Na semana passada, o WhatsApp tomou um passo que eu estava esperando
há muito tempo: passou a cobrar novos usuários por ano, e não mais uma
vez por aplicativo vendido (já era assim no Android e passa a ser assim
também para o iPhone). Ou seja, o WhatsApp, um dos meus aplicativos
favoritos, não é mais um aplicativo; é um serviço.
Por que fazer isso? Ben Thompson resumiu, ao dar o exemplo do
Paper:
The problem for Paper is the same for all productivity apps in the App
Store: there is no way to monetize your existing users.
O mercado de vendas é naturalmente instável. Uns mês se vende mais, nos
outros menos, e posso imaginar a dificuldade que é para um negócio
baseado em vendas manter o fluxo de caixa. Entretanto, o mercado de apps
tem particularidades, baseadas no fato de que usuários geram receita de
maneira discreta e gastos de maneira contínua. Uma vez que alguém
compra um aplicativo, essa pessoa nunca mais vai dar dinheiro para a
empresa (já que um aplicativo não estraga, e portanto não precisa ser
substituído) e vai continuar exigindo que seus emails sejam respondidos
e que os bugs sejam consertados.
Por exemplo, quando você compra um carro, continua dando dinheiro para a
concessionária com revisões, acessórios etc. A cada vez que você quer
que algo seja melhorado, tem de pagar. Combinado com os altos preços,
isso mantém o mercado de carros — e de computadores, de
eletrodomésticos, …
Numa outra categoria, existem aqueles produtos que são gastos numa
escala relativamente rápidas: comida, roupas, materiais de escritório.
Num determinado instante de tempo, alguém há de precisar disso. É
fácil manter o fluxo de consumo.
Quando alguém comprava o WhatsApp, dava um dólar para os desenvolvedores
(na verdade menos, tirando a fatia da Apple), e ficava usando os
servidores indefinidamente para trocar mensagens. E os próprios
criadores, que vieram do Yahoo, já deixaram claro que não querem
usar anúncios para gerar receita. É claro que esse negócio não era
sustentável.
Pagar pelo direito de usar
Ultimamente serviços que cobram taxas periódicas por acesso ao serviço
(e não apenas por produto vendido) vêm crescendo; são os serviços de
assinatura, ou subscription-based. O caso típico é o Netflix: você
paga uma taxa mensal e vê quantos filmes quiser (mas apenas enquanto
pagar). Você não possui mais nenhum filme, e sim o direito de assitir
ao catálogo. Na música, temos o Rdio; para audiobooks, Audible.
O mercado de apps também tem visto essa tendência. Veja o Nozbe, um
sistema GTD na nuvem. E como Thomson colocou, temos o Office e a
Adobe que transformaram seus produtos em serviços. Você paga
continuamente pela comodidade de ter seus dados sempre disponíveis. E
agora o Whatsapp fez o mesmo.
É simples. As empresas mantém toda uma infraestrutura, armazenamento,
streaming, aplicativos de acesso, e você continua pagando enquanto usar
os recursos.
Nem todo programa precisa fazer essa transição (caso contrário veríamos
pedidos de falência diariamente). Alguns apps simplesmente não fazem
sentido como um serviço, ou o fluxo de caixa é suficiente para sustentar
uma equipe pequena (digamos que o produto seja muito bom e novos
usuários continuam o descobrindo). Mas acho que não seria exagero que
nos preparemos para mais exemplos desse tipo.