda de algum modelo novo de geladeira, pode ficar interessado e resolver seu problema. Ou você está procurando um presente para sua mãe e vê um anúncio de promoção da sua loja preferida de cosméticos.

O problema é você criar o desejo de comprar baseado na publicidade que vê. Um produto repentinamente vai resolver um problema que você nem sabia que tinha.

É pior ainda quando você tem fraqueza por algum tipo de item e fica constatemente em contato com propagandas. Se você tem compulsão por sapatos, não deve se arriscar olhar um catálogo de sapatos, porque você vai querer comprar todos, e não vai ter dinheiro, e vai se frustrar…

Eu me considero uma pessoa de gostos simples. Não tenho fetiche por roupas, não gosto de “baladas”, gosto do meu carro simples e econômico. Como já devo ter falado algumas vezes aqui, minha fraqueza são apps (e a tecnologia em geral). Se eu não tomar cuidado, todo dinheiro que sobra vai para comprar algum aplicativo novo que saiu, e que de repente vai me ajudar a ser megaprodutivo.

Quando você se interessa por esse mundo tech, é usual seguir minhas pessoas no Twitter e muitos blogs e podcasts que vivem falando justamente dos apps e gadgets novos que saíram e mudaram a vida de “toda a gente” (saudades de Portugal).

A minha solução então foi parar de seguir essas pessoas. Se alguma pessoa só usava o Twitter para dizer “look how cool is this app“, o que basicamente inclui todos os blogueiros do mundo Apple, ela saia da minha timeline. Se um blog ou podcast é só uma longa conversa sobre apps e mais apps, eu tiro ele da minha lista.

Eu continuo gostando do assunto, mas eu não me exponho a essa propaganda frequente. Eu continuo lendo alguns blogs e acompanho o mínimo de lançamento de apps, pesquisando com calma se algum me interessa. Não quero ninguém me obrigando a comprar nada, nem me dizendo que eu preciso de uma tela Retina.

Assim, se você acha que está gastanto demais com algum item, simplesmente se afaste. Não visite aquele site de viagens que vive fazendo propaganda de mochilas, nem leia aquele revista de moda com “dicas irresistíveis”. Sempre haverá alguém dizendo que você tem de comprar. Apenas diga não.

Mantenha uma lista de desejos

As compras por impulso são as grandes inimigas, como deve ter ficado claro. E existe uma solução que também funciona surpreendemente bem, tanto que aparece em praticamente todos os livros e blogs sobre finanças pessoais.

Basicamente, você deve manter uma lista de desejos, anotando tudo que você quer comprar.

Quando você vê algo que deseja (e claro, não é um item de necessidade primária como comida), pare e anote. Dê a si mesmo um tempo para pensar naquela compra (pelo menos um mês). Se ao final desse período você concluir que tem dinheiro para comprar, e acha que o produto vai ser bom, compre. Mas pode ser que você simplesmente desista, e perceba que foi só um pensamento passageiro. Você conseguiu vencer o impulso.

Vou dizer como eu faço. Eu uso o Evernote (recomendo visitar o site do Vladimir Campos, Embaixador de Viagens do Evernote), e mantenho um caderno com tudo que quero comprar. O principal para mim, claro, são apps. Mas também marco os livros que quero comprar, até alguma roupa, algum restaurante que quero ir. Uma vez por mês, quando dou uma organizada geral nas minhas finanças, eu olho esse lista e vejo o que está há mais de um mês lá. E compro o que quero — sem impulso.

Também recomendo definir categorias para seus gastos, de onde você tire fundos para os itens da sua lista de desejos. Se algo não cabe no seu orçamento mensal, guarde um pouco por mês. Mas não crie dívidas desnecessariamente. Já falei que gosto do YNAB para gerenciar minhas finanças.

Eu sou nerd e gosto de usar essas coisas tech ( que já admiti que são uma tentação para mim) , mas você pode começar com um caderno de papel e anotar tudo que quer comprar, e criar uma planilha bem simples para seus gastos (o Gustavo Cerbasi tem um modelo que eu gostava bastante antes de usar o YNAB — procure nessa página por “Orçamento Familiar Mensal”).

Invente programas que não envolvam dinheiro

Por fim, uma pequena dica que pode ter um impacto grande. Tente se divertir sem gastar muito. Và à praia, dê uma caminhada, faça um piquenique. Veja a programação da cidade. Muitas vezes existem eventos culturais de graça, ou uma promoção de cinema. Ou simplesmente fique em casa, veja um filme, pratique suas habilidades de cozinha.

É claro que é bom sair, ir jantar num restaurante, especialmente se você está num relacionamento. Mas valorize esses momentos, escolhendo lugares bons, e aproveitando os outros momentos. Você quer a companhia da sua namorada ou apenas impressioná-la com seu dinheiro?

Conclusões

Aí está, o que fiz para escapar um pouco do materialismo. Funciona para mim, “apenas um estudante que mora com os pais”, mas como falei, não vejo como isso não é universal. Você só não pode deixar que comprar e gastar se torne uma atividade importante demais na sua vida. Simplificar é poupar nosso tempo e nossa atenção para o que realmente importa.

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Por Fábio Fortkamp

Pai do João Pedro, Marido da Maria Elisa, Professor do Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade do Estado de Santa Catarina, católico devoto, nerd

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