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Quadros negros e bancadas

Uma alegria em meio a tantas tragédias

Nas últimas semanas, passamos por muitas tragédias, como a queda do avião em Santos, matando o candidato Eduardo Campos, e a morte de Robin Williams, para ficar apenas nas mais noticiadas. Estamos todos um pouco acostumados a ver isso nos jornais, mas parece que a intensidade aumentou recentemente.

Em meio a tanta tristeza, uma notícia excelente passou quase batida: o brasileiro Artur Ávila ganhou a Medalha Fields. A medalha é tão importante quanto o Nobel, sem os constantes escândalos políticos e com o detalhe de só premiar jovens (de até 40 anos), como incentivo para as pesquisas futuras. No seu livro Symmetry: A Mathematical Journey, Marcus du Sautoy reflete sobre o seu aniversário de 40 anos (tradução livre minha):

Eu não fico terrivelmente incomodado com aniversários, mas para um matemático 40 é significativo; não por causa de uma numerologia fantástica e esotérica, mas porque geralmente se acredita que aos 40 você já fez seu melhor trabalho. Matemática, diz-se, é um negócio para jovens.

Todos esperamos que Ávila faça ainda muitos bons trabalhos, mas antes dos 40 anos ele foi longe. Ganhou o maior prêmio que um pesquisador brasileiro já ganhou.

Esse prêmio vai mudar o Brasil?

É claro que não, e provavelmente nem vai haver um aumento significativo dos inscritos para o vestibular de Matemática. Não vamos ser ingênuos e acreditar que no ano que vem já vamos ganhar outros prêmios, quem sabe até um Nobel.

Mas podemos usar esse prêmio para um como um lembrete. Um lembrete de que é possível fazer carreira em ciência, mesmo no país dos apaixonados por trabalho em escritórios e fascinados por firmas reconhecidas. Um lembrete de que existem pessoas que não foram feitas para esse tipo de trabalho, mas sim para serem pesquisadores, viver na frente de quadros negros e bancadas de laboratório.

Vamos também usar esse prêmio para discutir o ensino da Matemática no Brasil. Como engenheiro e pesquisador, alguém que está em contato constante com a Matemática, nada fica mais distante da realidade que as tabuadas decoradas no Ensino Fundamental, ou dos professores de cursinho fazendo a turma repetir as músicas para decorar as fórmulas. Vamos ensinar essas crianças a pensar mais. Vamos estimular o pensamento abtrato e criativo que é a base da Matemática. Vamos explicar o significado dos teoremas, em vez de passar exercícios que envolvem apenas a aplicação mecânica de equações.

E vamos parar de chamar a Matemática de “inútil”. Por acaso a História é útil, ou as aulas de Artes são úteis? As escolas não são profissionalizantes, e as diferentes disciplinas ajudam a desenvolver diferentes habilidades. A Matemática é um ciência e uma linguagem por si só, um dos maiores feitos da mente humana. A Física de Newton reinou absoluta por séculos até que Einsten começou a questioná-la, mas o Teorema de Pitágoras será válido para sempre.

Mas Fábio, você poderia explicar qual o trabalho de Ávila?

Não, não posso. Mesmo sendo engenheiro, Mestre em Engenharia, candidato a doutor, eu não me arrisco a entender o trabalho dele. É uma matemática muito mais avançada que a minha compreensão permite. As reportagens geralmente fazem menção aos estudos dele sobre “sistemas dinâmicos”, o que para o engenheiro é um termo bastante genérico para designar qualquer coisa que varie no tempo. É claro que o trabalho dele é muito mais sofisticado que isso.

Ao Artur: parabéns, e obrigado por fazer de nós, pessoas que sonham em ser cientistas, mais esperançosos na nossa profissão.

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Por Fábio Fortkamp

Pai do João Pedro, Marido da Maria Elisa, Professor do Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade do Estado de Santa Catarina, católico devoto, nerd

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