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Resenhas de livros

Resenha: Subliminar

Há algum tempo, resenhei aqui O Poder do Hábito, um livro que
tenta mostrar como hábitos, ações automáticas que não envolvem nosso
pensamento, regem nossa vida. O livro é bom, mas eu reclamei da falta de
explicações científicas. O Poder do Hábito não é um livro que discute
o inconsciente, preocupando-se apenas em mostrar histórias.

Mas existe um livro científico sobre o inconsciente, e esse é
Subliminar, de Leonard Mlodinow.

Mlodinow também dá exemplos, mas eles são apenas argumentos em favor de
ideias científicas. Aprendemos, por exemplo, que pessoas praticamente
cegas são capazes de detectar emoções nos rostos das pessoas; a evolução
nos treinou a usar o máximo poder cognitivo para processar rostos de
outros humanos, uma habilidade imprecindível numa espécie social.
Aprendemos também que, para poupar energia, o cérebro “fabrica” imagens
e lembranças; com o rápido movimento dos olhos produzindo imagens
borradas, restam lacunas que o cérebro tem de preencher. Fato semelhante
acontece com a memória, que não é, segundo pesquisas recentes, um
arquivo de computador intacto dentro de nossa cabeça. Memórias podem ser
plantadas, e vítimas de estupro podem reconhecer o algoz errado. Nem
tudo de que nos lembramos aconteceu.

A premissa do livro é clara: o inconsciente nos domina. Grande parte das
nossas ações não são controladas por nós. Mlodinow, um cientista por
formação, faz questão de provar cada ponto, e exibir seus argumentos com
claridade. Além disso, o fato do autor ter formação em Física, uma área
estrangeira ao tema do livro, nos faz pensar que estamos aprendendo
neurobiologia com ele.

(Mlodinow ter sido colaborador no roteiro de MacGyver também
não é ruim.)

O livro tem duas partes; na primeira, mais curta, o autor discute a
alternância de ações conscientes e inconscientes (e como, afinal, se dá
essa troca). A colaboração entre mecanismos é que governa nossa
complicada atividade cerebral.

A segunda parte tem foco no aspecto social: como vivemos em sociedade de
maneira subliminar. Um dos exemplos sensacionais envolve uma pesquisa de
Harvard onde um grupo de mulheres asiáticas fez um teste de matemática,
depois de responder um questionário. Um grupo respondeu perguntas sobre
sua origem, enfatizando o fato de serem asiáticas (e portanto “boas em
matemática”), outro respondeu perguntas sobre temas femininos (e
mulheres, segundo o estereótipo, são “ruins em matemáticas”), e um
terceiro grupo, de controle, respondeu perguntas neutras. Surpresa: as
mulheres que foram induzidas a se ver como asiáticas foram melhores que
o grupo de controle, que foi melhor que o grupo que se indentificou
apenas como “mulheres”. Conclusão: mulheres que vivem numa sociedade que
diz que ciências exatas é coisa de homem inconscientemente são afetadas
pelo preconceito.

Subliminar é muito bem escrito, tem muitas histórias interessantes (e
com referências) e faz você pensar. Você deve ler.

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Por Fábio Fortkamp

Pai do João Pedro, Marido da Maria Elisa, Professor do Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade do Estado de Santa Catarina, católico devoto, nerd

Uma resposta em “Resenha: Subliminar”

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