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A importância de se trabalhar com timers

Quando estou trabalhando, o aplicativo mais importante do meu smartphone é este:

Aplicativo padrão de timer no Android

Quem costuma trabalhar no mesmo ambiente que eu certamente deve achar que eu sou meio louco. Devem pensar “por que diabos o celular dele fica apitando várias vezes ao dia? E o que é pior, ele desliga o apito e parece não fazer nada de importante, como lembrar de ligar para alguém ou tomar um remédio; muitas vezes ele continua trabalhando!”.

O “apito” do smartphone é o sinal do timer1 terminado. É o sinal de que a minha sessão de trabalho terminou, e que preciso então começar a fechar essa tarefa em questão. Se estou trabalhando em um paper, quando o alarme toca é o meu sinal para fazer uma rápida última revisão, anotar no card no Trello correspondente a esse artigo o ponto onde parei e quais os próximos passos, e marcar no Todoist a tarefa como concluída. É também um lembrete para levantar, alongar, beber uma água.

É por isso que sempre quando começo uma sessão de trabalho — em português vulgar, quando sento para trabalhar em alguma coisa — eu vejo o tempo que tenho disponível e coloco um timer apropriado. Trabalhar sem o relógio avançando é um convite para distrações, porque o seu cérebro entende que tem todo o tempo do mundo, e portanto antes de começar a montar aquela apresentação você pode gastar uma hora pesquisando o template PowerPoint mais bonito. Quando há um limite para o tempo que você se permite dedicar a alguma coisa, você aprende a respeitar melhor os seus minutos e foca no essencial.

Em outro post, descrevi que uso a tela Hoje do Todoist como uma lista de coisas a fazer. Nesse contexto, o uso de um timer é essencial para eliminar a angústia quanto à falta de tempo para fazer tudo que aparece numa lista como essa. Você seleciona a primeira tarefa da lista e trabalha por, digamos, duas horas; então para, descansa um pouco e começa a trabalhar na segunda, e assim por diante. Você tem o controle de quanto tempo cada tarefa vai durar. Para máxima eficácia, é bom trabalhar com rotinas, conforme descrevi no último texto; se não deu tempo de terminar o que você queria fazer no tempo estipulado, você se dá por satisfeito porque sabe que no dia seguinte vai poder continuar. Para um aprofundamento fantástico sobre o uso de um alarme e de rotinas recomendo fortemente o curso Zen & The Art of Work, de Kourosh Dini.

Se o nobre leitor se acha muito desorganizado e tem dificuldades de concentração, acho que a melhor maneira de começar a trabalhar com timers é a técnica Pomodoro, sobre o qual se encontra farto material online (a começar pelo site oficial do método). Nessa técnica, você sempre trabalha em blocos de 25 minutos de trabalho com 5 minutos de descanso, o que acho um bom arranjo para os iniciantes. Quando você se torna mais avançado e percebe que conseguiria se manter focado e trabalhando profundamente por mais tempo que os 25 minutos, pode ser mais flexível e adotar tempos diferentes para situações diferentes (outra obra de Kourosh Dini, Workflow Mastery, foi muito influente para mim nesse conceito). Se você tem uma reunião em 40 minutos, precisa colocar um lembrete para daqui a alguns minutos, enquanto que se tem a manhã toda pode dedicar um tempo maior.

Pessoalmente, dentro do que os compromissos me permitem, gosto de trabalhar em blocos de 60-90 minutos, mesmo que tenha mais tempo que isso, para poder periodicamente levantar, beber uma água, dar uma alongada, ir ao banheiro. O próprio Cal Newport adverte que essas pausas são imprescindíveis, desde que você não as use para dar uma espiadinha no Facebook ou fazer outra atividade que arruine sua concentração.

Um último detalhe prático, e outra coisa que aprendi com o já citado curso Zen…: nunca colocar o alarme para o tempo exato disponível. Por exemplo, se você tem uma hora para trabalhar (porque tem de sair para almoçar, por exemplo), coloque um lembrete para 40-45 minutos, para ter tempo de “fechar a sessão”, como falei no início do texto: organizar os seus materiais, atualizar as suas listas de projetos e de ações e fazer uma transição calma para a sua próxima atividade.

Sugiro aos leitores que experimentem essa técnica, e comentem aqui se já usam algum método similar e como tem sido.


  1. Não consigo achar uma tradução apropriada para timer. Acho que o equivalente em português seria “cronômetro”, mas um cronômetro conta o tempo crescente (i.e. quanto tempo leva para fazer alguma coisa), enquanto que um timer conta o tempo decrescente (i.e. tenho exatamente uma hora para fazer isso). Outra palavra, “temporizador”, talvez seria mais próxima do sentido real, mas é uma palavra de pouco uso em geral, e talvez mais restrita a circuitos eletrônicos. No fim das contas, como sempre, eu deveria ter perguntado à minha noiva tradutora. 

Por Fábio Fortkamp

Pai do João Pedro, Marido da Maria Elisa, Professor do Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade do Estado de Santa Catarina, católico devoto, nerd

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