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O Sedentário Digital

Se o leitor, como eu, tem uma queda por blogs e podcasts de produtividade, deve ter notado que existe uma corrente crescente nos últimos anos: o das pessoas que pregam os benefícios do escritório móvel e viver basicamente do trabalho online. Trabalhe de qualquer lugar! Aproveite a liberdade e trabalhe em cafés, em casa, em parques, de preferência alternando a cada dia. E vá além: viaje muito, passe um ano em cada país, desde que você tenha conexão com a internet.

O que há de errado com isso? Absolutamente nada. Para algumas pessoas, como a Bia Kunze ou o Federico Viticci, poder trabalhar de qualquer lugar é uma necessidade. Para outras é apenas um estilo de vida bem interessante, pessoas que juram ter sua criatividade e produtividade em geral aumentasas quando alternam entre ambientes.

Mas o que eu aprendi na Dinamarca é que eu definitivamente não sou assim, e aprendi que também não há nada de errado com isso.


Nesse um mês que estou aqui, completado enquanto escrevo essas palavras, tenho me sentido produtivo, calmo, e organizado como nunca, e naturalmente pretendo explorar FabioFortkamp.com para discutir os porquês. No último texto, já falei um pouco sobre os hábitos de almoço, e como a prática de um almoço mais simples, rápido e leve faz com que a tarde seja um período de trabalho quase equivalente à manhã. Mas naturalmente existem muitos outros fatores, e um deles é a observação de como os meus dias estão mais estruturados aqui.

Como era no Brasil: por eu morar relativamente perto da Universidade, ia a pé quase todos os dias, então podia sair a hora que quisesse. E muitas vezes trabalhava de casa, seduzido por aquele estilo de vida que descrevi no começo, o que era bom mas trazia problemas: os almoços vendo House of Cards se alongavam demais, a necessidade de fazer algo relacionado à casa fazia com que eu procrastinasse nas tarefas de trabalho, a falta de horário fixo alimentava a tentação de dormir até mais tarde e por consequência começar a trabalhar mais tarde.

Aqui na Dinamarca, eu não tenho esse luxo. Na minha casa provisória aqui, também não tenho o conforto do meu apartamente em Florianópolis: um conjunto bom de monitor, teclado e mouse, uma cadeira boa, um Home Office propriamente. E o meu trabalho na Universidade daqui envolve mais interação com outras pessoas e mais trabalho prático de laboratório. Aqui, eu preciso ir para a Universidade todo dia, e isso é bom. Morando muito mais longe do trabalho, isso significa que preciso pegar o mesmo trem todos os dias (caso contrário vou chegar de 15 a 30 minutos depois do que gostaria), o que significa que preciso sair de casa todo dia no mesmo horário. E todo dia, no mesmo horário, eu chego na minha sala, e começo a trabalhar. Para não chegar mais tarde do que gostaria em casa, todo dia pego o mesmo trem de volta, e no trajeto eu volto para a minha vida pessoal. Essa rotina funciona.

Eu e minha noiva já discutimos infelizmente um bom número de vezes sobre como sou muito apegado a rotinas e gosto de horários fixos para tudo (e muitas vezes fico irritado quando algo do plano). Aprender a relaxar e ser mais flexível é algo que preciso melhorar, tanto na minha vida pessoal quanto na profissional, mas isso não me impede de querer achar pelo menos a dose ideal de estrutura e rotina aos meus dias para maximizar a minha produtividade. Vez por outra posso abandonar meus planos e fazer algo que parece muito interessante (como o próprio David Allen diz, às vezes ser produtivo significa simplesmente seguir a sua intuição), mas eu sempre vou preferir que a maioria dos meus dias seja previsível. Eu não estou sozinho: John Grisham escreve todos os dias no mesmo lugar, tomando o mesmo café na mesma caneca, a maioria dos grandes intelectuais tinha suas rotinas, Cal Newport discute esse assunto em Deep Work, Gustave Flaubert disse aquela famosa citação “Seja regular e ordeiro na sua vida para que você possa ser violento e criativo no seu trabalho”.

Como falei, mesmo se quisesse, não poderia ser completamente um nômade digital, já que preciso estar fisicamente na Universidade para a maioria das coisas. Mas o ponto é: mesmo se eu pudesse, não tenho certeza de que iria optar por ser assim. Eu poderia dedicar alguns dias a ir trabalhar de alguma biblioteca, ou de um café, ou mesmo tentar a partir de casa, para as tarefas que envolvem apenas meu computador (como ler e escrever artigos); porém, a rotina de estar todo dia no mesmo lugar me convida a me concentrar no meu trabalho.

E, como eu falei, não há nada de errado em ser assim.

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Por Fábio Fortkamp

Pai do João Pedro, Marido da Maria Elisa, Professor do Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade do Estado de Santa Catarina, católico devoto, nerd

2 respostas em “O Sedentário Digital”

Basicamente, parece que o objetivo deva ser buscar um equilíbrio… Quando sigo uma rotina por muito tempo, chega um momento que fica difícil seguir em frente. Por outro lado, uma falta total de rotina atrapalha muito. Tento seguir uma rotina, seja lá onde for e mudá-la de tempos em tempos.

Algo que aprendi com o tempo é que a frase “mudanças de planos” é algo que ocorre com mais frequência do que eu gostaria, mas, por várias vezes, foi necessário ou, mesmo não sendo necessário, foi melhor do que o plano original.
Então eu parei de me estressar com isso.

Tem que ter beleza e paciência. Se o plano der certo, beleza, se não der, paciência. Claro que, depois, eu dou uma analisada para saber os motivos das mudanças.

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