No dia 30 de junho de 2014 eu defendi a minha dissertação de mestrado, intitulada Análise experimental e teórica da formação de espuma em misturas óleo-refrigerante, fui aprovado e, após fazer as correções necessárias, recebi o título de Mestre em Engenharia Mecânica.
Esses dois anos e meio foram o maior projeto individual em que me envolvi. Sim, uma graduação demora muito mais, mas o mestrado é um projeto meu. Eu estudei, fiz o projeto dos equipamentos e da bancada de testes, desenvolvi programas de computador para fazer cálculos e realizar medições, planejei e conduzi experimentos. Claro, tive muita ajuda, sem a qual não seria possível fazer este trabalho — mas ainda assim é o meu trabalho.
Pensei em desistir várias vezes no meio do caminho, como depois de ver minha bancada (de vidro) estourar em alta pressão algumas vezes, ou cansado da burocracia para comprar equipamentos, ou desanimado com a falta de interesse de muitas pessoas em ajudar (que teoricamente são contratadas para isso), ou inconformado com as particularidades de se estudar em uma universidade pública. O momento de revelação foi quando percebi o quanto estava sendo ingênuo: sempre há do que reclamar. Amigos meus que trabalham em diversas repartições públcas reclamam dos conchavos políticos ou dos cabides de emprego; os que trabalham na iniciativa privada relatam intrigas entre colegas, demandas de horários absurdas, alienação dos chefes (quando só querem saber de resultados) aos problemas dos funcionários.
Problemas existem em todo canto. Quando assumi isso, e comecei a dar muito mais ênfase às coisas boas do mestrado, tudo mudou. O que estou fazendo é simplesmente construir a ciência. Eu, o garoto que sempre gostou de ciência, que sempre pareceu entender a Física e a Matemática quando todos os outros só viam sentido em Educação Física, de repente estava participando ativamente disso — e mais, eu podia fazer disso uma carreira. Eu podia ser, no futuro, uma dessas pessoas cujos nomes aparecem em livros de Engenharia e são conhecidas por milhões de estudantes em todo o mundo. Eu aceitei que eu jamais poderia ser feliz num emprego de escritório, burocrático; como já escrevi, o meu mundo é de quadro-negros e bancadas. Eu nasci para ser cientista e ser professor, e quero ser o maior especialista na minha área no mundo.
Ao longo das próximas semanas, vou publicar aqui em FabioFortkamp.com uma série de posts com algumas reflexões sobre esse período. Meu objetivo principal é ajudar quem por acaso queira seguir essa carreira, mas não nego que esta é uma ótima oportunidade para mim mesmo de fazer um balanço e aprender com os erros.
E antes que alguém pergunte, é claro que já comecei o doutorado.
7 respostas em “Coisas que aprendi com o mestrado”
Meus parabéns, Fábio! E boa sorte no doutorado. Nem iniciei meu mestrado ainda, mas estou ansioso pelos posts que estão por vir. Gosto da tua escrita e me identifico muito com a tua forma de pensar.
Obrigado, Thales!
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[…] Introdução […]
Olá, me chamo Daniel, faço mestrado na COPPE em engenharia mecânica, e me encontro desanimado. Estou fazendo mestrado em uma área diferente da minha graduação, sou engenheiro de materiais. Dei várias sugestões para meu orientador para eu fazer que eu tivesse algum conhecimento e ele não permitiu, e hoje me encontra numa pesquisa que ele me sugeriu e que ele mesmo me fala que é muito difícil. E realmente é muito difícil pra mim, e não consigo me empolgar pela minha pesquisa, tem dias que não faço nada, tudo parece chato. Você já passou por isso? como vencer o desânimo?
Daniel, sinto que você esteja passando por isso. Comecei a escrever um email para você, mas achei que a informação era relevante e resolvi escrever um post inteiro sobre isso (não citei seu nome). Veja se isso lhe ajude, e estou disponível para conversar mais sobre esse assunto, que acho que merece ser abordado. Abraços!
Fábio, vi seu texto e gostei muito do que relatou. No momento vivo um dilema em minha vida, depois de ficar desempregado, fui aprovado em um mestrado em Portugal, mas não consegui a bolsa de estudos, em virtude da crise do Brasil e de Portugal, mesmo assim fiz a matrícula. O meu visto demorou um pouco a sair e durante esse tempo comecei a refletir se deveria ir mesmo, já que o investimento seria bastante alto. Ainda não sei o que fazer.
João, obrigado pelo comentário.
Sinto que você esteja passando por esta situação. Infelizmente, não consigo lhe dar uma resposta pronta, mas posso compartilhar a minha experiência própria. Por favor, não decida nada apenas com base no que vou comentar.
Esse tipo de decisão depende muito da sua área e da sua formação. Eu já vivi em Portugal e fiz um ano de intercâmbio na Universidade do Porto; mas o que para mim (vindo de uma excelente universidade e de um excelente curso de Engenharia) era o último ano da graduação no Brasil lá já era considerado mestrado. O que nós chamamos de mestrado aqui é, via de regra, mais avançado que o que é considerado mestrado na Europa. Assim, não tenho certeza se “fazer mestrado na Europa” vai fazer você crescer muito profissionalmente – mas, ressalto, isso depende da sua área e da qualidade da sua formação. Pode ser que você esteja indo para uma universidade de referência na sua área.
Por outro lado, se você tem condições de se financiar, a experiência de morar fora é bastante enriquecedora, e certamente vai contar no seu currículo. Mudando de ambiente assim, e por um tempo relativamente curto, pode fazer você refletir sobre a sua vida e lhe permitir fazer alguns contatos profissionais.
Em decisões assim, ajuda muito coletar o máximo de opiniões possível. Você conhece alguém que foi fazer mestrado em Portugal? E o que os seus colegas de profissão acham?
Espero ter ajudado um pouco.
Abraços,
Fábio