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O novo Mac Pro é uma obra-prima de engenharia mecânica

Quando interagimos com um computador, usamos softwares, alguns ótimos e
outros nem tanto que melhoram a nossa vida, ajudando-nos em tarefas
reais, ou mesmo por mero entretenimento. O hardware muitas vezes fica
completamente invisível, e nem é notado pela maioria das pessoas.
Pessoas normais estão se lixando para o novo chip do iPhone, só querem
saber quais apps vão poder instalar.

Um programa de computador, escrito por alguém, na verdade apenas passa
instruções aos componentes físicos. “Calcule essa quantidade”, “exiba
esse pixel nessa posição” etc. É preciso algo em que executar esses
programas. Repito: um app é uma interface entre nós e o hardware.

Os componentes elétricos e eletrônicos são portanto o coração de um
computador, e devemos os avanços a grandes engenheiros eletricistas e
eletrônicos. Porém, ninguém quer comprar uma placa com um monte de fios
soldados. É preciso uma estrutura física na qual as placas, discos e
chips são montados, e que tenha de preferência um aspecto agradável. É
aí que entra a engenharia mecânica.

O leitor talvez não saiba, mas eu tenho um diploma de engenharia
mecânica, embora não faça nem dois anos desde que me formei. Estou
fazendo mestrado e ainda não trabalhei em uma indústria, e portanto me
recuso a me considerar um engenheiro. Ainda assim, acho que já posso
apreciar um belo trabalho de engenharia e tentar espalhar o
reconhecimento da nossa profissão.

O novo Mac Pro é espetacular. Eu nunca vou comprá-lo, porque não é o
tipo de computador de que eu preciso. O Pro é direcionado a trabalhos
pesados computacionalmente (edição de música, vídeo e imagens, ou
cálculos bastante complexos) e tem seu nome justificado tanto nas
especificações quanto no seu preço. E é uma obra-prima de engenharia
mecânica por dois motivos principais.

Design e implementação

Você não contrataria um engenheiro civil para desenhar sua casa e nem um
arquiteto para supervisionar a construção. São duas tarefas distintas.
Um arquiteto cria espaços nos quais vivemos, estuda a melhor
configuração de salas e móveis, otimiza a iluminação e o conforto
térmico. Não é fácil.

Um engenheiro implementa o projeto de um arquiteto. OK, cada
apartamento vai ter 2 quartos, mas como sustentar o seu peso? Quão
grandes tem de ser as vigas? Naturalmente, o arquiteto tem noções disso
e um engenheiro tem noções de arquitetura, e idealmente há uma interação
entre esses tipos de profissionais, mas cada um fica responsável
primariamente pela sua área.

Em escala muito menor, é o que acontece com os produtos físicos que
compramos. A muito talentosa equipe de designers da Apple projetou o Mac
Pro, mas como fabricá-lo? Que processos usar? Como garantir a forma
cilíndrica? O material proposto pode ser trabalhado dessa maneira?

Uma das grandes áreas da engenharia mecânica é o estudo da fabricação, e
embora nunca tenha sido a minha área preferida, esse vídeo,
mostrando a criação desse computador, é simplesmente sensacional.
Recomendo a todos os engenheiros mecânicos que assistam, e aconselho às
outras pessoas que também o façam, para apreciar a importância dessa
profissão.

Repare na sequência de operações, no movimento dos braços mecânicos, na
escolha da forma de pintura. Não se trata apenas de materializar um
desenho. É preciso assegurar os detalhes: que o produto não quebre, que
o processo não produza lascas perigosas no produto final, que ele
suporte determinadas cargas, que ao aquecer o computador não vai se
expandir demais etc.

Construir o novo Mac Pro é um trabalho de engenharia.

O grande gargalo para os processadores

Você deve ter notado que o seu laptop esquenta no seu colo,
principalmente depois de usar certos programas. É simples, corrente
elétrica está passando pelos circuitos e gerando calor com isso. Remover
calor é que é o problema. Um computador superaquecido pode simplesmente
parar de funcionar e é perigoso para o usuário.

Está se tornando um consenso entre pesquisadores que o grande gargalo
para a melhoria dos processadores é a refrigeração. Temos tecnologia o
suficiente para produzir chips mais rápidos, mas ainda não temos
tecnologia o suficiente para resfriá-los.

Falando de maneira bem básica, a taxa de remoção de calor depende de
três fatores:

  • a diferença de temperatura entre o sistema que você quer resfriar e
    um segundo sistema, mais frio, para absorver esse calor
  • a área de contato entre o sistema quente e o sistema frio
  • o mecanismo de transferência entre o sistema quente e o sistema
    frio. Aqui entram muitos outros fatores, mas um exemplo prático: ar
    a alta velocidade retira calor mais depressa que ar parado, à mesma
    temperatura (por isso o seu computador tem um ventilador dentro
    dele).

As temperaturas de trabalho são fixas: você tem um computador, que não
pode ter a sua temperatura acima de um limite, e o ar, que está à
temperatura ambiente.

A área disponível em um computador é pequena, e não interessa a ninguém
ter um ventilador gigante dentro de um laptop. Esse é o gargalo.
Resfriar um sistema pequeno, sem recorrer a dispositivos exagerados
(como uma micro-geladeira dentro de um computador), é um magnífico
trabalho de engenharia mecânica.

A melhor solução possível é usar a geometria de forma inteligente. Pense
numa serpentina: ao dobrarmos um tubo, mantemos a mesma área de contato
com o ar e ainda ocupamos bem menos espaço. Pensando de maneira inversa:
num espaço fixo, podemos acomodar bem mais área.

O novo Mac Pro faz isso. A sua geometria interna, circular dividida em
segmentos e afunilando no topo, permite acomodar muitos componentes de maneira
inteligente (novamente, mantendo o máximo de contato) e faz o ar escoar
uniformemente, aumentando a troca de calor. Os engenheiros na prática
criaram um sistema de canais nos quais o ar escoa. É muito diferente de
um ventilador sobre uma placa (como no caso de desktops) e bem mais
inteligente que simplesmente acomodar os componentes na parede de um
tubo (todo o interior do tubo seria desperdiçado).

Não é trivial, não é fácil de fabricar, e provavelmente foram
necessários muitos projetos até chegar a uma versão que tenha um um
custo relativamente baixo e que retire calor suficiente.

Quando eu crescer, quero trabalhar num projeto assim.

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Simplifique sua vida: consumo de informação

Esse é mais um texto da série “Simplifique sua vida”, na qual eu
narro minha jornada para eliminar o máximo possível de complicações,
seguindo as ideias do Simple Living Manifesto de Leo Babauta.

Assim como passar a manhã toda respondendo emails não é nada
produtivo, passar a noite toda na frente da TV provavelmente não é (a
não ser que você seja um fã verdadeiro).

O excesso de informação que chega até nós foi um dos principais
motivadores para essa minha jornada para simplificar. Abrimos um jornal
(ou sua página na web), e vemos centenas de notícias, notas, colunas.
Entramos no Twitter e a nossa linha do tempo está recheada de links e
comentários sobre o iPhone dourado. Abrimos nosso Facebook e alguém
ainda acha que os memes são legais. Acompanhamos alguns blogs e nosso
leitor de RSS tem 200 itens não lidos.

Não pode ser assim. Simplificar a nossa vida envolve consumir menos
informação.

O perigo de querer manter-se informado

Leo Babauta toca nesse ponto sensível e eu realmente me questionei. Eu
era daqueles que achava absurdo uma pessoa não ler jornal; como assim,
você não sabe o nome da Chanceler da Alemanha? Eu achava que saber
exatamente o que está acontecendo é a única maneira de evitar que outras
pessoas nos enganem.

Vamos combinar: o que muda na minha vida se eu não soubesse que a Angela
Merkel é a chefe de governo da Alemanha?

Nichts, como diriam os alemães.

Nós não precisamos saber de tudo. Você não precisa saber os detalhes
do último escândalo. Não precisa monitorar as contratações do seu time.
Não precisa saber todos os recursos do novo iOS ou do novo Android. Se
você quiser realmente saber de tudo, vai precisar gastar uma quantidade
absurda de tempo. É melhor então se conformar e adimitir que não é
possível ficar sempre atualizado. Eu tenho achado muito mais eficiente
dedicar um tempo para pesquisar mais sobre algum assunto, se eu quiser
saber mais.

E entro em sites de notícias uma ou duas vezes por dia, checho o Twitter
uma vez a cada três ou quatro horas, e mantenho uma lista de apenas doze
blogs que eu realmente quero acompanhar. O resto é supérfluo.

Em ação

Pense nas maneiras pelas quais informação chega até você, e reduza esse
número ao máximo. Sugestões:

  • Dedique um tempo específico para ler notícias. Leia um pouco de
    manhã e um pouco à noite, mas não tenhe ficar acompanhando os
    acontecimentos durante o dia.
  • Limpe a sua linha do tempo no Facebook e no Twitter. Siga menos
    pessoas.
  • Se você acompanha blogs por RSS, evite excessos.

E vá fazer outras coisas.

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Uma regra básica de etiqueta em anexos de email

Um dia desses, o Vladimir Campos postou uma questão interessante
no App.net: por que algumas pessoas insistem em mandar arquivos .rar em
email, muitas vezes quando ele é desnecessário — e impede a visualização
em smartphones?

Esse problema leva a uma questão ainda maior. Poucas coisas me irritam
mais que receber um arquivo de um programa que eu não tenho, e que de
repente sou obrigado a ter porque ele se tornou supostamente “um
padrão”. Então deixem-me clarificar uma coisa.

Eu uso um Mac, por opção pessoal (sim, eu sou milionário sarcasm
detected
). No meu Mac, existem os programas que eu uso: as ferramentas
de programação para meu mestrado, um editor de texto geral, o Safari, o
YNAB, o Day One. Periodicamente, eu vou deletando tudo o que não
preciso. E tenho uma política de só instalar aquilo que acho realmente
que vou usar. E é por isso eu não tenho o Office instalado no meu
computador.

Como?

Sim, eu não tenho no meu computador pessoal nem o Word, nem o Excel, nem
o Powerpoint. Sim, eles existem para Mac. Mas, antes de ter um Mac,
eles não estavam instalados no meu computador Windows. E há um tempo eu
usei Linux por mais de um ano e, claro, não usava Office.

Eu odeio o Office com todo o ódio que meu coração é capaz de conter — é
lento, a interface é um lixo, é complicado de usar, não é confiável, é
um inferno para tratar arquivos antigos. Mas isso não importa. Eu não
uso o Office principalmente porque eu não preciso dele, e tenho certeza
que muita gente odeia-o mais ainda mas usa por necessidade.

Deixem-me então propor uma regra básica de etiqueta de anexos de email:
não mande arquivos por email se você não tem a absoluta certeza de que a
outra pessoa vai conseguir abri-lo.

Para os leigos, existem formatos de arquivos que são proprietários e que
são abertos. Por exemplo, arquivos de texto puro, geralmente com
extensão .txt (ou formatos de programação: .c, .cc, .m, .f, .html),
podem ser abertos por milhares de programa. Fotos em formatos JPG e PNG
e documentos PDF podem ser visualizados e editados em muitas opções. O
código por trás desses formatos, as instruções para seu computador
transformar 0s e 1s em fotos e documentos (por exemplo), está disponível
para todos, e assim os programadores podem criar programas que os
interpretem. Isso gera um corolário interessante: como os programas não
podem se diferenciar no formato final, eles competem pela qualidade das
ferramentas. Um arquivo .pdf é universal, mas determinado programa pode
ser mais rápido na hora de abri-lo, outro pode focar no reconhecimento
de caracteres, outro na edição. Mas repito: um arquivo editado por um
programa pode ser aberto e reeditado com muita facilidade por outro, já
que o tipo de arquivo é independente do aplicativo.

Formatos proprietários não têm a sua especificação aberta. Outros
programas até conseguem abrir, mas o resultado final é ruim porque
alguém teve de fazer uma espécie de “engenharia reversa” para descobrir
como os arquivos são codificados. Um arquivo DOCX foi feito
especialmente para ser aberto com o Word. A consequência é obvia: não
existe exatamente pressão para a Microsoft melhorar o programa; qual a
opção? Será que as pessoas estão dispostas a migrar todos os seus
documentos antigos?

Se algum dia eu for trabalhar num ambiente que exija usar o Office, eu o
farei sem problemas. Mas eu jamais enviarei um arquivo do Office para
alguém de fora da empresa a não ser que seja previamente combinado.

Ah, uma palavra sobre compactação: como o Vladimir falou, com as
velocidades de internet disponíveis, geralmente ela não é necessária.
Além de gerar suspeitas sobre o conteúdo, ainda exige um programa
adicional só para visualizar. Formatos mais “populares” como o .zip
ainda são extraídos automaticamente e tratados nativamente pela maioria
dos sistemas, então devem ser priorizados. Se você usa o Dropbox, ainda
é possível mandar um link para a pessoa baixar – o que não ocupa nem
espaço no email.

O tempo passa e as tecnologias avançam — vamos usar isso a nosso favor.

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Simplifique sua vida: comunicação

Esse é mais um texto da série “Simplifique sua vida”, na qual eu
narro minha jornada para eliminar o máximo possível de complicações,
seguindo as ideias do Simple Living Manifesto de Leo Babauta.

O primeiro item prático do manifesto (e note
que não estamos seguindo aqui item por item, estou apenas explorando
alguns) é simplificar a nossa forma de comunicação.

Você, quando definiu a sua lista de prioridades, provavelmente incluiu
as pessoas da sua vida, seu trabalho e seu hobby. Muito provavelmente
lidar com email não está nessa lista, e portanto é supérfluo.

Comunicar-se é necessário, e é importante ter um sistema funcional que
permita a você conversar com as pessoas. O que não é necessário é ter 3
contas de email para conferir e ter 10 conversas abertas no
Skype/Facebook/Gmail/MSN (a não ser, naturalmente, que seu trabalho
exija isso). O tempo que você gasta acompanhando todos os seus canais de
comunicação é tempo que você não dedica a coisas importantes.

Você deve também evitar as complicações de ter de pensar qual meio
utilizar. Se quero falar com alguém, devo mandar um email, ou ligar, ou
mandar um SMS, ou mandar uma mensagem no Facebook? Um exemplo prático:
por mais que eu goste do WhatsApp, estou encontrando cada vez menos
utilidade para ele. O grupo de pessoas em volta de mim não tem WhatsApp
em sua totalidade, o que o torna inútil para conversas de grupo.
Recentemente, quis organizar um churrasco com meus amigos, e comentei no
WhatsApp. A maioria topou. Quando fui mandar um email, um número maior
de pessoas, que não têm WhatsApp, respondeu que naquele dia específico
não poderia. Quanta dor de cabeça! O app é ótimo para conversas
individuais simples, mas ele não é essencial para mim. Estou mantendo
mas usando cada vez menos.

Cada tipo de conversa deve ter seu canal. Eu telefono o mínimo possível
(mais para marcar compromissos ou para coisas urgentes), uso o email
para mensagens longas e/ou importantes, SMS e Whatsapp para mensagens
curtas individuais, e só. Por enquanto, tem dado certo.

Em ação

Faça uma lista das formas com que você se comunica e avalie se aquela é
a melhor forma; você não pode correr o risco de ficar sem saber de algo
importante porque ficou uma semana sem entrar no Facebook. Escolha
alguns meios e utilize-os de forma eficiente. E não deixe o email aberto
o dia todo.

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Palavra-chave: ciência

Um dos podcasts que acompanho é o Palavra Chave Podcast, do psicólogo
Fellipe Salgado, que oferece análises do cotidiano sob um ponto de
vista psicológico. Os assuntos são sempre relevantes e interessantes,
Fellipe demonstra saber o que fala e se esforça em fazer muita pesquisa,
e o podcast tem uma duração que acho ideal: cerca de 20 minutos, mais ou
menos o tempo de translado entre minha casa e a universidade. Perfeito.
Fica a dica.

O último episódio fala de ciência, inspirado na notícia de que o bóson
de Higgs, ou a partícula de Deus, rendeu o prêmio Nobel de Física aos
seus teóricos
. A partir daí, Fellipe traz algumas questões sobre o
“fazer ciência” e sobre o que a tal “verdade científica” significa.

Na qualidade de engenheiro, ou seja, “um cara das exatas” como gostam de
me chamar, gostaria de oferecer meu ponto de vista em dois pontos
principais. Repare que isso é minha opinião e não representa de maneira
alguma uma crítica ao Fellipe. Ele também é estudante de mestrado e sabe
que discordar faz parte.

Não existe Eureka

Fellipe pondera como o psicólogo de Peter Higgs (que deu nome ao bóson)
reagiria se seu paciente agora famoso chegasse e tivesse dito ter
descoberto uma partícula de Deus. Será que não seria um caso de delírio
de grandeza?

Não pesquisei a fundo em entrevistas com Higgs, mas se tem algo em que
acredito, baseado nessa minha minúscula experiência na carreira
científica, é que não existem momentos de Eureka. Higgs, muito
provavelmente, não largou o lápis e pensou “Senhor, descobri a Sua
partícula”. Vamos pensar num cenário mais iterativo. Higgs estava
resolvendo um problema teórico e fez uma hipótese simplificativa:
“suponha que exista uma partícula com uma propriedade tal”. Para sua
surpresa, essa partícula teórica resolvia o problema. Algum tempo
depois, ele deve ter tido a ideia de usar essa mesma partícula em
problema semelhante, e viu que também funcionava. Higgs foi então
refinando o modelo e viu que ele explicava muita coisa.

Pode ser que eu esteja enganado, mas vamos combinar que esse cenário é
muito mais plausível. Fazer ciência é um processo criativo, e
criatividade é iterativa por natureza. Você começa com um rascunho e
vai refinando.

O que é uma lei científica?

O outro comentário que me fez refletir é sobre a questão de ciências
“objetivas” e “subjetivas”. Por exemplo, a Física é tida como uma
ciência objetiva: a Lei da Gravidade é verdadeira e ponto. Por sua vez,
a psicologia é bastante subjetiva. A analogia usada é entre “átomos”,
que podem ser visualizados, e a “memória”, que é difícil de definir.

O próprio Fellipe depois questiona isso, dizendo que a física pode ser
subjetiva e a psicologia, objetiva. Mas deixe-me reforçar esse ponto.

A “Lei da Gravidade” não é verdadeira, porque não existe uma lei da
gravidade. O que é existe é o fato de que, empiricamente, quando você
solta um objeto ele tende a cair. Entretanto, e aí é que está, nada
garante que amanhã não seja descoberto um material que não caia. As
“leis” da Física, como a Segunda Lei de Newton, ou as Leis da
Termodinâmicas, não são provadas, como é, por exemplo, o Teorema de
Pitágoras. Nós temos confiança nelas com base na estatística, na
ausência de contra-exemplos.

Basta você ver que a “Lei da Gravidade” já mudou de forma. Newton disse
que era uma força e Einstein disse que é uma deformação do espaço.
Atualmente, trabalha-se com a hipótese de que é um campo gerado por uma
partícula ainda a ser descoberta, o gráviton.

Reconhecer as limitações da ciência não é criticá-la, mas admitir que
ainda temos muito a aprender. A natureza é muito mais complexa do que a
mente humana é capaz de entender. É nosso papel, como cientistas, de
criar abstrações que expliquem os fenômenos, chegando numa solução
plausível — e essas abstrações geram resultados fabulosos.

Como engenheiro, estudando mais a fundo a área de Termodinâmica de
Misturas e de Refrigeração, eu me questiono o tempo todo. Essa equação
de estado é válida? Essa hipótese de sistema adiabático é realista? Só
assim é possível aprender alguma coisa.

A palavra-chave é ciência. Federico Viticci do MacStories escreveu:
ciência é aquilo que injeta fótons no seu corpo para matar o câncer.
Como não se maravilhar com isso?

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Simplifique sua vida: monitore seu tempo

Esse é mais um texto da série “Simplifique sua vida”, na qual eu
narro minha jornada para eliminar o máximo possível de complicações,
seguindo as ideias do Simple Living Manifesto de Leo Babauta.

Uma vez que você já definiu suas prioridades e seus
compromissos, é hora de comparar a sua realidade aos seus objetivos.

Nosso cotidiano é uma infinidade de tempo perdido: trânsito, filas,
consultórios. Além disso, perdemos muito tempo fazendo coisas de que não
gostamos de forma ineficiente. Se você (como eu) odeia falar ao
telefone, vai naturalmente procrastinar na hora de fazer uma ligação:
vai misteriosamente demorar na hora de encontrar o número, vai
desistir no segundo toque alegando que ninguém atendeu…

Todos queremos gastar o mínimo de tempo possível fazendo coisas chatas e
o máximo fazendo aquilo que nos agrada. Para sobrar tempo para o que nos
interessa, é preciso então cortar o tempo que gastamos fazendo o que não
nos interessa. Mas por onde começar?

Nós na engenharia temos o hábito muito chato de querer medir, ou pelo
menos estimar, as coisas. É esse hábito que nos permite fazer nosso
trabalho. Como alguém pode projetar uma ponte sem saber qual o peso que
ela deve suportar? Como alguém pode criar algum meio de aumentar a
eficiência de um sistema sem saber a eficiência atual? Como alguém pode
projetar um sistema de refrigeração sem saber em qual temperatura o
sistema vai trabalhar? É preciso ter valores para algumas grandezas e
tomar decisões com base neles.

Portanto, se você quer eliminar o supérfluo, as atividades que estão
complicando sua vida, é preciso primeiro avaliar como você gasta seu
tempo e identificar os pontos problemáticos. Você talvez ache que gasta
tempo demais no trânsito, e então usa um caminho alternativo. Mesmo
assim você continua chegando atrasado. Então você mantém um registro dos
seus dias e descobre que demora duas horas para sair de casa de manhã. O
gargalo não é o deslocamento, mas o tempo que você demora no banho.

Em ação

Por um a três dias, mantenha uma folha de papel por perto (ou algum
aplicativo) e relate suas atividades: acordar, tomar café, tomar banho,
sair de casa, chegar no trabalho, responder emails, fazer o seu
trabalho, chegar em casa, fazer faxina, lavar a louça, assistir TV,
dormir.

Identifique as atividades nas quais você demora mais e veja se essa
situação está de acordo com os seus objetivos.

Preparação

Essas primeiras três etapas (identificar prioridades,
assumir compromissos e monitorar seu tempo) são as
etapas de preparação para nossa jornada rumo à simplificação. Agora você
já conhece as suas prioridades e como sua vida está em relação a elas.
Já sabe o que quer manter e o que quer simplificar. É hora de partir
para a ação.

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FaceTime e o que realmente importa

Recentemente minha irmã fez aniversário. Normalmente, eu daria um beijo
nela pela manhã e jantaria com ela e nossos pais pela noite. Acontece
que esse ano não é normal, e ela está estudando na França, e eu não
posso fazer o que normalmente faria.

Eu tentei usar o Skype, mas não deu certo. Então resolvi testar esse
app, FaceTime, para fazer chamadas de áudio e vídeo pela internet. E o
detalhe: é um app nativo da Apple, e tem também para OS X, o sistema
operacional da Apple e que eu uso.

Então foi assim: eu, sentado na minha mesa, confortavelmente, usando um
app que veio com o meu computador, e ela, pegando um trem para ir para a
aula, com o iPhone dela, com 3G padrão europeu. Não foi preciso instalar
nada, nem configurar, nem adicionar nenhum contato. Eu já tinha o número
dela no meu iPhone, os contatos são sincronizados pelo iCloud com meu
computador, e só precisei buscar pelo nome dela. E nós conversamos (com
vídeo) enquanto ela tomava o trem. E eu pude dar os parabéns a ela.

Vejam, quando falo de tecnologia neste blog, é sobre isso que quero
falar. Quando as pessoas me vêem com um MacBook, um iPhone e um iPad,
fazem piadas, me chamam de Apple-boy ou Mac-fag, dizem que eu sou
riquinho filhinho de papai (porque claro, no Brasil chamar alguém de
rico é ofensa). Eu não sei exatamente o que essas pessoas tem a ver com
isso, mas foi esse conjunto de ferramentas que eu pude dar parabéns à
minha irmã, no aniversário dela, não gastando nada a não ser um pouco
dos dados de pacote de 3G dela. Usar produtos Apple tem seu preço, mas
tem suas vantagens. A integração entre os produtos é fantástica. Ao
contrário do que a maioria das pessoas pensam, eu não uso a tríade
iPhone-iPad-Mac para parecer cool. Eu tento ser produtivo ao máximo
com esses gadgets.

Poderia ser feito de outra forma? Claro que sim. Se eu tivesse um
computador rodando Linux (como eu já tive durante muito tempo) e minha
irmã tivesse um Android, ou poderia no mínimo comprar créditos em VoIP
(mais baratos que telefone normal) e telefonar para ela. Ou por Skype,
ou por Google Hangout, o que seja. Não estou dizendo para você comprar
um iPhone. Estou dizendo que para você abraçar a tecnologia como
resolvedora de problemas.

A cor do meu telefone? É um detalhe. As animações do OS X? Detalhes. Os
ícones 2D do iOS 7? Detalhes. Eu poder conversar por vídeo com minha
irmã no aniversário dela usando apps já instalados? O que realmente
importa.

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Simplifique sua vida: compromissos

Esse é mais um texto da série “Simplifique sua vida”, na qual eu
narro minha jornada para eliminar o máximo possível de complicações,
seguindo as ideias do Simple Living Manifesto de Leo Babauta.

Uma vez que você definiu as suas prioridades, é hora de identificar
seus compromissos.

Continuando no exemplo do texto anterior, você decidiu
que fotografia é uma prioridade. O que você precisa fazer, então, para
manter esse hobby? Precisa conservar suas lentes, aprender a usar um
programa de edição, manter a sua coleção organizada…

Pode parecer estranho ter compromissos em algo que deveria ser
simplesmente prazeroso. É uma questão de organização: você sabe que
gosta de sair e tirar fotos, mas para isso é preciso ter as suas lentes
em ordem quando precisar delas. Para aproveitar as partes boas, você
precisa cuidar de alguns detalhes pequenos.

Esse exercício é ótimo para identificar perdas de tempo, principalmente
no seu trabalho. Você sabe que tem o compromisso de escrever relatórios
periódicos, e eles contêm diagramas e gráficos, mas eles não são
responsabilidade sua. Você apenas tem de escrever o relatório (de forma
decente). Então, você conversa com algum desenhista ou projetista da sua
empresa, que esteja na mesma equipe que você, e delega essa tarefa para
ele. O tempo que você gastaria fazendo todos aqueles desenhos, coisa que
você odeia, é gasto buscando mais informações sobre o tema do seu
documento, por exemplo. Mas isso só pôde acontecer quando você
percebeu que tem o compromisso de escrever e não o de desenhar. O seu
chefe não se importa que outra pessoa, mais capacitada, faça esses
desenhos, mas quer que você escreva o documento para poder explicar para
ele depois.

Também funciona para tarefas domésticas. Talvez você more com alguém que
goste de tarefas mais administrativas, como fazer compras, pagar as
contas etc. Você odeia ir ao supermercado, mas não se importa em ligar
uma música e fazer uma faxina geral. Então, vocês conversam, e você
assume o compromisso de manter a casa limpa enquanto seu colega cuida
das compras e das contas. Ir ao banco era algo supérfluo para você, e
você pode usar esse tempo para outras coisas.

Novamente, você só pôde fazer isso porque parou e pensou.

Em ação

Para todas as atividades correntes na sua vida, faça uma lista dos seus
compromissos. Se sua família é uma proridade, o que você precisa fazer
para melhorar sua relação com ela?

É importante que você reconheça que você deve dar atenção às suas
prioridades, mas não deve se esquecer das outras coisas. No meu caso,
por exemplo, eu não vivo obcecado com dinheiro, mas sei que é preciso
dar atenção: fazer um orçamento mensal, anotar meus gastos, cuidar de
poupança e investimentos etc. O objetivo, naturalmente, é gastar o
mínimo de tempo nisso.

E, não custa lembrar, comprometa-se com o mínimo de coisas. Isso é uma
jornada para simplificação..

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Simplifique sua vida: prioridades

Esse é mais um texto da série “Simplifique sua vida”, na qual eu
narro minha jornada para eliminar o máximo possível de complicações,
seguindo as ideias do Simple Living Manifesto de Leo Babauta
.

No primeiro texto da série, eu escrevi que, apesar de ter poucos
compromissos e responsabilidade, eu sinto como a minha vida fosse muito
complicada, o que é um reflexo da maneira errada como conduzimos nossa
vida. Ao menor descuido nosso, o excesso de coisas materiais, tarefas e
informação nos dominam.

Simplificar é eliminar o excesso. É simples: temos uma quantidade finita
de horas por dia e anos de vida. Moramos em casas e apartamentos
finitos. Ganhamos um salário finito (embora alguns jurem que seu salário
seja infinitesimal. Piada de engenheiro). Não podemos ter tudo nem fazer
tudo. Temos que ter prioridades, e esse é o primeiro item do
manifesto.

Certo, você quer eliminar excessos. Quer ter mais tempo para fazer o que
gosta. Então, precisa identificar o supérfluo.

Eu sei que essa etapa parece aquilo que acontece quando você começa a
estudar algum idioma. Você quer logo aprender o equivalente do verbo to
be
e o professor insiste em lhe perguntar por que você quer estudar
aquilo. Como se você já soubesse!

Acredite em mim, sempre achei isso chato, mas nesse caso é necessário.
Vamos começar com um exemplo prático hipotético.

Suponha que você tenha alguns hobbies, digamos fotografia, música, e
corridas. Você se sente estressado porque não consegue dividir o tempo
entre seu trabalho, seus relacionamentos e essas atividades. Aí você
senta, pensa na vida, e descobre que seus relacionamentos são
importantes porque vocês fica rodeado de pessoas boas e que lhe amam.
Seu trabalho é importante, e quanto mais você se dedicar a produzir algo
de qualidade (o que não significa trabalhar mais horas), mais você será
valorizado financeiramente. As corridas que você faz são importantes
porque é o seu momento de desestresse, de superação, e está fazendo
muito bem para sua saúde. A fotografia é importante porque sempre lhe
dizem que você tem um olhar bom, tira retratos excelentes, e você
percebe que adora ler revistas, blogs e livros especializados. E a
música é importante porque… porque… E aí você percebe que ganhou uma
guitarra quando adolescente, você nunca conseguiu avançar nos estudos,
mas como ela está ali, no seu quarto, olhando para você, você se sente
mal por nunca tocar. De repente, você percebe que a música foi um hobby,
mas já passou. Você não arranja tempo para treinar porque você sente que
não vai adiantar, e percebe que quer voltar a tocar mais por obrigação
que por vontade, e que é melhor se dedicar a outras coisas.

Quando você admite para si que não se importa em largar a música, você
se sente libertado. Em vez de ficar com o pensamento de que precisa
treinar, você senta e lê aquele livro novo de fotografia que você
comprou. Em vez de sair e comprar cordas novas, já que você acha que tem
a obrigação, você sai para correr. Sem culpa.

Não quero discutir a minha lista de prioridades por achar que isso é
algo bem pessoal, mas posso dizer que essa parte da música é verdade
para mim. Sem pensar explicitamente nisso, eu percebi que, por mais que
tocar violão seja legal, não é uma prioridade para mim. Eu prefiro sair
com minha namorada, ou com meus amigos, ou ir em uma festa de família
que ficar treinando. Prefiro escrever que ficar aprendendo uma nova
música.

Também percebi, por exemplo, que ler livros é uma absoluta prioridade
para mim, enquanto que ficar vendo TV indefinidamente não é. E isso está
me ajudando a romper o hábito de ligar a televisão à noite,
substituindo-o por um livro (especialmente ficção, que anda meio
negligenciada por mim).

Em ação

Aqui está o que você precisa fazer: sente-se com um caderno ou com algum
app no seu dispositivo de escolha (eu usei o Day One, já que ele é
meu repositório de textos pessoais como esse), e faça uma lista das 5
coisas mais importantes na sua vida.

Não tente mentir para si mesmo. Identifique o que lhe faz feliz ou
acrescenta algo.

Importante: isso não é uma lista de sonhos. O seu trabalho, mesmo que
não seja a maior fonte de felicidade, provavelmente é importante, já que
ele lhe permite fazer tudo o mais. Aliás, se ao fazer esse exercício
você descobrir que não consegue listar aquela atividade na qual você a
passa a maior parte do seu dia entre as cinco coisas mais importantes,
talvez seja hora de procurar alternativas.

Se você eliminar o supérfluo, o que fica?

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Afinal, mestrado é trabalho ou estudo?

Boa pergunta, pequeno padawan.

É trabalho?

Vamos começar com a visão mais controversa e a que os estudantes de
mestrado mais adoram, a de que “fazer mestrado” é trabalhar. Quando
estamos saindo de casa para ir à universidade, dizemos “estou indo
trabalhar”, por exemplo. E assumimos nosso pior humor quando alguém diz
o clássico “cansado de quê, se você não trabalha?”.

Não é de todo absurdo considerar o mestrado uma forma de emprego.
Algumas das minhas atividades do mestrado são:

  • Contactar fornecedores, pedindo orçamentos de equipamentos
  • Escrever relatórios
  • Desenvolver programas de computador
  • Prestar contas a órgãos competentes
  • Projetar bancadas
  • Monitorar testes

Se alguém viesse me dizer suas responsabilidades num emprego tal
seriam essas, eu acharia bem normal.

Mas se é trabalho, então:

  • Por que não temos direiros trabalhistas básicos como férias e décimo
    terceiro?
  • Por que, se no contrato de bolsa não é estipulado nenhum horário,
    não podemos ter remuneração extra (ninguém pode, por exemplo,
    receber a bolsa para “trabalhar” no mestrado durante o dia e ter um
    emprego não relacionado à área de formação à noite – se tem salário,
    não pode receber bolsa)
  • Por que não existe qualquer resquício de gerência de recursos
    humanos nos grupos de pesquisa?
  • Por que alguns colegas se recusam a trabalhar e nada pode ser feito
    a respeito disso?
  • Por que os órgãos de fomento deixam claro que estão fazendo um favor
    em pagar a bolsa?

Ah, então é estudo!

Eu particularmente concordo com essa linha de pensamento. Para todos os
efeitos legais, eu estou desempregado. Tenho um diploma de engenheiro,
quero ter um outro diploma, então eu me dedico a desenvolver um projeto
de esquisa; o governo e as fundações, em troca, pagam-me uma bolsa
justamente para que eu não precise de um emprego. Somos completamente
isentos de imposto de renda e, em contrapartida, completamente isentos
de direitos.

Ah, também pagamos meia-entrada no cinema e no ônibus.

Mas, se fazer mestrado é estudar, então:

  • Por que a maioria dos programas de educação do governo só contemplam
    alunos de graduação? Pós-graduação não é educação?
  • Por que de vez em quando recebo emails dizendo “os alunos são
    obrigados…” – o que é isso, é uma empresa?
  • Por que tem gente que fica fiscalizando meus horários? Eu tenho
    prazos definidos pelo meu orientador, e tenho que cumprir as tarefas
    entre eles, mas a maneira como eu distribuo meu tempo não é da conta
    de ninguém. Se eu quiser voltar para casa um dia no meio da tarde,
    eu deveria ter total liberdade, desde que eu entregue os resultados
    no tempo certo. Se eu quiser tirar um dia para ir à praia, eu
    deveria ter total liberdade, desde que eu entregue os resultados no
    tempo certo.

Ninguém sabe o que é

Fazer mestrado tem as suas facilidades e os seus problemas, e não quero
fazer desse texto um desabado. Quero apenas chamar a atenção para essa
indefinição que angustia a minha cabeça e, acho, a de muitos colegas.
Percebi que pós-graduação é um tema olhado com muita desconfiança no
Brasil.

Não se trata de dinheiro, já que uma bolsa de mestrado é maior que o
salário de muitos amigos meus. Não se trata de respeito, já que
felizmente estou rodeado de pessoas que me apoiam. É uma questão de
escolha. Quando saem da faculdade, uns vão estudar para concursos,
outros vão procurar emprego, outros vão viajar e pensar na vida, e
outros vão continuar estudando. Vamos parar com essa diferenciação?