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Resenhas de livros

Resenha: Platform

Platform: Get noticed in a noisy world foi o livro que me motivou
a lançar FabioFortkamp.com.

Eu não consigo me lembrar de como ouvi falar de Michael Hyatt. Só
sei que comecei a ler o seu blog e vi muitos textos interessantes.
Artigos sobre liderança, dicas de produtividade, tutoriais de apps. O
tipo de conteúdo que me interessa, definitivamente. E o melhor: ele tem
experiência prática, pois foi CEO de uma grande editora por muitas anos,
então entende de liderança, aplicou os métodos de produtividade e
usa os programas que recomenda.

Muitos dos textos são sobre ferramentas digitais: blogs, Twitter,
Facebook… No papel de um executivo que abraçou as redes sociais, Hyatt
tem muita informação a compartilhar. E resolveu reunir esses conceitos
num livro, não sobre cada ferramenta individual, mas sobre a ideia
global de uma identidade digital.

A frase que resume a filosofia por trás da obra é essa:

For all practical purposes, privacy is dead. Via Google, people can
find out more about you in ten minutes than was possible in a lifetime
ten years ago. You might as well intelligently feed the Google search
engines with what you want people to know about you. You need to be
smart about it but you are in control.

Isso não deve ser desculpa para não nos preocuparmos com a privacidade,
mas ele tem um ponto. Por mais cuidadoso que você seja, sempre há um
jeito de encontrar informações sobre você; então, por que não criar
você mesmo a sua identidade?

Um modelo

Eu sou engenheiro, e engenheiros gostam (supostamente) de modelos. Um
modelo é uma maneira de descrever a realidade. É uma abstração, uma
simplificação que simplica os trabalhos de lidar com a realidade.

No caso, a realidade é a nossa presença na internet. Como interagimos
com a web? Um rápido brainstorming revela muitas opções:

  • Blog ou site pessoal
  • Blog ou site de outros
  • Redes sociais (Twitter, Facebook, App.net etc)
  • Serviços de fotos (Instagram, Flickr)
  • Serviços de vídeos (YouTube, Vimeo)
  • Fóruns
  • Lojas virtuais
  • Sites de jogos
  • Sites de notícias
  • Sites diversos

Hyatt então se propõe a responder à pergunta: “como podemos utilizar
todas essas opções a nosso favor?”

A resposta envolve um modelo, a plataforma do título. Não vou explicar
o modelo em detalhes porque esse é o objetivo do livro, mas a ideia é
usar um site pessoal, as redes sociais e alguns outros tipos de site de
maneira consistente, fazê-los funcionar conjuntamente. Ele dá dicas de
como usar cada serviço e de como integrá-los; essa integração é o
diferencial do livro.

O que você tem a dizer

O modelo de plataforma se aplica tendo em mente pessoas que tem algo a
dizer ou vender (como anunciado na capa do livro). Como o próprio autor
escreve:

There are two critical parts of the success equation: a compelling
product (the what) and a significant platform (the who).

É isso. Antes de criar a sua plataforma você tem de pensar sobre o que
você quer divulgar. Talvez você goste de tirar fotos e quer algo mais
profissional que o Instagram. Ou talvez você seja um administrador que
tem algumas ideias mais modernas e quer que seu empregador as entenda
antes de contratá-lo. Ou você escreveu um livro e quer compartilhar
textos sobre as motivações que o levaram a escrevê-lo, ou os autores
mais influentes para você. Ou você é um estilista que quer divulgar seus
desenhos. Ou você é uma pessoa qualquer que gosta de escrever.

Hyatt dedica a primeira parte do livro a falar sobre criação de
produto
. Ele fala claramente que esse não é o assunto do livro, o que
me leva a questionar a presença desses capítulos, que acabam sendo
superficiais demais. Por exemplo, Hyatt cita Steve Jobs e o lançamento
do iPhone como exemplo e caso de sucesso sobre lançamento de produto. Eu
até concordo, mas acho que 1) falar do iPhone como exemplo de lançamento
de produto já se tornou meio clichê e 2) Jobs era uma pessoa bastante
peculiar (no bom e no mau sentido), impossível de ser imitada.

Esqueça o hype da Apple (e o autor mesmo confessa ser um ardoroso
Apple fan) e as dicas de auto-ajuda (coisas do tipo “olhe no espelho e
veja quem você é”) dessa parte do livro. Se você ainda não criou o seu
produto, e precisa de ajuda, existem muitas obras mais apropriadas (no
final de Platform o autor inclusive dá dicas de alguns).

Um manual com uma teoria embutida

As outras partes do livro são mais valiosas. Partindo do pressuposto que
você já sabe sua mensagem, já tem o seu produto (mais ou menos) na
cabeça, ele traz uma abordagem passo a passo bastante intuitiva. Dá
dicas práticas e explica o raciocínio. Fala de como escolher o seu
domínio (como FabioFortkamp.com), como configurar seus perfis nas
redes sociais, como escolher um sistema de blogs, como planejar seu site
(“the single most important branding tool you can have“).

Tudo com muitos exemplos práticos. Dicas, dicas e mais dicas.

Por exemplo, o autor dedica um capítulo com orientações para sua foto de
perfil, e suas fotos em geral. Na primeira vez que li o livro, não me
preocupei muito com isso; porém, depois comecei a analisar outros blogs.
E, realmente, a foto chama atenção. Você começa a ler os textos
imaginando aquela pessoa escrevendo. Mais importante, você se torna uma
pessoal real; se você tem uma mensagem, você precisa se expor. Leia esse
capítulo com atenção.

Outro capítulo interessante envolve considerações sobre tamanho de posts
no seu blog (e Hyatt recomenda fortemente você manter um, por mais
simples que seja). Os meus textos são muito mais longos que o
recomendável por ele, mas eu entendo seu argumento: você precisa
procurar o seu meio termo entre “curto e superficial demais” e “longo e
demanda muito tempo”.

E mais dicas práticas. Sugestões de aplicativos para cada tarefa.
Cuidados ao lidar com comentários.

É aí que Platform realmente brilha: é um manual de como criar sua
plataforma, onde cada passo é explicado com um raciocício lógico.

Exagero

Existem algumas partes que são bastante exageradas. Hyatt é um executivo
de sucesso; ele tem dinheiro para criar uma plataforma realmente
profissional. Mas ele poderia simplificar em muito o seu método para
quem está começando. Embora ele argumente que todos temos a
oportunidade de garantir nossa presença na web, ele parece não
contemplar uma classe na qual me incluo: estudantes ou profissionais em
início de carreira, pessoas que querem começar a montar a sua
plataforma mas não tem tanto dinheiro assim. Hyatt parece dizer: “ou
você contrata toda uma equipe, o melhor web-designer, o melhor
fotógrafo, o melhor serviço de web-hosting, usa os melhores programas,
ou então você nunca terá sucesso”.

Essa mentalidade pode atrasar ou encarecer em muito a sua plataforma.
Você não precisa escolher tudo do mais barato e simples, também. Pegue
uma foto sua decente (preste atenção nas suas dicas), escolha um
conjunto de programas que faça o serviço, e o sistema de blogs mais
simples, e crie. Aos poucos você vai melhorando alguns aspectos.

Além de algumas partes exageradas, o livro tem alguns defeitos gerais.
Por exemplo, claramente o autor reaproveitou textos do seu blog (o que
não é nada errado), em vez de criar o livro do zero. O problema é que
algumas partes são bastantes repetitivas, o que é característico de um
conjunto de textos independentes, em vez de um livro único.

Além disso, Hyatt advoga fortemente em transformar seus textos em listas
(“10 razões para ter comentários”, “20 dicas de Twitter” e por aí vai).
Segundo ele, faz os textos ficarem mais legíveis. Eu concordo, mas isso
vem acompanhado de uma sensação de superficialidade. Gosto quando os
autores desenvolvem suas ideias em parágrafos tradicionais. É mais
difícil, mas, para mim, fica melhor.

Se você concorda comigo, cuidado. Platform é recheado de listas. A
única categorização que faz sentido é sobre os tipos de títulos; por
exemplo, existem os óbvios (“Fulano de tal: uma biografia”), os que
fazem uma promessa (“Como perder 10 quilos comendo chocolate todo dia”)
etc. Eu nunca havia parado para pensar nisso.

Você deve ler!

Apesar desses defeitos, Platform é um livro excelente. Você
encontraria muita informação de graça, provavelmente, mas a reunião de
textos correlacionados reunidos convenientemente em torno de um modelo
simples ajuda bastante.

Se você absolutamente não se importa em controlar sua presença na web e
só quer usar o Twitter e Facebook como passatempo, não se incomode em
ler.

Porém, se você acha interessante a ideia de se promover usando essas
ferramentas e quer começar um blog mas não sabe como, esse texto lhe
será muito útil. É um grande motivador.

Aliás, mesmo que você ache que não precisa, leia o livro para ver os
pontos que o autor chama a atenção sobre identidade e privacidade. Mesmo
que você não tenha pretensão profissional, você acha que aquela sua foto
de perfil fantasiado para o carnaval ou aquele seu endereço de email
joao_comedor@hotmail.com realmente acrescenta alguma coisa?

Lembre-se: a privacidade na internet está em extinção. Detalhes menores
estão públicos a todo mundo. Mantenha o controle.

Por Fábio Fortkamp

Pai do João Pedro, Marido da Maria Elisa, Professor do Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade do Estado de Santa Catarina, católico devoto, nerd

2 respostas em “Resenha: Platform”

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