Há mais de dois anos (!), eu publiquei uma resenha de um livro que me marcou profundamente, Como Ler Livros de Adler e van Doren. Ler é uma parte tão fundamental da minha vida que venho criando o hábito de regularmente revisitar essa obra-prima e repensar a maneira como leio, sempre com o objetivo de ser um leitor melhor, e não de apenas ler mais.
Esse é o primeiro de uma série de textos com as minhas interpretações desse livro e de como tenho aplicado suas ideias.
Você tem um livro na sua frente. E agora?
O ponto principal que Adler e van Doren enfatizam é que ler ativamente, ler com qualidade, é ler fazendo perguntas e procurando respostas. Em outras palavras, você precisa ler com algum objetivo em mente. Numa das minhas passagens preferidas (numa tradução muito livre minha do original em inglês
, uma edição da Simon & Schuster de 1972):
Com nada mais que o poder da sua própria mente, você opera nos símbolos à sua frente de tal maneira que você gradualmente se eleva de um estado de compreender menos para um estado de compreender mais. Tal elevação, realizada pela mente trabalhando sobre um livro, é leitura de alta habilidade, o tipo de leitura que um livro que desafia a sua compreensão merece.
Essa “elevação de estado” é a chave para uma boa leitura, e possui dois pressupostos não muito óbvios. Primeiramente, o livro — ou melhor, o autor — precisa entender mais do assunto que você. Ler um livro de alguém que sabe menos que você é perda de tempo. Em segundo, é possível ler por puro entretenimento, mas não existem regras para esse tipo de leitura.
Por exemplo, recentemente li um bom livro de gerenciamente de tempo chamado Eat that frog!, de Brian Tracy (Berrett-Koehler Publishers, 2007). O meu objetivo era claro: eu estava me atrapalhando com as minhas atividades, esse livro era recomendado por muitas pessoas que eu admiro na internet e eu desejava aprender mais sobre o assunto. Hoje, não vou dizer que o livro “mudou minha vida” ou algo do tipo, mas reforçou algumas ideas sobre focar nas atividades mais importantes e eliminar ineficiências de tempo.
Em outro exemplo, estou com um projeto de ler e reler alguns livros de finanças, como um dos meus preferidos, A Árvore do Dinheiro, do Prof. Jurandir Sell Macedo Jr. Meu objetivo é bem claro: embora eu acredite que já tenha aprendido a importância do planejamento diário, do orçamento, e dos investimentos a longo prazo, tenho esquecido de levar em conta os objetivos de médio prazo, como uma viagem daqui a quatro anos ou trocar de computador daqui a três. Preciso ser mais inteligente em como fazer esse tipo de planejamento.
Isso não vale apenas para livros práticos, lógico. Quando estava lendo Rápido e Devagar
, o tempo todo eu estava tentando pensar em situações nas quais aquelas ideias podiam ser aplicadas. À medida que eu lia, eu queria me focar em entender algumas pessoas e porque elas agiam assim. Isso me permitiu me concentrar nas passagens certas e absorver melhor os conceitos.
Ou, para fechar os exemplos, nesse momento estou completamente mergulhado
em A Eternidade por um Fio, de Ken Follet. Embora eu saiba que é uma obra de ficção com muita licenças poéticas, eu quero entender como as pessoas viviam na Guerra Fria (e, como um bônus, o livro tem me feito pensar muito em como os preconceitos não mudam com o tempo).
Enfim, você quer aprender ou entender melhor alguma coisa, e tem um objetivo claro. Seleciona um livro que pode ajudar. É agora que o trabalho começa.
Venho buscando uma atividade intelectual para fazer à noite e forçar minha mente a descansar dos estudos de termodinâmica e magnetismo. Como maneira de ilustrar a aplicação da técnica de Como Ler Livros (a que eu muitas vezes me refiro pela abreviação em inglês HTRAB), e de eu mesmo revisá-la, durante as próximas semanas vou dedicar esse tempo livre a ler o já citado A Árvore do Dinheiro (especificamente, uma edição da Elsevier de 2010) e postar aqui uma “resenha” em partes, ao mesmo tempo em que mostro como eu abordo a leitura de um livro de maneira atenta. Para a minha pergunta de “como investir para objetivos de médio prazo?”, vou ler um livro do professor que criou o primeiro curso universitário brasileiro de Finanças Pessoais (e que portanto entende mais do que eu) em busca de respostas. Fiquem atentos.
3 respostas em “Objetivos quando se lê um livro”
[…] Como Ler Livros, vou agora demonstrar como eu faço a leitura inspecional do livro. Como dito no último post (de leitura obrigatória para este), estou usando como exemplo A Árvore do Dinheiro (Elsevier, […]
[…] Outro exemplo, para finalizar: a tributação e a maneira como os mercados oscilam favorecem muito o investimento em longo prazo. Investidores “amadores” não têm tempo para tentar adivinhar qual empresa está melhor em cada dia, e parte do lucro que supostamente pode ser obtido com um jogo de trading vai ser comido por impostos e pelas taxas das corretoras. Além disso, pesquisas em Economia mostram que os preços das coisas semprem tendem ao seu valor eficiente; você até pode encontrar uma ação que está muito barata, mas as milhões de outras pessoas logo vão perceber e corrigir isso (comprando ações), e você não vai conseguir correr atrás de todas as ações muito baratas. Logo, a melhor estratégia (de acordo com essas pesquisas e com a experiência do autor) para construir a árvore do dinheiro é ser passivo: pague-se primeiro (como já falado) e investa essa poupança em títulos de tesouro e um ações de empresas de setores diferentes (indústiras, alimentos, serviços financeiros, mercado de roupas…), de maneira que uma crise em um setor seja “amortecido” pelos outros; o crescimento natural da economia vai se encarregar de valorizar o seu patrimônio. Á medida que você for envelhecendo, vá direcionando mais e mais para o tesouro, que tem rendimento menor porém garantido. Entretanto, você também vai ter objetivos de curto e médio prazo, como uma viagem ou trocar de carro; para esses casos, a renda variável é muito arriscada, mas a caderneta de poupança (que sempre perde para a inflação em prazos muito longos) e alguns tipos de títulos do tesouro funcionam bem. Trace seus objetivos e trace planos para cada um, de acordo com o horizonte de tempo disponível (lembram que esse era um dos meus principais problemas?). […]
[…] texto da Thais Godinho, e logo ele me chamou a atenção. Nos últimos meses, quando resolvi fazer uma grande revisão do assunto de finanças para atualizar minhas práticas — que continuavam as mesmas desde a primeira vez que li A […]