Ainda lembro do dia em que, passeando pela Fnac na Rua de Santa Catarina, na cidade do Porto, deparei-me com um livro intitulado Fazer bem as coisas (publicado no Brasil como A Arte de Fazer Acontecer), e aprendi sobre listas, projetos, calendário… Estudar produtividade virou quase um vício, a ponto de precisar tratar na terapia como lidar se as coisas não saem como planejado.
E ainda bem que aprendi a não ser produtivo, porque quando o João Pedro nasceu, junto vieram os dias mais ineficientes que já vivi.
Eu escrevo isso não como uma reclamação, mas como um simples reconhecimento de agora tudo mudou: o meu tempo não é mais meu, é do meu filho, e funciona numa outra escala. Posso planejar o quanto quiser tarefas para quando ele estiver dormindo, mas há dias em que ele simplesmente quer acordar de hora em hora, e não há como se concentrar em algo por muito tempo. Posso marcar num calendário com máxima precisão os horários e trajetos para sairmos de casa para visitarmos alguém, mas se ele quiser mamar bem nessa hora, nós vamos chegar atrasados. E eu nunca posso dizer para o bebê com cólicas que eu estou cansado e só queria ler um pouco.
Pode parecer estranho um pai de um recém-nascido já querer escrever regras de paternidade, mas isso tem estado o tempo todo na minha mente nesse primeiro mês. Além disso, observando pais de crianças mais velhas, imagino que a ineficiência vai fazer parte de minha vida por muito tempo — por exemplo, ao andar de carro para lá e para cá, algo que sempre me incomodou.
Quando eu escrevo “ineficiência”, é mais para chamar a atenção, porque não é bem verdade. Prefiro pensar que troquei eficiência por eficácia. Tudo leva mais tempo, poucas tarefas cabem num dia, mas as que acontecem têm real significado. As inúmeras trocas de fralda e horas em pé para fazê-lo arrotar não são itens a marcar numa lista, mas atos de cuidado. Quando sou interrompido no que estou fazendo para pegá-lo e confortá-lo, isso é algo que só eu posso fazer, e que tem grande impacto sobre o bem estar dele. E quando eu de fato trabalho, quando ele estiver dormindo ou com a mãe, eu preciso me forçar a trabalhar no que é realmente importante – principalmente porque agora eu trabalho para o futuro dele.
Ser pai é ser ineficiente, mas é trocar eficiência por amor. É trocar uma noite de sono inteira, que me faria trabalhar melhor, por uma noite interrompida para consolá-lo e ver as mãozinhas dele se aninharem no meu peito depois que ele se acalma. E então eu penso: eficiência para quê?
3 respostas em “Ser pai é ser ineficiente”
Parabéns pelo filho, tenho certeza que ele será muito amado e te dará muitas felicidades!
[…] pai implica ter uma nova rotina, um novo comportamento (demorou dois dias para eu me espantar como meu celular só tem fotos dele), […]
Lindo depoimento. E é isso mesmo. Porque por mais que programemos, nossa vida é revirada, a todo instante. E assim vamos aprendendo a viver um dia de cada vez.