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Dias bons, dias ruins

A pedido de meu orientador e como preparação para meu trabalho pesado no doutorado mais à frente, estou escrevendo um relatório revisando as técnicas de medição de propriedades interfaciais de fluidos (eu sei, você agora quer largar tudo o que está fazendo e começar a estudar para o vestibular para ser Engenheiro Mecânico e fazer algo tão excitante). Na semana passada, dediquei um dia inteiro a isso, e devo ter escrito no máximo uma página — ruim, ainda por cima. Não conseguia pensar em nada para escrever, e às vezes fiquei preso no meio de uma frase como poucas vezes eu fiquei. Pode ter sido por ser segunda-feira, ou por estar me sentindo meio resfriado, ou pela minha cabeça simplesmente não conseguir me concentrar, mas aquele foi um dia perdido.

Dois dias depois, numa quarta-feira de manhã, resolvi continuar a tarefa, e os resultados foram outros. Eu sabia perfeitamento o que devia ser escrito, onde procurar as informações, e estava conseguindo traduzir rapidamente as minhas ideias em frases. Preenchi praticamente todas as lacunas que tinha deixado na segunda e, embora não tenha escrito muito mais, o texto de uma maneira geral ficou bem melhor. Depois de uma manhã produtiva e de retornar da pausa para o almoço, eu sabia qual artigo eu tinha de ler a seguir, de qual informação eu precisava, e o que mais estava faltando. Terminei o rascunho do capítulo (para atiçar ainda mais a sua curiosidade, sobre tensão interfacial dinâmica) naquele mesmo dia.

Este pequeno texto é apenas um lembrete a mim e a vocês de que existem dias ruins e dias bons. É claro que todos temos tarefas administrativas que têm prazos apertados, mas, para trabalhos criativos que têm prazo mais longo (mais de um mês, eu diria), não adiantar forçar a sua cabeça a entrar num assunto quando ela não quer. Eu me conheço e sei que num outro dia eu conseguiria produzir muito mais (como aconteceu nesse caso, com um intervalo de apenas dois dias), mas mesmo assim na segunda-feira eu insisti em ficar olhando para a tela, sem ideia de qual tecla apertar a seguir, apenas para me ater a meu planejamento (essa minha falta de habilidade em flexibilizar planejamentos é um de meus grandes defeitos).

Eu poderia ter feito muitas coisas. Poderia ter lido algum paper (uma atividade básica de um estudante de doutorado), ou poderia ter me dedicado a algum outro projeto (por exemplo, sempre tenho muitas ideias de classes e pacotes de LaTeX que quero criar para me ajudar a escrever meus documentos). Ou eu poderia ter ido à biblioteca e lido algum livro que me interessa. Ou poderia ter tirado a tarde para aprender alguma coisa a mais sobre Python, a linguagem que vou usar para meus códigos no doutorado. Ou poderia até ter organizado minhas gavetas. Atividades menores mas que sempre ajudam na rotina do trabalho ou têm resultado a longo prazo. É claro que você não pode dedicar todos os dias a esse tipo de atividade mas, periodicamente, dedicar algumas horas a isso pode ser bastante produtivo.

Quando você é organizado, interessa-se realmente pelo que faz e administra prazos, sabe que sempre existem aqueles dias nos quais você está de bom humor, dormiu bem e se sente energizado, e é aí que o trabalho acontece. Vamos todos aprender então a administrar melhor os dias ruins e aproveitar para riscar coisas da nossa lista de “algum dia/talvez”, aquela lista de coisas que você quer fazer quando tiver tempo.

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Por Fábio Fortkamp

Pai do João Pedro, Marido da Maria Elisa, Professor do Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade do Estado de Santa Catarina, católico devoto, nerd

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