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O contraste entre livros fáceis/difíceis e interessantes/entediantes

Austin Kleon traz uma fantástica citação de Jorge Luis Borges (tradução livre minha):

Acredito que a frase ‘leitura obrigatória’ é uma contradição em termos; a leitura não deveria ser obrigatória… Se um livro lhe entedia, abandone-o; não o leia apenas ele é famoso, não o leia porque é moderno, não leia um livro porque ele é velho… Se um livro é entediante a você, não leia; aquele livro não foi escrito para você. A leitura deveria ser uma forma de felicidade, e por isso eu aconselharia a todos os possíveis leitores do meu testamento — o qual eu não planejo escrever — eu os aconselharia a ler muito, e não ficarem intimidados por reputações de autores, a continuar a procurar por felicidade pessoal, satisfação pessoal. É a única maneira de ler.

Eu admitidamente tenho um comportamento estranho com livros. Pessoas muito próximas de mim dizem que eu só leio sobre produtividade. Para tentar contra-balancear esta tendência, tento me concentrar em ler livros de ficção à noite e nos finais de semana, mas aí minha família é unânime em dizer que eu só leio livros “cabeça”. Para o leitor ter uma ideia, no momento estou lendo O Cristo Recrucificado, de Nikos Kazantzákis, que parece interessante, mas não posso dizer que vou para a cama ansioso por ler esse livro, como é quando eu leio algum livro d’As Crônicas de Gelo e Fogo.

Por influência de Como Ler Livros, cobro-me para ler livros ditos importantes para aprender alguma coisa, mesmo que eles sejam difíceis e/ou chatos. O próprio livro que citei acima foi achado em uma coleção de livros “clássicos” na casa de praia da família. Sempre que pego um livro assim para ler, esforço-me para conseguir ler até o final, porque afinal gente inteligente lê livros clássicos; mas quando desisto, sinto-me culpado. Se então leio algum livro mais fácil e mais interessante, acho que estou perdendo tempo.

Essa mentalidade do devemos ler livros famosos naturalmente tem sua importância, já que esses “grandes livros da humanidade” tem muito a ensinar. Porém, existe um detalhe escondido, abordado por Cal Newport em seu excelente Deep Work: aprender algo extremamente difícil pode ser extremamente prazeroso. Como um exemplo atual, estou lendo uma tese de doutorado sobre projeto de ímas, que é uma das coisas mais desafiadores que já li — só que a cada dia, quando começo a trabalhar, estou ansioso para dominar essa tese e aprender mais. Também sempre tive prazer em ler as obras de José Saramago, com seus parágrafos que ocupam 5 páginas.

Borges identificou a palavra-chave: tédio. O livro pode ser difícil, mas não pode ser entediante. Aliás, mesmo livros fáceis, daqueles escritos para serem logo adaptados para o cinema, podem ser bastante entediantes. Sim, devemos procurar ler os grandes livros, mas “nem todos foram escritos para nós”. Devemos ler aqueles que sejam tão desafiadores que nos motivem a querer ler mais, como mostrei no parágrafo anterior. Existem milhões de livros com coisas a me ensinar; é só procurar, e às vezes eles estão nas prateleiras de best-sellers.

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Por Fábio Fortkamp

Pai do João Pedro, Marido da Maria Elisa, Professor do Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade do Estado de Santa Catarina, católico devoto, nerd

Uma resposta em “O contraste entre livros fáceis/difíceis e interessantes/entediantes”

Muito legal o post e a citação. Gostei de ele dizer que alguns livros não foram escritos para nós… Simples assim… Mas nós mudamos também, assim como as circunstâncias, então é bom não descartar um clássico. Talvez não seja aquele o momento certo…
Escrevo sobre livros tb, dê uma passadinha, se desejar: 1pedranocaminho.wordpress.com
Bjs!
Val

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