Quando as pessoas me viam lendo Como
Evitar Preocupações e Começar a Viver, de Dale Carnegie (autor de
Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas), logo brincavam: “começou
a ler livros de auto-ajuda, Fábio?”. Pessoalmente, não tenho nada contra
livros de auto-ajuda, e não vejo nada de errado nas pessoas buscarem
conforto pessoal nos livros. Mas auto-ajuda é muito simplificado para
descrever um livro como esse; está mais para um guia prático
de comportamento.
Quando resenhei o outro livro de Carnegie, ressaltei:
Como Fazer Amigos … não é um tratado teórico sobre relacionamentos.
O autor não tem formação em psicologia ou filosofia. É um livro
prático, de alguém que sempre trabalhou com pessoas (principalmente na
parte de vendas) e começou a observar o que dava certo e o que não
dava. Ministrou cursos então sobre a arte de lidar com pessoas,
coletou histórias de participantes e as reuniu em um livro. É um
tratado empírico, por assim dizer.
O mesmo vale aqui. Carnegie, sendo muito observador do comportamento
humano, observou que o tema da preocupação afeta muitas pessoas, e
então se dispôs a pesquisar sobre o tema. O que causa a preocupação?
Como deixar de se preocupar?
Todos experimentamos preocupações e ansiedade, desde mundanas até
profundas. Estamos trabalhando, a chuva está chegando e pensamos se
deixamos a janela aberta; ou estamos de férias, preparando-nos para
voltar à rotina, quando somos tomados por uma depressão causado pelo
nossos desgosto com nosso trabalho ou faculdade. Como suportar isso?
Detectando as principais mensagens do livro
O livro segue uma divisão com a qual eu não concordo, baseada em
“Princípios”, “Fatos”, “Técnicas”, “Maneiras”. Essa divisão acaba sendo
mais confusa do que pedagógica. Por exemplo, a Parte III é sobre “como
acabar com o hábito da preocupação”, e a Parte IV é “como cultivar uma
atitude mental de felicidade”. Esses assuntos, para mim, estão
relacionados; cultivando a felicidade mental você pode deixar de se
preocupar. A obra poderia ter menos subdivisões.
Mesmo assim, é possível, à medida que lemos o livro, detectar a sua
mensagem principal.
Por exemplo, a técnica fundamental de análise de preocupações é tomar
decisões. No caso da janela aberta, qual são as opções? Podemos sair do
trabalho, e ir fechar a janela, gerando discussões com o chefe; ou
podemos aceitar que a janela está aberta e planejar que, quando
chegarmos em casa, vamos tomar uma meia hora para secar o chão. Você
precisa tomar uma decisão. Você está preocupado com alguma coisa? O
que pode ser feito? Qual o pior cenário, e como ele pode ser resolvido?
Ficar sentado, olhando para o computador, pensando no chão molhado não
resolve nada. Uma vez tomada uma decisão, sua cabeça está livre para
continuar trabalhando.
Outro capítulo ótimo é sobre nossa relação com o passado. Quantas vezes
não nos preocupamos com coisas que já dizemos, como se isso adiantasse
de alguma coisa. Como o autor diz, “não tente serrar serragem”; não
gaste energia pensando no passado. Se você disse algo desagradável a
alguém, já está dito; você pensar nisso não fará a outra pessoa
esquecer. Tome a decisão de ignorar isso ou pedir desculpas, e siga em
frente.
Carnegie dedica um trecho à fé, com o argumento de que você não precisa
ser cristão, ou judeu, ou muçulmano, praticante. Quando você acredita em
um sentido por trás de tudo, qualquer que seja, você percebe que não
vale a pena se preocupar, pois tudo tem um próposito. O autor cita uma
frase do teólogo John Baillie:
O que torna um homem cristão não é nem a sua aceitação intelectual de
certas ideias, nem a sua conformidade com uma determinada regra, mas a
posse de um certo Espírito, e a sua participação numa certa Vida.
Cita também o filósofo Francis Bacon:
Um pouco de filosofia inclina o espírito humano ao ateísmo; mas uma
profunda filosofia conduz a mente humana à religião.
Estaria mentindo se dissesse que esse capítulo não me fez pensar muito.
Mas o meu capítulo preferido de longe é o destinado à ingratidão. Muitas
vezes a causa de nossa ansiedade é a ingratidão de outras pessoas. O seu
ponto é o seguinte:
É natural que as pessoas se esqueçam de ser gratas; assim sendo, se
andarmos à espera de gratidão, estaremos, fatalmente, destinados a
sofrer uma porção de aborrecimentos.
No meu círculo de pessoas próximos, vejo muitos estressados (e o
estresse é um tema recorrente do livro) por causa da ingratidão. Bem,
adivinhe: pessoas não costumam agradecer. Conheço uma mulher que tem uma
irmã de piores condições financeiras, em virtude de más escolhas no
passado; essa mulher não queria que a filha da irmã tivesse a mesma
sorte e pagou uma escola particular para ela, na esperança de que ela
entrasse na faculdade. Essa menina hoje é engenheira formada por uma
universidade federal, mas a mãe e a tia brigaram e ela nunca disse um
“obrigado”. A mulher, naturalmente, se ressente até hoje, dizendo coisas
do tipo “tudo que eu fiz por essa menina”. Carnegie está certo: pessoas
que reconhecem esse tipo de ajuda são raras. Esqueça. Dê pela alegria
de dar. Pense que com, alta probabiliade, a outra pessoa não vai
agradecer. Evite aborrecimentos como esse e comece a viver, como diz o
título.
A Parte VI é dedicada à fadiga, como descansar mais, sob o argumento de
que muito de nossa ansiedade é causada pelo desgaste físico, mas os
capítulos não trazem nada de relevante. A Parte VII, última, traz um
compêndio de histórias pessoais, e serve como apanhado geral.
No geral, Como Evitar Preocupações é um livro muito extenso com poucos
pontos interessantes — mas profundos. É bom você ler, mas saiba que é
preciso sempre filtrar os pontos que interessam. O que é bom para
agradar a pessoas diferentes; para mim, o que teve impacto foram os
capítulos sobre religião e ingratidão, enquanto que para o leitor pode
ter outro sentido.
Uma resposta em “Resenha: Como Evitar Preocupações e Começar a Viver”
Obrigado pelo tempo e por compartilhar sua opinião sobre este livro.