Querido Arthur,
Você e eu nos conhecemos tão pouco, mas talvez seja por causa da sua
pouca idade. Você mal fez nove meses; como esperar que me conheça?
Você, quando crescer, talvez não vai lembrar do domingo passado, Dia dos
Pais, 2013. Talvez agora já não lembre do domingo passado (eu realmente
não sei como é a memória de um bebê, Arthur). Mas eu me lembro. Você
estava no colo de alguém, e quando eu fui brincar com você, você quis ir
para o meu colo, e dali não quis mais sair. Passamos uma meia hora
juntos, talvez um pouco mais. E assim nos conectamos.
Veja, você é filho do meu primo, mas é mais que isso. Vamos centrar uma
árvore genealógica em mim. No topo estão meus avós, depois os seus
filhos (meus pais e tios), depois os netos, nível no qual eu e seu pai
estamos. Na próxima linha, só existe você. Ou seja: num universo
centrado em mim, você é a Próxima Geração. É o primeiro filho de um
primo meu, o primeiro sobrinho-neto do meu pai, o primeiro bisneto dos
meus avós. Você tem responsabilidade, Arthur, mas você dá conta.
No dia anterior ao Dia dos Pais, perdemos alguém muito próximo à nossa
família, uma pessoa muito querida que vai fazer falta. Ficamos todos
tristes. Mas quando você chegou… todos riram. Você faz todos rirem.
Você faz os seus bisavós (meus avós paternos) rirem como eu nunca vi.
Você despertou um lado no seu bisavô que eu não conhecia; no meu colo,
você brincou com ele, riu quando ele se escondeu atrás de mim (e logo em
seguida reapareceu). No meu colo, você sorriu quando a sua bisavó falava
com você, e fez ela sorrir também, um sorriso de felicidade pura, de ver
a Próxima Geração (a quarta, a partir dela). Você tem esse efeito.
Juntos, passeamos pela casa na qual seu avô (meu tio) e seu tio-avô (meu
pai) cresceram. Nós tocamos as folhas do jardim, cheiramos as flores,
observamos a terra. Você fazia uma cara de espanto a cada nova sensação,
e, claro, queria tocar tudo! Subimos no segundo andar da casa e vimos o
quintal de cima (será que você já viu o mundo de tão alto, Arthur?).
Exploramos a coleção de discos da sua bisavó (que pena que não chegamos
nos livros.) Eu lhe segurei para você tentar andar pela casa.
Pode parecer tolo, Arthur, mas acho que lhe ajudei a explorar o mundo.
Muito já se fala no seu futuro (claro, porque, como falei, você é o
futuro da nossa família). Querem saber o que você vai ser, como vai ser.
Não se preocupe com nada disso, Arthur. Apenas seja. Continue fazendo o
que você já faz, trazendo alegria. Nós sempre precisamos.
Um beijo,
-Fábio