O objetivo principal de Austin Kleon em Roube como um artista é dar dicas de como ter mais ideias (boas). Os seus principais argumentos são baseados na sua experiência como escritor e no contato que ele tem com outros artistas, seja ao vivo ou por meio de obras diversas.
O ponto central do livro é o imperativo presente no título: para ter mais ideias, é preciso estar exposto a elas, capturá-las, e então produzir algo novo. Kleon cita diversos músicos, pintores e escritores que usam dessa analogia do roubo, da cópia modificada. Para isso, é bom ter algumas ferramentas, como um bom diário, um caderno onde você possa anotar coisas que lhe chamaram a atenção, ou qualquer forma de manter um registro. Se você for escultor, tire fotos e mantenha um álbum com suas obras preferidas. Para um caso mais “cotidiano” de um engenheiro de simulação, guarde artigos interessantes no Evernote, por exemplo.
O “roubo”, nesse contexto, se diferencia de um plágio por abraçar as influências, dando crédito a elas e melhorando. Não é difícil perceber que J.K. Rowling usou de muitas fontes sobre fantasia e mitologia, mas adapatou a um mundo de bruxos bons e em um universo infanto-juvenil. Quem escuta Oasis não demora a notar semelhanças com os Beatles, mas como se as suas músicas fossem adaptadas para os anos 90.
Cerque-se do que roubas. Abrace suas influências. Aprofunde-se no seu autor favorito. Não tente criar o seu jeito; deixe ele crescer organicamente, à medida que você se torna mais consciente das coisas que você lê/escuta/ouve/estuda. E não tenha medo de não ser original:
“Tudo que precisa ser dito já foi dito. Mas, já que ninguém estava ouvindo, é preciso dizer outra vez.” – André Gide, escritor francês
Com base nesse ciclo “Expôr-se, capturar, adaptar”, Kleon sugere mais algumas dicas básicas:
- Trabalhe mais com meios analógicos. Nesses tempos digitais, esquecemos de estimular o tato e as sensações diferentes que temos quando lidamos com o mundo fora do computador. Vale a pena ter um ambiente livre de telas para simplesmente rabiscar ideias em papel (até usando o seu caderno acima), ler um livro, recortar figuras ou fotos e montar um mural etc. No mesmo sentido, é importante ter hobbies diferente do seu trabalho, para estimular o seu cérebro.
- Saia mais de casa. Isso vale tanto para coisas modestas como ir trabalhar num café; quanto para sonhos de vida como ir morar fora do país ou se mudar de cidade. Essa mudança de ambientes e de conforto pode ativar novas ideias que você nunca teria percebido.
- Use a vida diária como estímulo criativo. Escreva sobre um filme que lhe comoveu; reclame no seu diário sobre algo com que você ficou indignado; cozinhe uma refeição como uma versão melhorada do que você comeu de ruim.
Pessoalmente, entendo que, ao ser mais criativo, você produz trabalho de mais qualidade, impacto e significado — qualquer trabalho. Assim, fico feliz em recomendar a leitura desse livro, mesmo com alguns poucos defeitos; o que mais me frustra é a falta de referências a estudos que provem os argumentos dele (mas também talvez seja a minha mente de pesquisador) — talvez eu deva roubar as ideias de Kleon e adicionar rigor científico, não acham?.
8 respostas em “Resenha: Roube como um artista”
[…] Depois de muito acompanhar o trabalho do Austin Kleon e ler os seus livros mais de uma vez, resolvi ler Roube como um Artista mais atentamente, e a sua principal recomendação está lá: mantenha um “arquivo de roubos”, […]
Sobre registrar experiências, acho um blog melhor q um caderno, mas talvez seja questão de costume
Abs
Olá Scant. Os dois são complementares. O caderno registra absolutamente tudo; o blog, apenas a parcela que eu quero tornar pública 😉
[…] da vida, o Nerdcast 660 tratou da vida e rotina de artistas gráficos, e muito do que é falado em Roube como um artista foi discutido: usar a raiva e a frustração como combustível criativo; copiar o trabalho dos […]
[…] Eu fiquei sabendo de Show Your Work, de Austin Kleon, através de um mísero link em post de Mike Vardy (cujo link exato não consigo mais encontrar). Na época, acho que estava começando com esse blog, começando também a ler muito sobre produtividade e tecnologia (o que me levou a conhecer Vardy), e fiquei intrigado com o simples título desse livro. A partir daí, comecei a mergulhar cada vez mais na obra desse escritor americano. […]
[…] fez parte de um período meio dedicado a criatividade, e considero ele parte de um conjunto com os livros do Austin Kleon. O Método BulletJournal me ensinou como juntar informações mistas, […]
[…] eu me cerco de textos sobre como aproveitar melhor essas referências e produzir mais. Quando Austin Kleon fala de usar um caderno para “guardar seus roubos”, isso não é aplicável apenas para […]
[…] exceto talvez pelo fato de que eu já tenho esse livro, já li e reli inúmeras vezes, já resenhei aqui e já escrevi sobre muitas lições inspiradas pelo […]