Categorias
Artigos

A Guerra dos Tronos e a Religião

falei que não tenho qualificações para analisar um livro de ficção, mas gostaria de traçar alguns comentários interessantes, começando com um dos meus livros preferidos, A Guerra dos Tronos, de George R. R. Martin. Desde já aviso que esse texto é resultado da minha observação apenas, sem nenhum tipo de pesquisa.

A Guerra… é um romance de fantasia, situado num tempo e lugar místico que se parecem com a Europa medieval, com reis, castelos, casamentos políticos e guerras. Isso está evidente e todo mundo fala disso. Há um detalhe, porém, que talvez poucas pessoas tenham percebido.

Se essa história se passasse mesmo na Idade Média, teríamos personagens muito importantes: bispos, padres, o Papa. Não sou historiador, mas parece-me impossível falar da história política da Europa nessa época sem falar da Igreja. Com as cruzadas, a Inquisição, os bens e tesouros da Igreja, o relacionamento do Papa com os reis, esta instituição moldou esse período.

Em A Guerra dos Tronos, não vemos esse tipo de personagem. A religião é um elemento de bastidores.

Em Westeros, o continente onde se passa a maior parte da história (e onde vou me concentrar), existem duas religiões: uma primitiva, de deuses da floresta, sem nome; e uma mais “moderna”, mais organizada, oficiada por homens chamados de septões e mulheres chamadas septãs (convém dizer que o nome do deus dessa religião também não aparece, embora seja sugerido que há um, em contraste com a outra). A religião primitiva já foi dominante, trazido pelos primeiros habitantes do continente, mas agora é seguida apenas por poucos grupos, em geral ligados diretamente aos Primeiros Homens. Não vemos nenhum tipo de discriminação, mas uma certa marginalização dos seguidores dos deuses primitivos — situação iconificada em Jon Snow, o bastardo, o que é diferente em tudo, incluindo, é claro, a sua religião antiga. A maioria dos personagens seguem a religião dos septões, que, lembrem-se, veio depois.

Uma religião que é introduzida, começa pequena e aos poucos domina as outras. Claro que você já viu isso antes.

Martin apenas usou um padrão que se repete. Pelo que me lembro da aulas de História, o próprio Cristianismo começou marginalizado, uma religião de judeus dissidentes, perseguido pelos chefes judaicos e pelos seguidores dos deuses romanos. Uma religião mais “primitiva”, de pescadores e marceneiros, que celebra a morte de um Homem na cruz, comendo da Sua Carne e bebendo do Seu Sangue. Essa mesma religião foi dominante por muitos séculos depois, passando de perseguida a perseguidora, incluindo dos mesmos judeus que foram os algozes no começo. Hoje, vemos um declínio, com o Catolicismo perdendo espaço para as igrejas neopentecostais.

Análises similares, da ascenção e declínio de religiões, poderiam ser feitas com o Judaísmo e com o Islamismo. É um padrão que repete ao longo da História, e o autor assim cria um cenário interessante.


Outro ponto interessante é a “união Estado-Igreja”. Como falei, não parece haver uma Igreja que participe de fato do jogo político, mas muitos acontecimentos cívicos acontecem no âmbito religioso. Casamentos, por exemplo, são oficiados por um septão em um septo, e isso o torna sagrado; não é preciso havei lei de casamento civil. Da mesma forma, juramentos da Muralha, uma ordem de guardiões do reino, são feitos com juramentos aos deuses (e cada iniciado por expressar o seu juramento na sua fé), e assim tomados como perpétudos. Romper o juramento, abandonar o seu posto, equivale a mentir para os deuses, e o leitor o que acontece com quem faz isso.

O que me chama a atenção, porém, é que a religião faz parte da vida nesses momentos importantes, mas ela não parece fazer parte da vida cotidiana dos personagens. Não existem cultos regulares, a que os personagens vão. Não existem também personagens religiosos, como seria de se esperar num romance desse tipo; não existem personagens “cegos” pela fé, ou que guiam suas ações pelos deuses. Todos têm motivações muito mais mundanas.


Leu um livro e tentar traçar uma análise assim se provou uma experiência riquíssima, uma que aconselho a todos. Eu quero me tornar um leitor cada vez melhor, e acredito que para isso é preciso absorver os detalhes dos livros, interpretá-los, aprender com eles, não apenas fechar o livro e pôr de volta na estante. Escrever as resenhas de livros de não ficção têm me ajudando muito, e estas análises dos romances são o próximo passo.

Publicidade

Por Fábio Fortkamp

Pai do João Pedro, Marido da Maria Elisa, Professor do Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade do Estado de Santa Catarina, católico devoto, nerd

Uma resposta em “A Guerra dos Tronos e a Religião”

Obrigado, adoro os livros mais é meu série prefertia. Na última temporada eu amei, e fiquei emocionada para Game of Thrones 7 temporada eu estava animado em todos os momentos, me desespero longa espera tanto tempo para ver o próximo, mas já próxima estreia, partilho horários e data de lançamento para esta nova etapa, tenho certeza de que, depois de Então, espere, Game of Thrones vai cumprir as nossas expectativas.

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.