Nos últimos três meses tive o privilégio de participar de dois congressos acadêmicos na minha área de doutorado, um internacional e outro nacional, sendo que no final do ano passado também apresentei o meu trabalho de mestrado em um congresso nacional. Devo ter assistido a meia centena de apresentações de trabalho nesses eventos todos, e em muitas delas a minha atenção foi arruinada.
Eu sou ainda muito inexperiente em relação a participação em conferências, e não acho que sou um apresentador excepcional. O que segue é uma lista, do ponto de vista estritamente como expectador, de coisas que você pode fazer se quiser destruir o meu interesse pelo seu trabalho durante o próximo congressos.
Tente espremer todo o seu trabalho durante o tempo de apresentação
Um artigo submetido aos anais de um congresso tem entre 4 e 8 páginas (pelo menos na área de engenharia) e geralmente compreende um ano de trabalho. Uma apresentação, por outro lado, geralmente tem o limite de 15 minutos.
Vamos pôr em perspectiva: tentar resumir o trabalho de um mestrado ou doutorado durante 50 minutos (como é nas defesas do meu Programa de Pós-Graduação) é absurdo. Tentar resumir um ano de trabalho em 15 minutos é mais irreal ainda. A questão é: você não precisa relatar o seu trabalho de um ano durante esses 15 minutos. Os trabalhos que mais me chamaram a atenção durante esses congressos que frequentei não foram aqueles em que eu consegui efetivamente entender o assunto (porque o tempo é realmente curto para aprender), mas aqueles que me fizeram ir ler os respectivos artigos.
Se você tentar falar tudo o que é importante durante esses 15 minutos, a sua apresentação vai se tornar muito difícil de acompanhar; pior, se você passar do tempo, vai atrapalhar a agenda de todos os expectadores.
Copie parágrafos do seu artigo para os slides
Sinto que isso é um lugar-comum, mas eu vou repetir aqui: eu não consigo ler o que está nos seus slides e ouvir o que você está dizendo ao mesmo tempo. Assim, cada texto grande que você coloca rouba minutos da minha atenção sobre o que você está falando (e ouvir você é o objetivo de eu ir a uma apresentação sua).
Como falei no ponto acima, a sua apresentação tem um artigo como suporte. Os seus 15 minutos não são para eu ler o seu artigo, mas para você me convencer a lê-lo. Use e abuse de recursos que não estão disponíveis nos documentos escritos: muitas imagens (ao contrário dos papers, não há limite de figuras nos slides), animações, cores, explicações.
Uma das piores apresentações a que fui no último congresso foi uma em que o autor usou slides brancos com textos em preto de cima baixo, e o apresentador ficava olhando para a tela e lendo (acho que nos 15 minutos ele mostrou 2 figuras). Impossível prestar atenção.
Coloque um grande número de equações complexas
Eu faço Doutorado em Engenharia Mecânica e portanto não tenho medo de matemática, mas interpretar equações dá trabalho. Vou repetir: eu posso ler o seu artigo depois, com calma, de preferência escutando música clássica. Na sua apresentaçao, eu quero ter um panorama do seu modelo matemático, entender de onde você partiu e onde você chegou, e entender o que é possível inferir ou calcular com ele.
Se você põe equações cujos termos você não consegue explicar claramente em um minuto, vai ficar muito difícil de prestar atenção em você.
Tente me enganar
Eu, que sou um expectador mediano, consigo perceber quando o seu trabalho é uma enganação; que dirá de professores e pesquisadores mais experientes. Se eu, como alguém que está assistindo à sua apresentação, perceber que você está tentando fazer o seu trabalho parecer muito maior que é, você vai perder a credibilidade comigo, e não há motivo para eu prestar atenção em alguém que não é confiável.
Penso que uma apresentação de congresso não precisa ser revolucionária. Eu sei que a falta de recursos financeiros e materiais dificulta as pesquisas. Uma das apresentações mais interessantes a que assisti recentemente envolvou a repetição de um experimento clássico, mas variando um parâmetro ainda pouco explorado. O aparato experimental era simples, a ideia era simples, mas o trabalho era consistente e rigoroso, e representou um avanço no conhecimento (palavras de um colega meu, quando discutíamos essas questões).
O que você não deveria fazer é gerar dois gráficos de um experimento que você preparou em um mês, não representando nada de novo em relação ao disponível na literatura, e achar que está em pé de igualdade com todos os outros apresentadores do congresso.
Esses são desabafos mostrando que o eu acho que você não deveria fazer. Agora, se você quer dicas do que fazer, sugiro esse artigo do Prof. Matt Might, de onde tirei algumas das ideias acima.