Já escrevi que a nossa cultura de não pagar nada por software não se
sustenta. Destaquei dois pontos principais: programar é um trabalho como
outro qualquer, que merece remuneração; e a falta de incentivo
financeiro leva a softwares ruins e que são abandonados. Dois exemplos
no extremo oposto de espectro de preços, o Microsoft Office e o
Photoshop (sim, caro leitor brasileiro, tem gente que realmente compra
uma licença desses produtos) estão aí há décadas (curiosamente, pesquisa
na Wikipedia revela que os dois produtos foram lançados em 1990). Sei
que essa baixa quantidade de exemplos não é suficiente para provar meu
ponto, e existem muitos softwares caros que foram esquecidos. O preço
não é uma garantia, mas ajuda.
Coisa diferente ocorre na Web. Eu estava pronto para escrever que uma
das razões é a sua pouca idade, mas descobri que a rede mundial de
computadores (a tal WWW) foi lançada em 1991. Uma excelente base de
comparação, portanto. Desde então, vimos uma grande quantidade de
serviços surgirem: Geocities, Cadê?, Blogger, Altavista, MySpace, Orkut,
Zipmail, Fotolog, HPG, Delicious. Alguns desses sites ainda sobrevivem,
moribundos, mas eles não tem relevância alguma. E o que eles têm em
comum? Sim, o leitor pode me chamar de chato, mas todos sabemos: eles
eram grátis.
Como isso acontece? Maciej Ceglowski, que se cansou de ter serviços
abandonados e criou o Pinboard, um serviço pago de favoritos, deu a
dica: para serviços grátis, mais usuários significa mais gastos. E de
onde vem a receita para cobri-los? Da santa provedora de toda a
internet: publicidade. Você usa o Gmail porque o Google exibe os
anúncios e vende o seu perfil de consumidor. Facebook, Instagram e
Twitter fazem o mesmo. E se os custos sobem demais, aumenta a presença
da publicidade (notou como a quantidade de posts patrocinados no
Facebook e no Twitter tem aumentado?). Até que tudo fica tão saturado
de propaganda que você se cansa e para de usar. Tudo isso já aconteceu e
vai acontecer de novo.
Claro, muita gente está ciente desse problema e lançando as suas
alternativas pagas (o Pinboard foi um exemplo). O App.net começou
como um clone pago do Twitter e está se tornando uma plataforma social
muito mais completa (já tem até armazenamento de arquivos
Dropbox-style); e o melhor de tudo é que, pelo serviço ser pago, o
número de usuários não pode explodir, então o sistema em tese pode ficar
num balanço financeiro permanente (e como eles esperaram ter um certo
número de usuários pagantes antes de lançarem, não tem de aumentar a
receita para cobrir os investimentos iniciais). Depois do fim do Google
Reader (quando a empresa simplesmente anunciou o fim do serviço,
provavelmente porque não está conseguindo sustentá-lo), estão surgindo
(ou se popularizando) alternativas como Fever, NewsBlur,
FeedWrangler. Talvez esses serviços não durem 20 anos, mas pagar por
eles é uma maneira de evitar que as coisas simplesmente caiam no
abandono ou sejam completamente desligadas (sem contar que serviços bem
administrados devem ser capazes de operar conforme o número de usuários,
ou seja, cada usuário paga o seu custo).
Portanto, queridos leitores, vamos ser usuários conscientes. Aproveite o
Facebook e o Gmail porque eles não devem durar muito. E saiba o preço
que você está pagando (a sua privacidade).
Como usual, muita gente inteligente, como Ben Brooks e Marco
Arment, já escreveu sobre esse mesmo tema, de maneira muito superior.
Vale a pena também ler essa análise da necessidade de uma
alternativa ao Instagram e esse relato de um funcionário do Google
decepcionado com o futuro da empresa.