Frankenstein, ou O Prometeu Moderno, de Mary Shelley, foi o último livro de ficção que li em 2020, e um exemplo de como conhecimento superficial não é bem conhecimento.
O que eu achava que conhecia sobre a obra, baseado em apenas ouvir dizer: um cientista maluco cria um monstro chamado Frankenstein com parafusos na cabeça, grita IT’S ALIVE, e a criatura sai quebrando tudo.
Sobre o que o livro realmente é: o impacto de decisões erradas. Frankenstein é o estudante de filosofia natural (e não a criatura) que se vê no meio de uma briga de ego de dois professores, que resulta numa descoberta “mágica” (melhor dizendo, alquímica) sobre a origem da vida. Ele faz um experimento, fica horrorizado, e tem de lidar com o que acontece depois. É ele quem fica louco de arrependimento.
O ato da criação em si consome muito pouco tempo do livro, o que me leva a questionar a classificação de Frankenstein como “horror” ou “ficção científica”. Para mim, é um drama, cheio de reflexões sobre o sofrimento do protagonista, com toques de fantasia.
O que mais eu não sabia? Que esse é um livro suíço. A geografia da Suíça, com seus lagos, planícies e Alpes são parte importante da relação entre criador e criatura.
E, surpresa, o monstro não tem parafusos na cabeça. Ou pelo menos Mary Shelley não queria nos dar essa imagem vívida. Aliás, ambíguo é um adjetivo apropriado para descrever esse livro.
Por dentro das coisas
Donald Knuth tem uma frase que adoro, difícil de traduzir, mas que basicamente significa que o trabalho dele é conhecer os detalhes profundos de poucas coisas, e não uma visão geral de tudo.
Por uma questão de personalidade, eu também sou assim. Dê-me um livro e um fone de ouvido e me largue por horas e consigo ser feliz. Porém, na minha carreira, diversas vezes sofri pressão para abandonar essa abordagem em favor de um conhecimento mais raso porém mais amplo. Os resultados sempre foram ruins.
Conhecimento superficial não é conhecimento. Nunca há tempo para saber tudo que há para saber, e há que se tomar cuidado para não perder tempo demais pesquisando e de menos fazendo. Porém, acredito que geralmente é possível se organizar e realmente aprender alguma coisa, estudando-a efetivamente, tomando notas. Querer realizar uma tarefa com base em um vídeo rápido do YouTube vai exigir retrabalho depois para cobrir os detalhes que ficaram para trás. Mais valia a pena ter se dedicado a estudar com mais afinco antes.
Esse texto é para lembrar desse lema pessoal: Fábio, você é uma pessoa que gosta de estar on bottom of things. Ler o livro Frankenstein (que, sinceramente, é chato de ler) dá um conhecimento muito superior a ler todos os resumos e artigos na Wikipedia ou ver todas as adaptações.
Próximo passo: ler Drácula e ver o quanto eu realmente sei sobre vampiros